Um ano atrás....
Mesmo em pleno verão na cidade mais conhecida como: Cidade do Sol ou pequeno Hawaii brasileiro, no nordeste do Brasil, em uma cidadezinha na pata do elefante. Vivienne, não se sentia tão animada quanto as outras pessoas ao seu redor. Muitos corriam pelo calçadão mais movimentado daquela zona sul. Exibindo seus físicos bronzeados e definidos. O brilho de seus corpos refletiam ao sol como joias cintilantes. Outros faziam Yoga no gramado, bastante concentrados. Eles não pareciam nada para ela, apenas fitava o além deles, como se pudesse ver através deles e ir direto para as paisagens daquele local. Ela estava de volta aquele Estado que praticamente era esquecido por todos os outros. Ele se encontrava hoje, como dá última vez que o viu, há seis anos atrás. Cogitava que deveriam ser as mesmas pessoas que corriam naquele mesmo calçadão. Era uma cidadezinha parada, ela sabia disso. Lugar no qual os hábitos tornavam-se costumes e assim por diante. As casas de Nova Amsterdam, na zona Oeste da cidade, ganha uma arquitetura colonial, no tempo em que os holandeses, em 1633, tomam a cidade das mãos dos portugueses e a rebatizam de Nova Amsterdam. Aproximando-se da zona Sul, o ar moderno e despojado acaba tomando cor e uma paisagem verde é sempre vista. O clima da cidade era uma mistura de tropical chuvoso e um verão mais quente do que as caldeiras do inferno. No inverno a temperatura decaía um pouco, mas ainda permanecendo o velho calor de costume. Devido à localização no litoral, é perceptível a maritimidade que gera uma grande amplitude térmica. Possuindo, assim, o seu título de: Cidade do Sol, em função da elevada luminosidade solar. Desse calor, Vivienne não sentia falta, pelo contrário, a fazia desejar qualquer lugar, exceto aquele.
Nesse exato momento, as duas irmãs encontravam-se a oitenta por hora no velho Sandero vermelho da irmã que estava um pouco desgastado, ouvindo uma canção nostálgica. Ela sabia que precisava ser trocado, mas continuava a repetir que faria isso depois. Alegava que ele ainda executava com precisão suas atividades. Vivienne desistiu de dialogar sobre isso a muito tempo com a mais velha, sabia que era uma batalha perdida.
Ela bocejou, não havia dormido bem na noite anterior no hotel em que ficara, um turbilhão de pensamentos a incomodavam sempre impedindo que pudesse ter uma noite digna. Sempre tirava alguns cochilos aqui e ali. Às vezes, conseguia dormir quatro horas seguidas, porém, nunca mais conseguiu ter às oito horas de sono que possuía quando era adolescente. Sabia que aqueles haviam sido bons tempos, mas que nunca voltariam. Ela dava de vez em quando suspiros pesados como o vento. Andava fazendo muito isso quando refletia sobre sua vida ou algo a desgostava.
Nesse momento, ambas situações estavam ocorrendo. Catherine percebeu a tensão no corpo da irmã. Sua mão estava com punhos cerrados, os nós dos dedos esbranquiçados, apertando a velha calça jeans surrada do colegial que ainda lhe servia perfeitamente, talvez estivesse mais folgada do que antes, observou a outra. Ela sabia que Vivienne não havia contado toda a história para ela. Estava omitindo muitos detalhes, detalhes importantes. Porém, não pressionaria a irmã, no tempo certo ela contaria como sempre fez quando eram crianças. Sempre foram bastante unidas, até mesmo quando Vivienne passou a morar por seis longos anos em Curitiba, costumavam dizer que eram elas contra tudo e todos! Uma sempre estava disposta a proteger a outra, mesmo que acabassem ambas de castigo, não se separavam.
Vivienne era a mais ingênua das duas, acreditava demais nas pessoas e acabava sempre fazendo a vontade de todos ao seu redor. Era muito tímida e reservada, muitas vezes escondendo seus verdadeiros sentimentos. Não possuindo muita malícia, porém, quando se tratava da irmã, conseguia ser mais leve. Catherine por sua vez, seu caráter contrastava com o de Vivienne, pois é inteligente, alegre e sincera. Mas possui uma língua solta e não levava desaforo para casa. Sempre conversava com a irmã, dizendo para ser livre e fazer o que queria fazer, ninguém poderia julgar por suas escolhas e se julgassem, que ela não se importasse. Mas ela não conseguia ser assim, ao menos, não antes. Se importava e não gostava de decepcionar ninguém. Porém, todas essas informações eram de uma antiga Vivienne. Ninguém, nem mesmo a própria Vivienne sabia se reconhecer agora.
- Sabe o que eu odeio? - começou Catherine com os olhos atentos na estrada despertando a mais nova de seus pensamentos.
- Fora filas enormes, pessoas suadas, finais de filmes tristes, pipoca, semáforos lentos, computador lento e qualquer outra coisa lenta, não, não sei. O que mais você odeia que eu não citei? - ela disse tentando parecer animada.
- Foi uma boa descrição, mas faltou incluir esse tipo de situação - apontou com o polegar para a janela de seu Sandero.
Vivienne não conseguia ver nada e teve que desencostar do banco e olhar na direção que a outra apontava. Era outro carro com vários homens universitários gritando e bebendo cerveja. Estavam todos sem camisa e com óculos de sol, deveriam ir ou vir da praia. Sorriam debilmente, pediram para Catherine passar o seu número de telefone e da outra garota que se encontrava com ela.
- Rápido pegue um papel Enne - disse a mais velha, fazendo Vivienne franzir o cenho em total dúvida.
- Achei que odiava esse tipo de situação - falou confusa, enquanto abria o porta luvas e procurava um papel com uma caneta. Era difícil encontrar qualquer coisa no carro da irmã, estava repleto de sacolas de comida, lenços e lá no fundo um bloco de notas com uma pequena caneta azul. - pronto achei!
Vivienne não fazia ideia do que a irmã iria aprontar. Ela sabia que Catherine era assim, fazia o que dava na telha e quando queria. Uma hora poderiam estar na estrada com caminho certo para ver um bom filme e no último instante, poderiam estar em algum lugar no meio do nada. Catherine não se restringia a nada. Queria sua liberdade sempre plena e ao máximo. Era desapegada e impulsiva, totalmente diferente de Vivienne.
- Ótimo, agora escreve. - dizia enquanto sorria descaradamente para o outro carro e prestava atenção na estrada.
Vivienne fez o que havia sido pedido. Ela dobrou o papel e passou para a outra que aproximou mais o carro do outro veículo. O motorista do automóvel preto começou a urrar com seus outros amigos. Catherine deu o bilhete para o rapaz no banco do carona que segurou de forma sedutora sua mão e assim afastou o carro. Jogando rapidamente um beijo, ligou o pisca alerta para esquerda, tomando a rua e pisando fundo no acelerador. Os rapazes não entenderam, mas estavam confiantes que haviam pego o número de ambas e deixaram para lá. O mais bronzeado do sol, que havia pego o papel, começou a desdobrar e leu:
Vão se ferrar seus idiotas!
- Cara, elas esnobaram a gente - disse um deles.
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Segredos | Elliot Hells
RomanceApós passar alguns anos vivendo em Curitiba no Paraná, Vivienne Lamartine Hoffman volta para a sua terra natal. Um estado colonizado pelos antigos holandeses que mudaram seu nome de Natal para Nova Amsterdam. De volta a cidade em que nasceu fugindo...