Vivienne fala...
Quando eu tinha meus oito para nove anos, lembro que algumas de minhas amigas falavam muito sobre filmes de terror. Assistir aqueles filmes assustadores escondidos dos pais eram as melhores histórias para se contar aos colegas. Algumas ficavam admiradas, achando aquela garota bem ousada, uma heroína. Eu não tinha nenhuma aventura como essa, não fazia muitas coisas "ousadas". Muito pelo contrário, nunca tinha assistido um único filme de terror na minha vida. Porém, eu também queria compartilhar alguma coisa com elas, estava na "moda" assisti-los.
Naquele mesmo dia quando cheguei em casa falei com Catherine, minha irmã, dois anos mais velha do que eu. Contei tudo o que as garotas da minha sala falavam e como era moderno assistir esses filmes. Eu achei que ela riria na minha cara e diria algo como: "Você é tão boba Enne, deixando se levar por garotas da sua sala? Que desperdício". Mas não foi isso que ela fez. Simplesmente olhou para os lados como se quisesse conferir que não havia ninguém nos ouvindo e falou:
- Vamos ver um filme de terror hoje à noite, escondido da mamãe e do papai!
Eu fiquei tão animada que não consegui parar de pular e segurar suas mãos, dizendo repetidas vezes: Vamos assistir um filme de terror! E ela dizia para eu falar mais baixo ou seríamos descobertas antes mesmo de assistir. Quando mamãe e papai dormiram, Catherine, me chamou para irmos para a sala.
- Você vai querer mesmo assistir Enne ou irá amarelar? - indagou-me.
- Claro que vou assistir! - eu falei tão confiante que quase não me reconheci. Estava decidida a fazer isso.
Saímos de nosso quarto em silêncio e passamos pela porta do quarto de nossos pais que estava fechada, como sempre, senti um grande alívio. Seguimos nas pontas dos pés em direção a sala. Estávamos tão nervosas de sermos descobertas que um simples suspiro mais alto era motivo de fazer um: Shh... Ela pegou a primeira fita VHS que estava na categoria de filmes de terror e colocou. Meu pai tinha uma mania de deixar tudo em sua devida ordem e essa era proibida para as crianças da casa. Depois que colocamos, não consigo recordar sobre o que era realmente o filme. Mas falava de um boneco malvado. Eu fechei os olhos em muitas partes, até que Catherine preferiu desligar. Foi nesse momento que tomei raiva do meu cabelo ruivo alaranjado, pois era da mesma cor daquele boneco. Ela me contou algumas cenas, que eu havia fechado os olhos, para que eu pudesse compartilhar com as minhas amigas.
Percebo só agora, como fiz muitas coisas na minha vida para tentar agradar os outros, antes de mim. Porém, se eu soubesse que viveria como em um filme de terror, teria assistido cada cena daquele filme sem tapar os olhos com as mãos, que ingênua eu fui!
O que eu sempre gostei foram das obras de Shakespeare, adoro sua narrativa, o enredo e os conflitos. Sempre fui de ler um livro e refletir sobre ele à fio, de fazer um paralelo com a literatura e a vida real. Mas dessa vez eu não refletia sobre a peça que acabei de assistir com Kitty e sim a cena que me deparei no final da peça, naquela rua atrás do teatro Dael. A tal, Elizabeth Heinz beijando tão avidamente a outra mulher. Isso só me recordou as palavras da minha irmã: Ela tem aquele olhar... de quem faz sexo gostoso. Eu não tenho nenhum problema à respeito do gosto sexual da minha irmã. A muito tempo ela me disse que não importava se gostasse de um homem ou de uma mulher, desde que fosse amor, não haveria problema. Sempre fomos muito abertas sobre isso. Principalmente Kitty que nunca havia correntes que a impedissem de fazer o que queria ou de fazer o que não queria. Ela sempre foi espirituosa. Sempre foi livre de verdade. O taxista havia chegado no condomínio e eu não tinha percebido o quanto havia sido rápido. River me deu boa noite e deixou o homem me levar até o bloco. Entreguei o dinheiro e desejei-lhe boa noite. Percebi como as flores da lua estavam vivas agora, enquanto a maioria das flores dos outros blocos dormiam ao luar, as flores do bloco Noir, exibia seu esplendor com nobreza. Estava lindo de se admirar. Observei durante um tempo e caminhei para dentro, desejando uma boa noite para outro rapaz da recepção, pois o garoto moreno da tarde, havia ido embora e fora substituído. Esse me deu as boas-vindas, falando que seu nome era: Matheus Fernandes. Era forte, com um jeito atrapalhado engraçado. Os cabelos acastanhados estavam penteados para trás. Agradeci e me dirigi para o elevador. Quando estava indo para o elevador duas mulheres entraram e eu não pude pedir para esperarem. Elas iam para o trigésimo andar.
![](https://img.wattpad.com/cover/303601722-288-k598664.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Segredos | Elliot Hells
RomanceApós passar alguns anos vivendo em Curitiba no Paraná, Vivienne Lamartine Hoffman volta para a sua terra natal. Um estado colonizado pelos antigos holandeses que mudaram seu nome de Natal para Nova Amsterdam. De volta a cidade em que nasceu fugindo...