Por volta das quatro horas e vinte e um minutos da madrugada, Vivienne já não conseguia mais fingir que estava dormindo, não havia rugidos da vizinha para atrapalhar seu sono, não havia gemidos de garotas desconhecidas do outro lado, apenas fantasmas do passado invadiam sua mente a impedindo de dormir o sono dos justos. Kitty, estava deitada do seu lado em um sono pesado que não seria despertada fácil. Ela resolveu sair do seu quarto e ir para a varanda da sala. A brisa leve pela madrugada, com pequenas gotas de chuva acalmavam o seu animo. Pode apertar seu corpo com seus braços, que brisa suave, pensou. Aquela leve borrifada de ar provocavam-lhe arrepios.
- Não consegue dormir pequena? – a voz da sua vizinha a retirou dos seus devaneios assustando-a.
- O que você é, uma stalker por acaso? Enfim, o que isso teria a ver com você, o fato que eu consiga dormir ou não? E não me chame assim – replicou de forma áspera. – Por acaso, acha que a perdoei?
- Ora, achei que havia sido gentil. Uma parte de mim é bem sensata às vezes, entretanto a outra pode ser... – deu uma pausa que Vivienne passou a fitá-la. – incompreendida, eu diria. Bem, isso não vem ao caso, e claro que não sou stalker, devo ter dito naquela tarde com um dos meus discursos monótonos que a praia era pública e aquela baboseira toda. - revirou os olhos.
- Você tem uma forma um tanto estranha de falar sobre si. – franziu o cenho a ruiva.
Elizabeth estava com uma bebida desconhecida por Vivienne, que apostou ser algo alcoólico, combinaria mais com a atriz está bebendo a essa hora.
- Devo ter mencionado que possuo lados complicados. Então... – continuou. – O que a faz não dormir? Você disse que não dormia por minha culpa e os... – outra pausa.
- Gemidos escandalosos produzidos por suas inúmeras amantes descompromissadas? - Vivienne explicava todo o seu tormento - era isso que iria falar?
Elizabeth sorriu de lado e tomou um gole do que bebia para então falar:
- Exatamente, minhas amantes sonoras. Agora – apontou para o apartamento atrás de si. – não há nenhum ruído. Temo que não sou a responsável por sua insônia, - fingia um falso pesar artístico e rapidamente voltando aos olhos predadores e curiosos de sempre - então... quem é? – fitava a outra com curiosidade.
- Quem é o quê? – replicou a ruiva na defensiva naquela varanda que dava para ambas conversarem.
- O responsável por fazê-la ficar acordada às quase quatro e trinta e cinco da madrugada? – disse ao fitar a hora no relógio do celular.
- Não é nada – disse baixinho.
- Nada... para mulheres, o nada é um oceano turbulento. – Elizabeth a fitou com curiosidade – palavra perigosa.
- Já disse que não era nada. Veja, você mesmo está acordada uma hora dessas também. – Vivienne apontava para o óbvio.
- Touché. – Liz levantou os braços como forma de se render – Perdi o sono, sabe, o tapa que você me deu ainda ficou ardendo por horas. - passou a esfregar o rosto no local da batida.
- E de quem é a culpa por arder tanto? Você só levou o que merecia.
- Ora como você é malcriada pirralha, foi só um beijo. Nunca foi beijada? – lançou seu olhar mais cafajeste que tinha.
- Pirralha? - Sim, Elizabeth sabia que o rosto da ruiva estava mais vermelho do que qualquer pimenta de raiva agora. Provocá-la era um de seus maiores dons, talvez. - Não sei como ainda perco meu tempo com você. Você me deixa com um gosto ruim na boca. – revirava os olhos agora.
- Acho que não fui eu que beijei nessa segunda vez. Nunca deixo com tal gosto. Vai me responder ou não? – voltou a fita-la com ar ainda mais curioso.
- O que quer que eu responda?! – Vivienne começava a perder sua paciência.
- Nunca foi beijada? – insistiu em tom provocativo.
Vivienne fez uma pausa para proferir:
– É lógico que já fui beijada! – disse de forma baixa, porém ainda audível pela outra. – mas não por uma mulher.
- Deveria, é sempre bom experimentar novas sensações. Ajuda a relaxar e parece que precisa disso. Parece que precisa de muitas coisas.
- O que a faz pensar que sabe o que preciso para relaxar? – Vivienne não entendia o motivo de se irritar tão fácil com aquela mulher a sua frente.
- Porque parece que nem você sabe, enfim... não devia ficar remoendo tanto aquele beijo, não foi tão bom assim, já beijei mulheres melhores.- terminou de tomar aquele líquido no copo, soltando um sorriso malandro.
Elizabeth dizia se retirando da varanda e parecia ter conseguido o que queria, uma ruiva furiosa.
- Ora sua, você é realmente um ser... abominável! – ao longe podia escutar os risos da outra ecoando pela sua sala.
6 de fevereiro de 2018 - madrugada
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Após esse momento de hiato, voltamos aqui novamente, e como estamos o que acharam desse capitulo fresquinho de Lizz e Vivienne?
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Segredos | Elliot Hells
RomanceApós passar alguns anos vivendo em Curitiba no Paraná, Vivienne Lamartine Hoffman volta para a sua terra natal. Um estado colonizado pelos antigos holandeses que mudaram seu nome de Natal para Nova Amsterdam. De volta a cidade em que nasceu fugindo...