O letreiro estava apagado no " PRIK BAR" na verdade estava tudo fechado ainda, pois todos preparavam o bar que abriria ainda no final daquela tarde, conforme havia dito Sophie. Valquíria estava com Sophie e mostrou para a atendente atrás do balcão de bebidas uma foto de Jéssica Lins.
- Você conhece ou já viu esta mulher? – Valquíria indagou para a atendente do lugar. Uma mulher de rosto anguloso e queixo quadrado. Era baixa do que as duas mulheres a sua frente. Os braços descobertos, tom de pele quase negra e sobrancelhas grossas e bem desenhadas. Muito bonita por sinal. Os cabelos negros, eram ordenados por cachos revoltos. Estava limpando uma sequencia de copos e se inclinou no balcão para observar a foto da mulher.
Jéssica Lins, em vida era extremamente linda, olhos azuis, tez alva, um sorriso brilhante e alegre. Cabelos longos e negros, ligeiramente relembrava a policial ali na frente. A jovem atendente de nome, Raquel, começou a falar:
- Lembro dela, esteve aqui ontem a noite, pediu uma mimosa para a garota com quem estava e tomou um uísque 18 anos. Não demorou muito com essa moça, depois repetiu as rodadas, com... acho que com seis ou sete jovens diferentes. – explicava a mulher.
- E alguma delas era essa pessoa? – Valquíria mostrou a foto de Carmen, a esposa da vítima.
- Não, não! Já a vi com essa mulher algumas vezes, porém, quando estavam a sós, ela nunca encontrava outras mulheres. Ao que parecia, essa aí era a sua esposa. Parecia um casal feliz quando estavam juntas. Mas, quando ela aparecia sozinha, sempre encontrava com várias mulheres. – Explicou a atendente.
- Obrigada. – Dizia Valquíria.
Valquíria, observou que na rua não possuía as câmeras e novamente, seu trabalho estava sendo mais complicado por falta desse acesso, um ponto cego. O segurança disse que a viu entrar no bar, porém, não a viu sair, pois era hora de fazer outra ronda aos arredores. Seu álibi era a confirmação de ponto eletrônico e funções. A cada nova atividade que eles deveriam desempenhar era avisado.
- Quando voltei da ronda, fiquei na porta até fecharmos e ela não saiu. No caso, segundo a minha folha de ponto, ela deve ter saído do bar entre 20 horas e 20h30. – Dizia o segurança, um rapaz musculoso e intimidador.
- Por que você está assumindo outras funções além de tomar conta da porta? – indagou Sophie.
O segurança suspirou e falou em tom baixo.
- Há alguns dias houve uma baixa de pessoal, todos estão ficando com medo. Antigamente, cada pessoa exercia uma função. Porém, ocorreu relatos de espancamento, alguns homofobicos voltaram a atacar as pessoas daqui, tentamos manter a calma, afinal, não passavam de sustos, xingamentos. Agressões verbais, entende?
Ela fez que sim com a cabeça e ele continuou.
- Depois começaram a pegar algum símbolo LGBT e queimar na frente do estabelecimento com dizeres como "morram!". Tomamos uma atitude, e vigiamos ainda mais quem fazia baderna na rua, isso acabou assustando quem quer que fosse. O PRIK BAR sempre foi conhecido por dar emprego para as pessoas LGBTQIA+. Em épocas anteriores, tínhamos dificuldade de encontrar um trabalho que pagasse dignamente. Então, é um trabalho acolhedor. Mas devido as agressões, não só os clientes estão em risco, como os funcionários. Raquel e eu somos os mais antigos daqui e temos uma dívida com esse estabelecimento por trazer nossa dignidade de volta. Então, resolvemos assumir mais algumas funções. Alguns com pouco tempo de empresa pediram demissão após o ocorrido. Todos estão temerosos, mas não fazemos o alarde. - explicava o segurança sempre cauteloso com quem poderia ouvir a história.
- Vocês registraram um Boletim de Ocorrência? – inquiriu Valquíria.
O segurança riu tristemente.
- Fazíamos um boletim de ocorrência a cada ano e ninguém nunca ligou para a gente, somos só ignorados pelas forças policiais. Então, nos últimos oito anos paramos de fazer e tentamos resolver nossos próprios problemas até agora. Então, vocês são as primeiras pessoas que comparecem aqui! - foi sincero. - Normalmente os policiais homens ignoram esse local.
- Entendemos bem como os detetives podem agir, mas Valquíria é diferente e estamos com o caso! – respondeu Sophie tentando dar um apoio para aquele homem.
As mulheres se dirigiram para o carro de Valquíria e ela comentou que a esposa da Carmen a estava traindo.
- Isso a coloca na linha de novo, uma esposa traída com sede de vingança. - falava a detetive. - ou parceiras aleatórias irritadas.
Van Dahl as conduziam para o departamento de homicídios, primeiro saber os resultados das substâncias coletadas por Sophie e em segundo lugar, iriam receber ainda hoje o notebook da vítima. Valquíria iria tentar vasculhar o histórico de busca para ver o que de fato a outra andava fazendo. Chegando lá cada uma foi para suas respectivas tarefas. Aquele dia de "folga" transformou-se em mais um dia de trabalho para as duas mulheres. O capitão do departamento havia pedido desculpas para ambas, havia dado o dia de folga e tinha que solicitá-las. Ele disse que as compensariam depois e Valquíria sabia exatamente como, porém, deixaria seu pedido para não arquivar o caso do misterioso comerciante de armas para depois. Agora seu foco era saber o assassino da vítima.
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Hello pessoas, como estão?
Infelizmente a LGBTfobia ocorre muito ainda, tanto no Brasil como fora dele. O Blog Fundo Brasil, expõe que cerca de 20 milhões de brasileiras e brasileiros (10% da população) se identificam como pessoas LGBTQIA+, e 92,5% dessas pessoas já relataram ter passado por alguma agressão, violência.
Segredos é uma história LGBTQIA+, na qual pretende-se que cada leitor(a) se identifique com algum personagem, cena ou momento, porém, além disso, pretende-se conscientizar, pretende trazer também as dores enfrentadas pela comunidade LGBTQIA+.
Assim, queremos dizer, você não está sozinho! Essa luta contra a LGBTfobia se trava junto.
Espero que você, caro leitor(a) que chegou até aqui tenha se sentido acolhido e abraço por cada capítulo já feito.
Att.,
Elliot H.
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Segredos | Elliot Hells
RomanceApós passar alguns anos vivendo em Curitiba no Paraná, Vivienne Lamartine Hoffman volta para a sua terra natal. Um estado colonizado pelos antigos holandeses que mudaram seu nome de Natal para Nova Amsterdam. De volta a cidade em que nasceu fugindo...