Distante dali, a passos lentos, se aproximava um senhor grisalho de cavanhaque também de igual tom. Um pescoço gordo e um olhar sereno. Era cumprimentado por alguns dos outros oficiais e policias ali no recinto. Ele apenas acenava para os outros sem demonstrar nenhuma reação. Caminha a passos firmes para a direção de Valquíria e quando ficaram frente a frente, esboçou um sorriso discreto.
- Valquíria... - o detetive mais velho do departamento de polícia havia chegado, Ian Venosa Deniz, que caminhava as portas para se aposentar, de quando em quando aparecia no trabalho. Afinal, haviam férias premium não tiradas ainda que poderiam expirar antes que ele se aposentasse. A arcada dentária estava um pouco amarelada, o esmalte dos dentes haviam perdido o tom branco devido o tabagismo de anos e que agora ele havia finalmente abandonado. Estava vestindo um terno cinza quando se dirigiu a médica:
- Olá doutora Sophie. - dirigiu-se a Valquíria agora - Fiquei sabendo que você está aqui a mais de vinte quatro horas. O que pensa que aqui é? Uma residência? Valquíria, já está mais do que na hora de ir para casa, - voltou a fitar Sophie - a doutora também precisa ir, aposto que ela deve ter sugado você durante cada momento que ficou aqui. Minhas duas melhores funcionárias e vocês estão quase morrendo de tanto trabalhar.
Sophie se sentiu como uma adolescente outra vez, por ter suas maçãs levemente coradas com o comentário do homem a sua frente. Fora Sophie, Ian, era a exceção dos homens. Talvez, por já ser um homem com mais experiência, não a importunavam. A tratava como uma igual. Valquíria olhou para o relógio no pulso, indicava cerca de vinte horas e meia do outro dia. Ela não fazia ideia que já havia se passado tanto tempo.
Olhou para Sophie como se pedisse por aqueles olhos tão cortantes um genuíno pedido de desculpas, por trás de um constrangimento. Ela sabia que estava a tempo ali, mas lembrou que também havia feito a médica ficar todo esse tempo. Ela se deu por vencida e regressou para a sala de Sophie no qual havia deixado a parte de cima do seu blazer preto. Sophie desligou todos os aparelhos e trancou sua sala como de costume e saíram do prédio, tentando evitar as partes que haviam mais pessoas. Próximas do estacionamento do departamento, valquíria ofereceu uma carona, afinal era o mínimo que podia fazer pela doutora e Sophie percebeu a intenção do pedido de desculpas no convite da carona. Ela sorriu de forma cúmplice, um sorriso pequeno, porém sincero. A detetive percebeu isso.
- Você não tem que se sentir responsável pelas mais de vinte quatro horas lá dentro - confessou a médica. - É o meu trabalho.
Valquíria deu de ombros, uma atitude rara presenciada por outras pessoas, mas para Sophie era a forma da outra demonstrar a cumplicidade que haviam entre elas naquele leve dar de ombros. Ali, fora do departamento sob os olhos de Sophie, ela conseguia baixar minimamente sua guarda
- Vejo você amanhã Sophie - disse a detetive entrando em seu civic grafite
Sophie acenou para a outra, quando sentiu seu celular vibrar, era uma ligação dos cabelos mais claros que ela já havia tido o prazer de conhecer. Diferente dos negros que estava habituada a quatro anos. Ela atendeu a ligação e conhecia aquela voz rouca, perguntando onde ela estava nesse exato momento. Sophie respondeu que acaba de sair do departamento e estava entrando sem seu velho nissan sentra vermelho.
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Segredos | Elliot Hells
RomansaApós passar alguns anos vivendo em Curitiba no Paraná, Vivienne Lamartine Hoffman volta para a sua terra natal. Um estado colonizado pelos antigos holandeses que mudaram seu nome de Natal para Nova Amsterdam. De volta a cidade em que nasceu fugindo...