Prólogo

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E mais uma vez o sol estava escaldante naquele ano de 2018, que era considerada como "pequeno Hawaii do nordeste brasileiro". Raramente o céu dava lugar para as bolsas carregada de chuvas, o vento devia estar agradável no lado de fora do fórum Ferdinand Dekker, ela não poderia saber nas próximas horas que se seguirão naquele recinto. Mesmo a sala sendo climatizada com ar-condicionado, ambos com temperaturas de 16º graus, Vivienne estava brotando de suor em cada junta do seu corpo. Suas mãos estavam suadas e frias, mordeu tantas vezes o lábio inferior que encontrava-se, minimamente, arroxeado. Era um habito que nunca acabaria. Os olhos atentos observavam cada gesto das pessoas dentro daquela sala retangular. À frente, por trás de uma mesa de madeira, encontrava-se a juíza, imponente, que vinha acompanhando seu caso. Era a segunda audiência, sendo esta a de instrução e provas. A primeira de conciliação era puramente para seguir o procedimento, foi isso que lhe contaram. Não havia como existir conciliação em um caso como o seu. A juíza lia alguns papéis sem externar uma única expressão, totalmente imparcial como mandava o figurino das academias de direito. Mas sabemos que a realidade é outra. 

A maioria dos juízes são parciais, quando eles não conhecem a outra parte, simplesmente, ficam alheios aos casos. Porém, era difícil naquela pequena cidade na zona sul da cidade do sol, ninguém se conhecer. Juízes antigos fizeram universidade com outros juízes e os filhos desses juízes cresceram juntos e os futuros filhos deles, devem crescer juntos também e simplesmente ferir o princípio da imparcialidade do juiz no ramo jurídico. Afinal, sabemos que no plano das ideias o direito é impecável, já a prática é mais sombria, como aquela amante obscura que você teria vergonha de dizer que trai sua esposa com ela. É assim que são as coisas, toda história requer dois lados, assim como o direito. Os olhos de Vivienne pousaram novamente na juíza.

A juíza, Miriam, mulher que caminhara nos seus 38 anos, era morena com cabelos castanhos escuros cacheados. Mineira de berço, estava naquela cidade por causa do emprego do seu marido, o qual haviam se conhecido a muito tempo atrás. Juntos tinham dois filhos. Uma garota de 20 anos, estudante de publicidade e um garoto de 16 anos terminando o ensino médio. Miriam tentava ser sempre o mais justa possível em seus casos, não deixando seu lado emocional falar, para ela, o que deveria ser defendido era o direito! E se o direito encontrasse em luta com a justiça, então ela lutava pela justiça. Na universidade, sempre fora totalmente contra a falta de hermenêutica de alguns juristas e professores. A norma não deveria ser lida e logo em seguida aplicada. Para ela, deveria ser interpretada e analisar o caso concreto para ver se esta deverá ser aplicada.

Vivienne sabia que demoraria um pouco para a audiência começar, a outra parte não havia comparecido ainda, apenas o advogado, que nesse momento encontrava-se fora da sala fazendo alguns telefonemas. Suspirou profundamente e levantou a cabeça fitando o alto teto branco. Havia voltado para aquela pequena cidade menos de um ano ou um pouco mais de um ano? Contudo, não era muito tempo, mas muita coisa já havia acontecido. Enquanto esperava a audiência começar, reviveu em sua memória o início em que retornou para aquela cidadezinha batizada pelos colonizadores holandeses por: Nova Amsterdam.

Segredos | Elliot HellsOnde histórias criam vida. Descubra agora