A primeira noite no apartamento de Henrique havia sido péssima para a ruiva. Não havia conseguido dormir, muito menos cochilar, achou que no apartamento de H² seria possível, mas estava enganada. Estava em claro desde à noite anterior. E a pequena e agitada "festa da vizinha", não havia colaborado para a sua noite. Vivienne não acreditava que tais paredes poderiam ser tão finas ou a garota de ontem gemia extremamente alto. Foi para a cozinha e procurou sachês de café expresso. Colocou na cafeteira elétrica e esperou por dois minutos. Enquanto esperava, seu celular tocou na bancada da ilha de mármore branco da cozinha. Teve medo de olhar quem era e ficou observando aquele aparelho metálico vibrar de longe até a ligação cair. Suspirou mais uma vez. Suspiros faziam parte da sua vida agora. Levantou e foi pegar a xícara de café e o tomou. Estava tão gostoso, sentiu que por um momento havia algumas alegrias que se podia contemplar. Mais uma vez o telefone vibrou contra o mármore da ilha. Resolveu encarar e ver quem era.
- Henrique? - suspirou em alívio e sabia que não seria o último suspiro da manhã ou do seu dia. Atendeu o telefone com a melhor voz que pode. - Oi H²
- Olá Vivi, vim saber como está sua estadia. - a voz de Henrique acalmou seu coração que dava batidas fortes contra seu peito. - Como passou sua primeira noite?
- Não muito bem - confessou, e ele logo quis saber o motivo. - Sabia que sua vizinha é uma atriz de teatro chamada, Elizabeth Heinz, e que parece ter uma vida sexualmente ativa?
Os risos de Henrique fizeram Vivienne afastar um pouco o aparelho de seu ouvido.
- Lizzy é terrivelmente devassa! Cuidado com ela, até mesmo você corre perigo se entrar no campo de visão dela.
- Eu não estou interessada, nem nela ou em qualquer pessoa na face da terra. Na verdade, eu não acho que encontrarei alguém que funcione comigo. - sua voz fraquejou por um momento.
- Vih, não fala assim. O Alex é um idiota por ter deixado você escapar assim, uma mulher tão perfeita como você é e ele ser tão babaca de não cuidar de você direito, te dando amor.
- Eu não falo do Alex, Henrique. Eu não quero saber do Alexander, não quero que ele me encontre. - ela começou a balbuciar. - Eu o quero longe da minha vida, quero que ele pague por tudo o que fez!
- ....! - Henrique estava preocupado, o tom da amiga era de angustia e medo. Dava para perceber no seu tom de voz - O que realmente aconteceu entre vocês? Você me ligou em uma noite pedindo para ficar na minha casa, porque vocês não estavam bem e que você queria se separar. Vih, você está me escondendo alguma coisa?
Vivienne ficou calada por um momento. Até que Henrique a chamou novamente.
- Não Henrique.
- Você jura?
- Não posso jurar!
Henrique queria saber o que estava acontecendo, Vivienne nunca escondia nada dele ou de Catherine, pelo contrário, não conseguia pensar por si própria e sempre pedia conselho para o melhor amigo e para a irmã. Ao menos era assim, que ele lembrava da amiga. As irmãs Lamartine conheceram Henrique quando tinham dezesseis anos e dezoito anos. Ele havia se matriculado na sua escola e era o garoto mais legal que teve o prazer de conhecer. Passou a confiar ainda mais nele, quando ele foi capaz de assumir sua bisexualidade. Ele tinha medo de perder a amizade da garota, mas era algo que nunca aconteceria. Ficaram inseparáveis desde então. Henrique começou a frequentar a sua casa, fez amizade com Catherine que o adorou desde o primeiro momento. Além de ser tratado como um filho pelo senhor e a senhora Lamartine. Guardar tudo o que estava acontecendo consigo, a machucava e machucava a todos ao seu redor. Mas e se machucasse mais se eles soubessem? Ela não podia deixar as pessoas que ama sofrendo, seguiria calada. Se ergueria sozinha!
- Vivienne Lamartine? - ele disse. Vivienne sabia que ele estava mais do que preocupado. O que deveria dizer?
- Está tudo bem Henrique, eu falo sério - sorriu como sempre fazia nessas horas, mas esqueceu que ele não podia ver seu sorriso. Então o desfez e forçou uma voz mais alegre. - Eu só estou sendo uma boba por estar numa crise de casamento. Essas coisas ocorrem sempre.
- É só isso?
- Claro, não se preocupe.
- Eu quero muito voltar logo, para conversarmos. Se você se sentir sozinha, me ligue. Você sabe que pode me ligar a qualquer hora.
- Eu sei.
Uma outra voz avisou que Henrique deveria se apressar para uma reunião que ele teria e começou a se despedir, mas que ainda tinham muito à conversar. Após, encerrarem a chamada, mais um suspiro saiu de sua boca e tinha certeza que não seria o último. O celular tocou mais uma vez e ela achou que era Henrique, quando viu o nome no visor, soltou de repente.
- Alexander... cedo ou tarde aconteceria isso, não é Vivienne? - falou consigo mesma. - Basta ignorar. Basta ignorar, Alexander não pode fazer nada. Basta ignorar, Alexander não pode fazer nada. Não pode fazer nada.
O celular parou de tocar e seu coração voltava a desacelerar. O resto da manhã foi escutando mais e mais gemidos da garota da noite anterior. Isso estava irritando cada vez mais e mais a ruiva.
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Salve, salve....
Nesse capítulo tivemos um pouco de tensão de muitos lados e descobrimos que realmente a vizinha nova da Enne é uma devassa, e agora? Fora isso, Alexander, o famoso Alexander tentou fazer contato, o que será que ele queria?
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Segredos | Elliot Hells
RomanceApós passar alguns anos vivendo em Curitiba no Paraná, Vivienne Lamartine Hoffman volta para a sua terra natal. Um estado colonizado pelos antigos holandeses que mudaram seu nome de Natal para Nova Amsterdam. De volta a cidade em que nasceu fugindo...