10. Conhecendo a vizinhança (parte 2)

32 7 14
                                    


Vivienne sabia que precisava fazer compras urgentemente para a casa de Henrique. Fora por esse motivo que havia saído cedo para o mercado mais próximo. Não lembrava quando havia sido a última vez que fora sozinha no supermercado comprar comida. Ela não fazia isso. Normalmente, Alexander pedia para um de seus subordinados comprar tudo o que estava faltando dentro de casa. Normalmente era Marco que sempre fazia tal função, era um rapagão forte demais, alguns anos mais velhos que Alexander. 

Marco tinha cabelo preto e crespo, olhos castanhos escuros, bastante calado e centrado. Uma das poucas pessoas que o faziam falar, era Vivienne, já que ele era o motorista, quase que, particular dela. Marco havia tido um passado que fora durante muitos anos desconhecido pela ruiva. Ele podia, raramente ser doce, quando estava distante de Alexander. O que o ex-marido alegava, era de que ela não precisava gastar seu tempo com coisas fúteis. Mas agora, lá estava ela, voltando com quatro sacolas de compras, não muito pesadas. Percebeu que achou aquele momento gratificante, não era nenhuma perda de tempo como Alexander dizia.

 Ao sair do elevador, viu que Elizabeth estava na porta, tentando abri-la sem sucesso. Suspirou fundo, um rápido flashback quis invadir sua mente, mas o repeliu. Por causa da ousadia daquela mulher, havia ficado mais uma noite sem dormir. Deveria ter olheiras mais fundas do que o próprio Grand Canyon. Elizabeth lutava com a sua própria porta e Vivienne tentava passar o mais despercebida possível. Mas havia sido em vão.

- Oi... Vi... Vivienne. - a maior dizia. - Poderia me dar uma ajudinha? - antes mesmo de terminar, veio a resposta cortante.

- Resolva sozinha! - dizia deixando as compras no chão em frente a porta de Henrique para poder abrir a sua porta.

- Mas o que foi que... - Elizabeth franziu o cenho falando mais para si mesma. - Tudo bem, deixa para lá. Maldição! - resmungava a mais alta, com um humor diferente do normal.

Tudo o que a Elizabeth pode sentir antes de virar seu corpo para a porta foi um tremendo "plaft" ecoado do seu rosto contra a mão da Vivienne. Ela olhou de forma confusa sem saber o que estava acontecendo. Mas Vivienne continuou a falar:

- Sendo sincera, isso foi por ontem! Eu odeio você, já a odiava por arruinar minha noite de sono, mas agora eu a odeio ainda mais! Espero que nada daquilo jamais se repita! - disse ela voltando para a sua porta, abrindo, pegando suas compras e sumindo logo em seguida. Enquanto, Elizabeth levou a mão ao rosto massageando contra o tapa recebido, ardia demais, fora uma bofetada bem segura para uma garota pequena.

- Quantas vezes devo aturar isso? - rolou os olhos, conseguindo enfim abrir a porta.

X

Vivienne estava atrás da porta, encostada, respirando de maneira ofegante. Desde seus vinte e três anos fora a primeira vez que havia esbofeteado alguém. Será que havia saído do controle? Quis voltar e pedir desculpas. Mas seria uma boba se fizesse isso. Por outro lado, ela não tinha que fazer nada disso, a mulher ao lado provocou aquela situação. Estava decidida, não pediria desculpas à ninguém. Não precisava. Resolveu guardar todas as novas compras no armário.

 Vivienne sabia que ainda tinha os livros para serem organizados, nunca pensou que seus preciosos amigos, seriam deixados à deriva assim. Voltou imediatamente para o quarto e disse com vigor que iria organizar todos eles naquele dia. Abriu novamente as caixas e colocou todos no chão. Eram tantos livros, começou pelos romances clássicos, Jane Austen, com orgulho e preconceito. Lembrava que o nome que sua irmã havia recebido era de uma das personagens da ilustre Austen. Sua mãe era fanática pelas escrituras dessa autora. Havia colocado o nome de Catherine da quarta filha do livro "Orgulho e preconceito" Catherine Bannet, por qual razão? A senhora Lamartine, contava para as filhas a seguinte história que quando estava prestes a dar à luz a Kitty, o médico dizia que ela estava sendo teimosa em sair e com toda certeza daria um enorme trabalho. A senhora Lamartine, não queria pensar em como a futura filha seria teimosa ou não, apenas queria que ela saísse para enfim, poder vê-la.

 Mas Kitty estava com várias complicações, pois não estava do lado correto para fazer o parto normal. Cogitaram começar uma cessaria, mas no último momento a pequena Kitty posicionou-se no local correto. O doutor Lívio falou que ela só fazia as coisas quando bem queria. Daí a senhora Lamartine pensou "Teimosa como a Catherine Bannet" e surgira o nome da primogênita. A história do seu nascimento, fora mais complicada. A senhora Lamartine quase sempre chora quando conta o momento do nascimento de Vivienne. Vivienne teve ainda mais complicações, não por teimosia, mas sim pelo cordão umbilical estar enrolado em seu diminuto pescoço quase sufocando-a no momento do seu nascimento. A pobre menina estava ficando roxa e com dificuldade respiratórias. Doutor Lívio, mais uma vez estava responsabilizado pelo parto da senhora Lamartine. Ele era um antigo médico e amigo da família, bem como amigo da senhora Lamartine na época da universidade. Estava sendo um sufoco, ele contaria a mesma história com gotículas de suor brotando da testa como no dia em que estava fazendo o parto da jovem Vivi. Estava transpirando demais, as enfermeiras passavam a cada um minuto um lenço em seu rosto para evitar escorregar para seus olhos. Após algumas horas de parto a criança finalmente nasceu e totalmente saudável e a salvo. A senhora Lamartine quando a pegou, pensou sem dúvida em por Jane, como a segunda filha dos Bennet. Era linda, parecia ser tímida, pois até seu choro era discreto. Porém, Vivienne passará por tanta dificuldade e ainda sim, saíra viva. Por serem de origem francesa, a senhora Lamartine, optou por colocar Vivienne, que significa "vida" no nome da filha.

Vivienne recobrou de cada história enquanto ainda admirava a capa do livro "orgulho e preconceito" e lembrava que uma das heroínas, chamava-se, Elizabeth Bennet. Não pode deixar de ligar o nome com a vizinha, à final era o nome dela. Começou a pensar se a origem do nome ocorreu por intermédio da mãe da mulher ao lado ser uma fã de Jane Austen. Mas, não poderia mais perguntar isso. Retirou mais alguns livros e começou a organizá-los. Seu telefone começara à tocar. Verificou quem era, e não poderia deixar de ser Catherine.

 Estava com a voz apressada como de costume, hiperatividade, era o sobrenome que a irmã deveria ter e não Lamartine. A mais velha estava chamando-a para se encontrarem no calçadão da praia de Texel, colonizada pelo, Johan Maurits van Nassau-Siegen, cujo nome fora abrasileirado para João Maurício de Nassau-Siegen. Vivienne só queria uma coisa: ficar em casa. Na verdade queria duas: ficar em casa e guardar seus livros. Mas ambos estavam impossíveis. Não podia recusar o pedido da irmã, por trás de tanta saída programada de Kitty, era tudo para Vivienne não ficar pensando no seu fim de casamento. Mas a ruiva não estava pensando nisso, não era isso que realmente importava. Tentou argumentar contra, mas não funcionou. Ela deveria sair para se encontrarem no calçadão com a irmã, no qual a mesma se encontrava desempenhando seu outro trabalho esquisito, passeando com cachorros.   

Assim, a organização dos restos dos livros de Vivienne ficou para depois, pois nesse momento dirigia-se para o banheiro para tomar um banho e trocar de roupa para sair com a irmã.

--------------------------------------------------------------------------

Será que só eu não esperava esse tapa? Vivienne Lamartine, dando um tapa na cara de alguém? Uau e ainda por cima de uma atriz talentosa como a Elizabeth? Acham que foi justo?

O que será que irá ocorrer? será que a atriz deixará barato assim?

Segredos | Elliot HellsOnde histórias criam vida. Descubra agora