Kitty estava semi acordada, sentada no banco atrás da ilha, comendo seu cereal matinal, enquanto Vivienne cortava frutas para seu próprio café da manhã e começava a reclamar da vizinha ao lado. Questionava-se a razão de todos os lugares que poderia ficar, entre tantos atores ou atrizes que poderia morar ao lado ou de todas as praias que poderiam ter ido ontem, porque, justamente, tinha que esbarrar tanto com aquela mulher? Estava sendo insuportável, comentava ela, dizia que aquela mulher deveria ser trancada em casa, pois era um risco para a sociedade feminina. Como aquela súcubo poderia ficar à solta? Comentava com sua irmã que só a escutava silenciosamente.
Após inúmeras queixas, Kitty começava a contar o que havia descoberto sobre a vizinha e um pouco da sua famosa família. Elizabeth não era somente uma simples pessoa, era alguém altamente importante na sociedade.
- Não posso acreditar, aquela súcubo ainda é alguém tremendamente importante e ganhou todos esses prêmios e sabe de tudo isso? E ainda dá aulas? Coitada de todas as mulheres que ficam ao lado dela. – dizia Vivienne. – Talvez eu possa denunciá-la ao conselho de classe dela. A Ordem dos Advogados ficará surpresa em saber dos atos libidinosos de uma de suas integrantes.
- Perdeu o juízo Enne?! Para começo de história ela não cometeu em si nenhum crime. A partir do momento que você deu um tapa nela, automaticamente vocês quitaram a dívida do beijo e etc. – explicava Kitty. – Além disso, H² disse que ela não coloca nenhum processo nem nada disso. Pare de implicar com ela, Enne. É apenas uma pessoa com um estilo de vida despojado.
- Desde quando ficou tão por dentro de assunto assim? – indagou a irmã. - e passou a defender a senhora súcubo despojada?
- Desde que minha irmã caçula resolveu dar um tapa em uma pessoa famosa. – Kitty levantou e disse para outra se arrumar, pois havia conseguido com alguns conhecidos um emprego temporário nos bastidores de um teatro.
Ela logo recusou, não iria trabalhar em um teatro que poderia ser o local onde a súcubo ao lado trabalharia. A Kitty logo negou, disse que na época que falou não havia ninguém com esse nome, a peça ainda estava para ser escolhido os próximos atores.
Contou também que falou antes de conhecerem a vizinha, assim que soube que Vivienne regressaria para casa, ela achou que a irmã preferiria ter algo para fazer do que ficar se lamentando sobre o ex-marido. Talvez Kitty tivesse razão, os dias eram longos naquele apartamento, mas o medo também conseguia dominá-la. Por outro lado, a curiosidade de querer fazer algo que jamais fizera despertava um desejo de querer tentar. Como a irmã disse, deveria está no teatro em uma hora. Tanto que Kitty a levaria até lá e que a outra veria uma forma de trazê-la para casa. Ela se arrumou de forma simples, uma sapatilha, uma blusa social por dentro da saia e prendeu seu cabelo com uma trança lateral. Precisava estar um pouco mais descente do que estava andando. Kitty a arrumou para ser mais exata.
Vivienne Lamartine crescera com uma paixão latente por livros, histórias de fantasias, romance, aventura, suspense policial, arriscou-se até no mundo sombrio do terror após o incidente de quando era criança. Pensou que aquele incidente seria o último, mas arriscou-se novamente e viu que terror não era seu gênero preferido. Descobriu-se apaixonada pelos clássicos de época, lindas histórias escritas por Jane Austen, as irmãs Brontës, Shakespeare entre outros. Crescera cercada por eles. A família Lamartine não perdia um edital na escola, uma peça ou um discurso da sua filha caçula. Diferente de Kitty, que preferia mais aventuras e papéis mais exóticos. Vivienne, era calma e delicada, antes de conhecer Alexander, pensava em fazer curso de teatro, mas os planos haviam se mostrado distinto. Ela achava que sempre pensaria em si assim, como uma garotinha calma e obediente. Porém, mais uma vez havia se provado equivocada.
A irmã a conduziu até o prédio, onde o secretário do diretor de teatro havia marcado, local que seria realizado os ensaios. Era um prédio cinza com umas iniciais distintas, painéis transparentes e uma escadaria que levava até a porta. Vivienne se identificou na recepção e logo seguiu para onde o porteiro havia indicado, seguiu pelo pátio verdejante até a outra ala, que segundo o porteiro, era onde estava ocorrendo os ensaios e podia ter certeza que ali encontraria o diretor. Ela abriu uma porta enorme de madeira que era o local que os funcionários entravam, conduziu até umas cortinas vermelhas com franjas douradas, lá estava repleto de mulheres que giravam a do meio que estava vendada, ela não deu muita importância para o que estava acontecendo, o lugar parecia estar com uma visibilidade mediana. O cheiro era forte de incenso e outros aromas, talvez fosse a encenação de algum culto do deus Baco na era da Grécia Antiga ou as garotas estavam em seu horário de pausa. Bem, elas devem estar se divertindo, mas como poderei chegar até o diretor? pensou.
Vivienne tentava passar entre aquelas mulheres, quando uma mão a agarra completamente, segurando a sua cintura e a envolvendo, passando seu nariz próximo a sua nuca, ficou paralisada por seu corpo responder de forma distinta da que deveria ser. Os pelos de sua nuca se eriçaram e ela arrepiou, isso a deixou irritada. Ordenou que seja lá quem fosse a soltasse
- Hm...?? – a pessoa vendada não conseguia compreender o que estava ocorrendo, afinal fazia parte da cena.
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Segredos | Elliot Hells
RomanceApós passar alguns anos vivendo em Curitiba no Paraná, Vivienne Lamartine Hoffman volta para a sua terra natal. Um estado colonizado pelos antigos holandeses que mudaram seu nome de Natal para Nova Amsterdam. De volta a cidade em que nasceu fugindo...