É claro que o movimento feito por Elizabeth não foi deixado de lado, muitas atrizes que queriam almoçar com a outra. Ficaram chateadas e um tanto invejosas pela "novata" receber a atenção da Heinz. O dia foi um pouco mais conturbado, Vivienne acabou recebendo uma atenção um pouco negativa pelas atrizes enciumadas devido a atenção depositada para uma ruiva sem sal. Quando deu 22 horas da noite o pessoal começara a se despedir, hoje o dia teria sido intenso. O diretor basicamente fez com que todos trabalhassem mais, pois a estreia estava próxima. Normalmente preenchiam seis à oito horas de trabalho.
Vivienne finalizara tudo e estava digitando seu endereço para solicitar um Uber, quando escutou uma voz: "Vem, eu te darei uma carona. Não faz muito sentido pegar qualquer outra forma de automóvel se vamos para o mesmo destino."
- Está tudo bem, eu estou pedindo um uber, não tem que se incomodar – respondeu rapidamente.
- Vivienne, é só uma carona, eu não mordo agora – sorriu de forma gentil e sem malicia. O que foi detectado pela ruiva sem acreditar que a outra podia não exalar teor sexual ou malicioso. E ali admirou aquele sorriso gentil. Embora tenha piscado algumas vezes sem saber o que estava pensando. Naquele momento, Vivienne pensou "totalmente indecifrável essa mulher.".
A ruiva tentou recusar em vão, subiu no automóvel e apertou o cinto de segurança. A noite apresentava um clima agradável, diferente do calor costumeiro na cidade do sol. Elizabeth costumava colocar uma música baixa quando saía. Deixou tocar os clássicos da bosa nova – barquinho – da cantora Nara Leão. Uma música nostálgica que seu pai costumava escutar e tocar aos fins de semana com todos reunidos cantando.
Vivianne a agradeceu por toda a ajuda mais cedo, Elizabeth apenas pediu que ela deixasse para lá. Ficaram em silencio aproveitando o som. Isso a deixou perdida em seus pensamentos quando o carro começou a parar. Ela não entendia a razão, estavam em uma rua de paralelepípedo e muito longe ainda de casa, qual a razão de Elizabeth parar no meio do nada?
- Eu preciso ver uma coisa, fique no carro está bem? Eu venho logo e não vai demorar. – a loira abriu a porta do motorista, deixando os faróis ligados e se dirigiu para a frente do carro, tudo sendo acompanhado pelos olhos da ruiva. Elizabeth se abaixou.
Vivienne não entendia o que aquela louca estava fazendo em uma rua como aquela. Ela não acreditava que ela tinha ido fazer alguma coisa bizarra ou louca naquela hora. Não se conteve e saiu do carro, contornando o automóvel e seguindo em direção a jovem ajoelhada ao chão. "O que ela está fazendo?" a rua estava quieta e sem sinal de carros passando até então. Ela se aproximou e tocou no ombro da outra que estava desolada.
- O que... – ela se inclinou para ver melhor, era um gatinho preto e branco que fora atropelado. O corpo ainda estava quentinho e um filete de sangue escorria pela boca.
- Ele ainda está quente, mas eu cheguei tarde. Não pude salvá-lo. – Vivienne encarava aquela mulher sem entender muito. – O mínimo que posso fazer por ele é retirá-lo da rua para que nenhum carro o atropele mais uma vez.
A jaqueta jeans que a mulher usava estava sendo retirada aos poucos, as feições dela eram de pura tristeza. Elizabeth tirou sua jaqueta que na cabeça de Vivienne deveria ser absurdamente cara, no mínimo uns R$ 400,00 reais. Ela tirou e enrolou o pequenino naquela vestimenta da melhor forma para deixa-lo quentinho. Não tinha nenhum instrumento ou ferramenta para cavar alguma cova para o pequeno, assim, só o conduziu até um terreno que havia ali do lado com algumas plantas. O colocou gentilmente nas plantas e voltou para perto de Vivienne, informando que já poderiam ir.
A outra tentando ajudar nos momentos finais pediu para que ela aguardasse e pegou sua garrafinha com água, lavando e limpando a mão da mulher a sua frente que havia ficado com manchas de sangue pelas mãos e pulsos. Enquanto ajudava Elizabeth a se lavar, percebeu as tatuagens que cotinha em seus braços. Em sua mão esquerda havia uma flor com as pétalas abertas, enquanto o caule, ramos abraçavam e se envolviam pelo antebraço da outra. Em seu braço direito havia outra, uma linda cabeça de um cachorro border Collie, com pelos coloridos em tons de azul, amarelo, verde. Olhos atentos, com um brilho azul no olhar. Descendo um pouco rememorava uma pena de pavão com suas majestosas cores, uma tatuagem forte, que a abraçava até abaixo da clavícula, o movimento dava essa impressão, de um profundo abraço. Enquanto no outro ombro, havia mais uma outra flor conduzida por caule com espinhos, era algo belo de se ver.
Após isso, ambas entraram no carro, Vivienne percebeu que a outra ficou em silêncio, até mesmo a música não tocava mais. O gatinho falecido a deixou um tanto triste pelo que ela percebeu.
- Os animais parecem gostar muito de você e você deles. – iniciou lembrando do fato ocorrido na praia e de como Archie abraçou ela e agora o momento que havia ocorrido.
- Sim, eu adoro muito animais, prefiro mais eles. – falou sem se sentir.
- Aquele cachorro daquele dia parecia vidrado em você. – recordou a ruiva.
- O Archie é um amigo de longa data. Na verdade, eu dei ele para a Melissa. Ele foi fruto de um resgate que fiz em uma ONG de animais do qual faço parte. O pequeno foi abandonado junto com seus irmãos, a mãe não sobreviveu. Assim, cuidamos deles, aplicamos todas as vacinas, vermífugos e começamos a feirinha de adoção. Todos foram adotados com exceção do Archie, ele era o menorzinho e o mais frágil de todos. As pessoas não o achavam "bonito o suficiente". Ninguém o queria e eu fui ficando mais e mais próxima dele. Então, a Melissa escutou muito dele do quanto eu acabei dizendo que ninguém o adotava, ela acabou conhecendo, um amor imediato surgiu entre os dois, diria que a primeira vista. Então, ela o adotou. E como você já sabe, também dei a bandana para ele. A Mel adora aquele pequeno e ambos começaram a participar de concursos Agility e flyball. Melhora todo o condicionamento físico dele. Estão invictos tem uns quatro anos
Aquela história de que a sua vizinha súcubo era uma voluntária em uma ONG de animais a deixou extremamente chocada! Como uma pessoa poderia ter tantos lados diferentes assim? A exatos minutos atrás viu se desfazer de coisas materiais por um pequeno gatinho. Foi a coisa mais bela, gentil e memorável que Vivienne já presenciou em toda sua vida e não imaginava que tal gesto seria da súcubo ao seu lado. Será que a estava julgando tão errado assim?
- Você faz parte de uma ONG? Não acredito nisso! – externou seu pensamento incrédulo sem filtro.
Elizabeth soltou um pequeno riso pela primeira vez.
- Acha que uma maníaca sexual não tem condições de ser voluntária? – utilizou as palavras de Vivienne ao se referir de si própria.
Vivienne ficou constrangida com isso.
- Não estava falando disso, quis dizer.. bom... – ficou sem palavras e tentou encontrar algo para se apoiar. – Por qual motivo não tem seu próprio cachorro então, você parece amar demais.
Novamente a expressão da outra ficou séria e distante.
- Já tem algum tempo que acabamos perdendo o nosso amigo. – Liz disse sem si sentir.
- Acabamos? – Enne franziu o cenho em dúvida pelo uso do verbo no plural.
- Quis dizer, eu acabei perdendo o pequeno Joe.
- Que nome fofo. Você contará a história?
- Bom, se quer saber. Foi como uma noite assim como essa a anos atrás. Não sei bem os meses que ele tinha. Vi uma caixinha mexendo-se na rua para lá e para cá. Desci do carro e havia um filhote lá dentro...
- Não, acredito!
- Sim, é mais comum do que você pode imaginar. Quando existe períodos festivos costumam dar animais de "presente", acham bonitinhos e fofinhos durante alguns dias. Porém, lutar com xixi, cocô no lugar errado, choros no meio da madrugada, mordidas e outras coisas são motivos para descarta-los ou se apresentarem uma doença. - informava a loira, enquanto dirigia na longa estrada.
- Continue, por favor. - solicitou Vivienne agora intrigada pela primeira vez com a loira.
---------------------------------------------------------
Parece que essa trégua é de verdade, o que vocês acham?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Segredos | Elliot Hells
RomantikApós passar alguns anos vivendo em Curitiba no Paraná, Vivienne Lamartine Hoffman volta para a sua terra natal. Um estado colonizado pelos antigos holandeses que mudaram seu nome de Natal para Nova Amsterdam. De volta a cidade em que nasceu fugindo...