Quando a tarde chegou, ela sentia-se deprimida e entediada, ao menos os gemidos haviam cessado cerca de duas horas. Estava no balanço da varanda segurando uma pequena boneca de pano de cabelos ruivos. Apertava contra o seu peito mais e mais forte. Até que ouviu alguns suspiros e olhou para o apartamento da vizinha. Não olhou por curiosidade ou por necessidade. Simplesmente, foi um ato involuntário da sua parte. Conseguiu ver Elizabeth e mais outras pessoas, não era a mesma ruiva de ontem, era uma morena e outras garotas. Mas também faziam parte da peça, ela conseguia reconhecê-las. Lembrava do papel que a morena havia interpretado, era a irmã de Catharina, Bianca. Mas as outras pouco apareceram. As palavras de Henrique voltaram em sua cabeça: "Lizzy é terrivelmente devassa, cuidado com ela." Ao mesmo tempo a frase de sua irmã retornou em sua mente: "Ela tem aquele olhar, de quem faz sexo gostoso."
Se perguntava como Elizabeth conseguia manter tal ritmo de vida? O que será que a fazia ser assim? Era uma resposta que talvez nunca tivesse e por qual motivo teria? Vivienne concluiu que Elizabeth era totalmente diferente do que ela achava que era, não que ela tivesse tempo de formar algo sólido. Mas estava concluindo que a sua vizinha deveria tratar as mulheres como só mais um objeto sexual e ela desprezava esse tipo de gente. Outra vez seu telefone toca e para sua surpresa era Catherine, suspirou, mas dessa vez em alívio. Ela queria saber como a irmã estava e informou que não poderia visitá-la hoje. Foi chamada para cobrir uma recepcionista no plantão de um hospital. Vivienne, nunca entendia os empregos loucos da irmã, mas ficava satisfeita se assim a outra também fosse feliz. Conversaram até às vinte horas quando Catherine deveria se arrumar para partir.
Vivienne pretendia passar a noite lendo algum romance para se distrair e quem sabe pegar no sono, pois quando anoiteceu, os gemidos acabaram. Fez todos os preparativos, tomou um banho relaxante, jantou um pouco e lembrou que ainda não havia organizado os livros, suspirou em frustração. Estava no seu quarto com algumas luzes acesas da casa, retirando os volumes de livros novamente, quando as luzes apagaram de repente. Ela ficou totalmente no escuro. Isso não era bom, seu coração ficou descompassado, a respiração aos poucos começou a ofegar. Não conseguia ver os seus dedos. Tentou levantar e sair do quarto, sentia que tudo estava ficando quente, mesmo com as janelas abertas. Odiava o escuro, sim, agora ela odiava o escuro com todas as forças.
Começou a ouvir alguns passos.
"Está tudo bem Vivienne." pensou.
Mas nada parecia estar bem, nada parecia se mostrar bem. Ela pegou o celular que sabia que estava próxima de si. Afinal, havia acabado de falar com Catherine. Desbloqueou o aparelho e localizou o mecanismo da lanterna, sabia que estava tremendo, seu coração batia tão forte contra o peito que chegava a doer. Ela não havia percebido, mas começava a chover lá fora. Vivienne não sabia se andava ou se permanecia no quarto. Como ela odiava quartos escuros, sentia que cada parede a cada momento se aproximava, estreitando mais e mais contra si. Começou a sentir seu rosto úmido, "Será que está tendo infiltrações no apartamento do H²?" pensou, mas percebeu que estava chorando involuntariamente, suspirou outra vez. Esses suspiros nunca iriam cessar, ela sabia disso. Ao menos, não acabariam tão cedo. Suas mãos suavam frio, seu pescoço, testa e nuca começavam a produzir gotículas de suor que escorriam pelo seu corpo delgado. Todo seu corpo se mantinha em alerta, estava na defensiva, estava com medo, mas do que? Tentou acalmar os pensamentos teimosos que insistiam em chegar em sua mente. Mas estava quase se dando por vencida. Eram pensamentos fortes demais. Estava diante de um ataque de pânico, estava agachada no tapume de madeira.
- Eu não aguento isso. Eu não aguento, por favor, não faça mais isso comigo.
O medo estava consumindo o seu ser e nesse momento sua mente. Se sentia uma idiota por isso ainda afetá-la. Até que ela escuta baterem na porta. Será que Alexander está na porta? Ele já havia ligado pela manhã, como chegara tão rápido? Não quer ir ver quem é. E não poderia, como iria conseguir chegar lá? A pessoa do outro lado ainda insiste e continua a bater.
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Segredos | Elliot Hells
RomansApós passar alguns anos vivendo em Curitiba no Paraná, Vivienne Lamartine Hoffman volta para a sua terra natal. Um estado colonizado pelos antigos holandeses que mudaram seu nome de Natal para Nova Amsterdam. De volta a cidade em que nasceu fugindo...