Prólogo

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Depois

一 Eu vejo que já terminou o livro que te emprestamos 一 Sarah observou, enquanto pousava uma xícara de chá sobre a mesa de ferro à minha frente.

Já faziam alguns minutos que eu havia encerrado a leitura. Razão e Sensibilidade. Era um bom livro, mas passava longe de ser o meu favorito.

一 Tenho algumas considerações a fazer, mas acho que posso fazer isso em um outro momento. Vejo que você tem estado bastante ocupada nos últimos dias.

Observei a expressão de cansaço estampada no rosto dela. A garota, que aparentava ser muito mais nova do que eu tinha, naquele momento, as bochechas vermelhas por conta do calor que andar de um lado a outro sem descanso causara nela.

一 O que você achou da Elinor? 一 ela desconversou, enfiando as mãos delicadas dentro dos bolsos de seu casaco rosa, enquanto observava as enfermeiras removerem a velha Ginger do banco de madeira perto do lago. Aquele era o único lugar do qual ela gostava em todo o quintal. Todos os dias eu ocupava a minha velha cadeira de ferro junto à mesa e ficava de olho nela, tentando adivinhar quantos pássaros se aproximavam dela durante seus longos minutos lá fora.

一 A pessoa mais sensata da história toda. Sério! Como é possível que ela fosse a única ajuizada de uma família inteira?

一 Você já o havia lido antes? 一 Sarah perguntou, com uma risadinha contida.

Neguei, enquanto erguia uma das pernas sobre a cadeira e escorava o queixo em meu joelho.

一 Bem, digamos que antes de vir para cá eu eu não tivesse muito tempo para ler.

Ela concordou, um pouco resignada.

一 Era muito ocupada com os negócios? 一 Ela ergueu as sobrancelhas cabeludas e riu.

Balancei a cabeça, tentando manter a pose.

一 Bem, se você acompanha os jornais, deve saber que sim, e muito!

Sarah levantou-se no mesmo momento em que a enfermeira chefe passou pelo arco florido do jardim, à procura dela.

一 Eu tenho que ir, mas antes 一 ela olhou na direção da mulher e me encarou de volta 一, o que gostaria de ler na próxima? Jane Eyre?

Pensei por alguns instantes. A chefe parou na calçada lá embaixo, com as mãos enfiadas nos bolsos do jaleco extremamente branco e nos analisou por um certo tempo.

一 Se não me falha a memória, há um Edward na vida de Jane Eyre, não é?

Sarah franziu o cenho, sem entender.

一 Sim, mas ele é mais conhecido como Sr. Rochester.

一 Vou passar. Acabo de ter que aturar o Edward da Elinor, e agora você quer me empurrar goela abaixo o Edward da Jane?

一 Tem algo contra os homens com este nome por acaso?

Fiquei em silêncio. Não gostava quando as minhas conversas triviais com Sarah acabavam indo parar na beira do precipício que havia sido a minha vida antes de ser trancada naquele lugar anos antes.

一 Sarah, imagino que ainda não tenha cuidado do probleminha com a senhora Phillips na ala três, não é? 一 Fiona insinuou, aproximando-se feito uma predadora.

A mais jovem pediu licença e retirou-se, correndo feito uma destrambelhada em direção ao edifício antigo onde ficava a ala três. Eu nem precisava ser uma das enfermeiras para saber que probleminha era esse do qual estavam falando. O que acontece é que a tal senhora Phillips tinha a estranha mania de pedir inúmeros potinhos de mousse de chocolate todos os dias, e é óbvio que em algum momento seu corpo precisava trabalhar para mandar tudo aquilo embora, fazendo com que as enfermeiras fossem em comboio até o seu quarto para cuidar daquela emergência corriqueira.

Imogen - Amor e VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora