Capítulo Cinquenta e Seis

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一 Está tudo bem com você? 一 a enfermeira perguntou, sorrindo para mim.

Confirmei, encarando a janela ao lado da cama. Havia uma angústia terrível sentada sobre o meu peito naquela manhã.

一 Quanto tempo isso deve demorar?

一 Estamos quase acabando 一 ela disse, de olho no monitor à sua frente. 一 É um bebê muito saudável, sabia?

一 Está se desenvolvendo muito bem, Imogen 一 a médica concordou, enquanto anotava algumas coisas em uma prancheta. Era bom ouvir aquilo, já que eu conseguia apenas me sentir uma grande irresponsável por não ter procurado ajuda antes.

Engoli em seco. As palmas das mãos suavam em bicas; eu nunca pensei que estaria tão nervosa. Esfreguei as palmas no tecido do avental azul que estava usando e olhei para o teto, em busca de algo que me acalmasse.

一 Tem certeza? Acho que cometi um erro ao esperar tanto tempo para procurar um médico.

一 Eu não vou dizer que você está errada, mas tem sorte por estar tendo uma gestação tão tranquila. Os primeiros meses são os mais importantes para a formação do bebê, e ao que parece você os enfrentou muito bem.

一 E quanto ao que você disse antes sobre a minha alimentação? 一 indaguei, preocupada.

一 Ah, sim 一 Annelise disse, sorrindo 一 bem lembrado! Precisa tomar cuidado com os carboidratos e doces que tem consumido. Pelo que notei em seus exames, você tem uma predisposição ao diabetes, e se não controlar isso durante a gravidez, pode ter problemas lá na frente. Costuma praticar exercícios com regularidade?

一 Ultimamente não tenho tido tempo para isso.

一 Entendi, mas saiba que o sedentarismo mais atrapalha do que ajuda, sim? Precisa se movimentar, e principalmente, manter uma alimentação saudável. Lembre-se de que agora está fazendo tudo por dois.

一 Eu não tenho tido tempo para me esquecer disso, acredite 一 falei.

一 Está ouvindo esse barulho? 一 a enfermeira perguntou, olhando para mim. 一 É o coraçãozinho do seu bebê.

Não respondi a pergunta dela; ao invés disso, permaneci deitada enquanto escutava aquele estranho barulho que ecoava do monitor à nossa frente. Fechei os meus olhos e tentei visualizar algo bom, mas não havia nada. Quando eu pensava naquela criança, raramente tinha algum vislumbre de uma vida futura onde estivéssemos juntos. Sempre que eu começava a imaginar como ela seria, ou com quem seria parecida, imediatamente a minha mente tratava de emitir um lembrete para mim de que não teríamos o privilégio de saber aquilo. Apesar de estar gestando um bebê saudável e forte, eu não seria sua mãe, e tentava me acostumar com a ideia, embora fosse difícil.

Quando abri os olhos novamente, eu estava chorando. As duas mulheres que dividiam a sala comigo naquele momento foram extremamente gentis e esperaram até que eu me acalmasse para continuar a consulta. Ao fim do exame, perguntaram se eu gostaria de saber o sexo do bebê, e quando eu disse que não, apesar da notável surpresa em seus rostos, não disseram nada em objeção.

Só quando deixei o consultório é que me dei conta do quanto gostaria de ter tido a mão de Edward para segurar durante aquela hora inteira que passei naquela consulta. Com certeza ele teria se emocionado também ao ouvir o coração de nosso filho batendo à toda dentro de mim. Eu era o ser humano mais egoísta de todos por estar privando-o daquela sensação, mas sabia que era incapaz de agir diferente, pelo menos naquele momento.

Já haviam se passado alguns dias desde que havíamos terminado o nosso relacionamento, e desde então, eu estava me mantendo ocupada organizando tudo para entregar Daniel e todo o seu esquema para a polícia, o que consequentemente acabaria me entregando também. A decisão não havia sido fácil, mas não havia outro jeito de resolver as coisas senão daquela maneira.

Imogen - Amor e VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora