Capítulo Quarenta e Nove

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Eu sempre tive curiosidade em saber como havia sido a morte de todas aquelas pessoas que ocupavam os trailers na noite do incêndio. Sempre quis saber como haviam sido seus últimos minutos, o que pensaram e se tentaram se salvar de alguma forma.

Não ter estado lá era como ainda ter uma dívida eterna com todos eles, afinal, se alguém tinha culpa por toda aquela tragédia, esse alguém era eu.

Fora o fato de ter perdido toda a minha família em um incêndio, eu nunca havia passado por nada parecido. Acho que cresci com a tendência de evitar tudo aquilo que pudesse me expor a tragédias de todos os tipos. O único risco que eu gostava de correr era o de ser pega roubando, esse não havia como mudar, estava comigo desde a infância; o desejo pela adrenalina que apenas um quase flagra sabia proporcionar nunca deixou de me seduzir, essa é a verdade.

Como eu estava dizendo antes, não ter estado no incêndio que tirou a vida da minha família anos antes me deixou uma dívida tremenda com aqueles que se foram, e deve ser por isso que quando vi o prédio em que eu morava na clínica completamente em chamas, pensei que poderia ser uma boa ideia voltar lá dentro e ajudar quem ainda não havia saído a encontrar o caminho da porta.

Bem, vamos aos fatos.


Tudo começou na manhã seguinte ao jantar de despedida da Eloise. Até onde sabíamos, ela ainda ficaria conosco naquela manhã, mas ao entrarmos no refeitório para o desjejum, acabamos descobrindo que ela havia apressado as coisas e havia decidido sair sem se despedir.

Sarah informou que Julian passou na clínica logo cedo para buscá-la e que ela nos deixava um milhão de beijos e desejos de felicidade. Ficamos felizes por ela. Eloise era uma daquelas pessoas por quem é impossível sentir algo diferente de simpatia. É óbvio que não falo por todas quando relato a nossa felicidade pelo desfecho da história dela naquele lugar, até porque, ainda havia Tracy, e ela não ficou nada contente com aquela notícia.

Tudo começou a desandar quando ela se recusou a tomar os remédios daquela manhã. Depois ela ignorou o convite do Dr. Brown para uma consulta extraordinária, e logo em seguida se trancou em seu quarto até o fim do dia, que foi quando decidiu abrir a porta e jogar no corredor tudo o que a fizesse lembrar de Eloise, que do nada se tornou persona non grata dentro daquela ala. Fiquei assustada quando vi tudo aquilo do lado de fora, mas decidi não me envolver pois sabia o quanto Tracy podia ser violenta quando tirada do sério.

Depois do jantar, decidi passar um bilhete por baixo da porta, apenas para me certificar de que ela estava bem, mas foi completamente inútil, já que Tracy não estava lá.

Mais tarde, naquela noite, Sarah bateu em minha porta informando que estavam procurando por ela, e que se eu a visse era para pedir que fosse direto para a sala de Fiona, onde estavam esperando para falar com ela.

O que aconteceu, e ficamos sabendo logo após o amanhecer do dia seguinte, é que Tracy havia recebido uma ligação de Eloise horas após ela ter deixado a clínica na companhia de Julian; ligação essa onde ela queixava-se de ter sido proibida por ele de ir ver a família, e também contava sobre uma surra que havia levado dele logo após chegarem ao hotel onde estavam hospedados.

É claro que isso tirou Tracy do sério, e ela não pensou duas vezes e sequer mediu esforços para escapar da clínica e ir ao encontro de sua amiga.

Chegando ao hotel, Tracy encontrou Eloise algemada na cabeceira da cama, suas coisas estavam reviradas e não havia nem sinal de Julian. Ele havia ido embora e ela estava completamente humilhada.

Por conta da surra que havia levado, ela estava praticamente irreconhecível, pelo menos foi assim que ela voltou para a clínica. Havia tantos hematomas espalhados pelo rosto e pelo corpo que ficava impossível para qualquer um que não a conhecesse identificar um ser humano por baixo de todo aquele sangue e conjunto infinito de ferimentos.

Imogen - Amor e VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora