Quatro batidas na porta foram o suficiente para que eu despertasse de meu sono. Outra vez. Ouvi alguém dizer alguma coisa. Mais duas batidas.
Senti e o gosto estranho na boca. Ferrugem pura. Passei a língua ao redor dos lábios. Sangue. Lembrei onde estava. Banheiro. Olhei para o lado e o estrago estava feito. Mas daquela vez não havia Vitor para me ajudar no banho ou cuidar de toda a bagunça. Eu mesma teria que fazer isso.
Eu não sabia que horas eram, mas estava anoitecendo. Fiquei em pé, tentando fazer o mínimo de barulho possível dentro do apartamento. O móvel empurrado contra a porta da sala deveria garantir que ninguém me pegasse desprevenida.
O celular sobre a bancada da cozinha contava com um número infinito de chamadas e mensagens. Eu não pretendia atender ou responder nenhuma delas tão cedo.
Lavei a boca, o rosto e os ombros. Aquilo não era suficiente. Eu precisava de um banho.
Eu me lembro de ter chegado em casa pouco depois da uma da manhã, eu acho. Depois de contar mais de uma vez para mais de uma pessoa como é que a velha havia morrido, finalmente fui liberada.
Não ter planejado aquilo não me fazia menos culpada, essa era a verdade. A última pá de cal quem havia jogado sobre a situação de Serena havia sido eu.
Em minha porta, era possível ouvir uma discussão entre três pessoas. Uma delas queria entrar à força; a outra queria chamar a polícia, e a terceira achava que ir embora e me dar um tempo para assimilar tudo seria bom. Concordei com esta última, mesmo sabendo que era Ruby quem estava falando.
Outra chamada de Edward, provavelmente a vigésima desde que a noite havia terminado. Desliguei.
Três analgésicos e uma cerveja, foi isso o que me acalmou antes de cair ao lado do sofá e odiar a minha própria vida. Devo ter acordado em algum momento e descontado a raiva em mim mesma. Eu apenas não estava conseguindo lembrar quando foi que apaguei novamente.
Tomei banho, limpei as feridas no ombro e me vesti. O barulho no corredor cessou. Haviam desistido. Graças a Deus.
Tentei comer um pão torrado com um pouco de chá; sequer desceu pela garganta. Aquela mistura pareceu horrível demais para o meu paladar amargo e de ressaca.
Me enfiei debaixo dos cobertores a fim de descansar. A minha mente estava a milhão. Que coisa terrível eu havia feito. As luzes da rua projetadas no teto do quarto me causavam vertigem. A quanto tempo eu estava enfiada dentro daquele apartamento?
Senti a falta de Vitor. Parecia que naquele momento apenas ele saberia o que fazer. Eu sabia que estava mentindo para mim mesma. Vitor jamais resolveria aquela situação. Ele provavelmente apenas limparia a minha bagunça e ficaria comigo pelo tempo necessário, mas ele não resolveria tudo. E nem podia resolver.
Devo ter dormido um pouco, mesmo sem querer. Quando acordei para beber água, ouvi batidinhas quase inaudíveis na porta. Congelei no meio da sala. As batidas continuaram. Ponderei sobre o quão perigoso seria abrir a porta.
Empurrei o móvel de volta ao seu lugar e me aproximei do olho mágico. Não havia ninguém. Eu só podia estar ficando louca. Continuei andando. Mais três batidinhas. Voltei.
Girei a chave e destranquei a porta, irritada com aquela insistência. Enfiei metade do corpo para fora e estremeci ao vê-lo sentado no corredor, ao lado do batente da porta.
A quantas horas ele estava lá?
A expressão consternada em seu rosto se aliviou. Ele ficou de pé e me encarou, sem saber o que fazer a seguir.
一 O que você quer? 一 perguntei.
一 Eu vim ficar com você 一 ele disse, decidido.
一 Eu matei a sua avó, Edward 一 disparei, na defensiva. 一 Como pode querer ficar em minha companhia depois disso?
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Imogen - Amor e Vingança
Misterio / SuspensoO aniversário de vinte anos de dois terríveis eventos se aproxima; enquanto uma família perdeu sua joia mais preciosa durante uma festa, a outra perdeu tudo o que tinha em um incêndio. Enquanto uma família permaneceu nos holofotes, sempre perfeita...