Mensagem número treze
一 São quatro e cinquenta da manhã e eu acabo de socar a cara de um homem que invadiu o meu apartamento enquanto eu dormia na sala. Você ficaria chocada se me visse agora, Imo. Bem, devo dizer que eu não ganhei a briga com unanimidade, já que ele também me acertou alguns socos e pontapés quando parti para cima dele. Eu estou um caco. Provavelmente vou adiar os meus planos por mais alguns dias e deixar a poeira baixar, até que eu possa sair do apartamento sem precisar responder às perguntas dos vizinhos e do porteiro, que certamente ouviram tudo o que acabou de acontecer aqui.
Tudo isso me fez lembrar da noite em que você invadiu o meu apartamento e tentou me matar enquanto eu dormia; eu sempre quis te perguntar, Imo, você seria mesmo capaz de fazer isso em nome dos segredos que sempre guardou? Seria capaz de matar alguém que ama em nome dos planos que guarda aí dentro? 一 Pausa para cuspir. 一 Isso está nojento. Eu preciso de um analgésico e de muito gelo. Não pretendo voltar a dormir. As minhas últimas noites foram de total vigilância, e às vezes desconfio que isso não vá terminar bem. Não estão fazendo isso apenas para colocar medo em nós, Imo. Você mexeu com gente ruim de verdade, e agora eu sou quem estou pagando por isso. 一 Segunda pausa para cuspir. Escarro. Algo que pareceu o som seguido de uma careta de nojo. 一 Se você não fosse uma das coisas mais importantes da minha vida, certamente eu não teria vergonha em dizer que adoraria nunca ter te conhecido. É sério. Não sei por quanto tempo mais pretendo seguir sendo completamente cego por você e por tudo o que te envolve, mas espero que isso não dure muito mais, ou não restará muito de mim para contar a história.
Desliguei o celular e o enfiei no bolso do jeans, a fim de não ser incomodada enquanto trabalhava. Ouvi o barulho de garrafas de cerveja vazias baterem umas contra as outras nos fundos. O expediente estava quase no fim. Logo seríamos apenas nós dois no salão, e então eu poderia fazer o que quisesse com ele.
Continuei agachada atrás do tanque de cimento e esperei até que um dos funcionários entrasse na cozinha, apagando a luz e me deixando para fora mais uma vez. Me segurei na lateral do tanque e levantei, tomando o cuidado de olhar em volta para conferir se estava mesmo sozinha. A adrenalina parecia correr à toda dentro das veias, e então me dei conta do quanto sentia falta dela em dias normais.
Aproveitei que a luz estava apagada para tentar entrar pela janela que me daria acesso ao interior do bar sem que eu fosse vista por ninguém. Enrolei o punho na manga do moletom que estava usando e quebrei uma parte do vidro, tentando alcançar a tranca do lado de dentro. Puxei a janela com força para cima e tive dificuldades para abrir, mas na terceira tentativa, eu consegui abrir o suficiente para conseguir pular para dentro. Não era exatamente a sala na qual eu gostaria de ter caído, mas aquela servia.
Tudo estaria no escuro se não fossem as luzes de led de um freezer encostado na parede ao lado da janela, e ao encontrar um abrigo dentro da sala, me escondi por mais algum tempo, até que o barulho do lado de fora cessasse por completo. Estava frio lá dentro, e eu entendi o motivo quando saí debaixo do balcão e percebi que eu estava na despensa do bar, onde eram guardados os alimentos e bebidas servidos aos clientes no salão.
Ouvi alguém no corredor. A porta foi aberta e fechada novamente, como se a pessoa tivesse acabado de mudar de ideia sobre entrar lá ou não. Soltei a respiração, sentindo dor nas pernas por passar tanto tempo apertada dentro daquele cubículo. O bar deveria fechar dali a alguns minutos, e eu estava tão enjoada por conta do cheiro daquele lugar que me sentia incapaz de permanecer escondida por muito mais tempo.
A música foi desligada, as grades de ferro abaixadas até o chão e o vozerio dos funcionários terminou. Todos saíram pelos fundos, exatamente onde eu estava meia hora antes. Estiquei as pernas, empunhei a arma de Edward que eu havia roubado antes de sair do prédio da Fundação Hawk e deixei a sala, ansiosa para saber como seria aquele encontro. O corredor era iluminado apenas pelo letreiro verde neon acima da porta; o salão ainda estava bagunçado, como sempre ficava no final da noite, mas não por muito tempo, já que Quentin sempre garantia que ele estivesse em ordem assim que as portas fossem fechadas.
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Imogen - Amor e Vingança
Mystery / ThrillerO aniversário de vinte anos de dois terríveis eventos se aproxima; enquanto uma família perdeu sua joia mais preciosa durante uma festa, a outra perdeu tudo o que tinha em um incêndio. Enquanto uma família permaneceu nos holofotes, sempre perfeita...