Capítulo Cinquenta e Cinco

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Eu estava tremendo. Estava desesperada com tudo o que havia acabado de acontecer e sequer sabia como fazer para agir mais rápido e não acabar provocando uma reação ainda pior em Dan quando ele voltasse para a cidade e descobrisse o que eu havia feito.

Fiquei nos fundos esperando até que o furgão onde Murray e seu enfermeiro colocaram Quentin desaparecesse rumo à noite fria de Londres e depois tratei logo de me misturar ao cenário noturno também, decidida a voltar para Hammersmith andando e tentando ganhar algum tempo até ter de explicar para Edward onde é que eu havia passado a noite.

Contornei o beco que ligava o bar à rua da frente e precisei desviar de uma boa quantidade de latas de lixo e sacos plásticos empilhados no canto de um dos prédios. Agarrei a bolsa que eu havia roubado de Dan ainda mais embaixo do braço e apressei o passo, sabendo que era um risco andar por lá sozinha àquela hora. Quando alcancei a rua da frente, senti como se tivesse os pés cravados na calçada abaixo de mim.

De costas para mim, mas de frente para a rua do outro lado, onde seu carro estava estacionado, estava Edward; com as mãos nos bolsos e parecendo totalmente alheio àquele cenário em que estávamos metidos.

一 Como você consegue dormir quando mente para mim? 一 ele perguntou, virando-se para onde eu estava.

Eu podia ver a decepção nos olhos dele. Edward não era do tipo que sabia esconder suas emoções, mesmo as mais felizes provocavam nele expressões inconfundíveis. Eu gostava do formato que suas sobrancelhas adquiriam quando ele estava bravo, mas não achei que aquele fosse um bom momento para dizer isso a ele.

一 Como sabe que eu menti? 一 perguntei, cínica.

Tentei tocar o braço dele, mas tudo o que recebi foi um gesto de esquiva.

一 O que veio fazer aqui?

Olhei em direção à porta que ficava depois das escadarias lá embaixo. Desliguei todas as luzes antes de sair, e àquela hora o bar de Dan parecia apenas mais um lugar entre tantos outros de Londres. Nada de especial. Apenas concreto e grades de ferro que escondiam o covil de uma das pessoas mais perversas com quem eu já havia tido o desprazer de cruzar em toda a vida.

一 Eu tinha alguns negócios para resolver com o Dan, mas acabei descobrindo que ele está fora da cidade.

一 Que tipo de negócios você ainda tem para resolver com aquele homem?

一 Eu precisava de algumas coisas que estavam no cofre dele, e também precisava falar com o Quentin.

Havia confusão no semblante dele.

Quentin? O cara com quem você andava roubando por aí a um tempo atrás?

Ele mesmo. 一 Comecei a andar até o outro lado da rua, disposta a tirar a briga daquele lugar.

Edward veio logo atrás de mim, a passos duros pela rua. Entrei no carro e esperei que ele fizesse o mesmo, o que demorou para acontecer, já que eu imagino que ele tenha dado um tempo do lado de fora para tomar fôlego para a briga que teríamos em casa.

Quando ele entrou, segurou o volante firmemente com as duas mãos e dirigiu em silêncio por algum tempo.

一 Como foi o jantar da sua irmã? 一 perguntei, disposta a quebrar o gelo.

Ele evitou olhar para mim, e eu sequer recebi uma resposta para a pergunta que havia feito.

一 O gato comeu a sua língua?

Mais silêncio. Segurei a bolsa em meu colo e cruzei as mãos sobre ela.

一 Olha só, Edward, eu posso explicar, está bem?

Imogen - Amor e VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora