Capítulo Dezenove

31 4 301
                                    

Serena Hawk morreu na manhã de segunda-feira, vítima de um AVC hemorrágico enquanto ainda estava internada na UTI, se recuperando de uma angioplastia que tinha tudo para ser bem-sucedida.

A família recebeu a notícia como quem recebe uma punhalada pelas costas. Ninguém estava esperando, até porque, as notícias vindas dos médicos e enfermeiras horas antes é que tudo estava correndo bem.

Eu estava em meu apartamento quando recebi a notícia, sentada atrás da escrivaninha, respondendo alguns e-mails e comentários sobre a matéria que havia acabado de ser lançada junto com a edição daquele mês. Abandonei tudo ao receber a ligação de Edward, completamente desolado.

Eu não tinha cabeça para mais nada. Como conseguiria viver com toda aquela culpa? Eu comecei aquela história planejando uma coisa, e estava terminando-a de outra maneira; uma maneira horrível, diga-se de passagem.

Pensei em ir até a mansão e oferecer o meu abraço ou o meu apoio, mas cheguei à conclusão de que aquilo seria cinismo e que eu me odiaria mais ainda se me colocasse no lugar de amiga consoladora sendo que na verdade eu era a filha da puta naquela situação.

O velório e o enterro deveriam acontecer dentro de alguns dias, e eu sequer sabia se aguentaria ir até lá e fingir estar triste por aquela morte. Eu havia dedicado vinte anos de ódio àquela mulher e sua família, como seria capaz de chorar sobre o seu caixão e enxugar as lágrimas daqueles que a amavam? Eu era uma impostora.

No meio do dia, ignorando toda e qualquer ligação vinda do escritório, fui andando até a casa de Hilda, mesmo sabendo que não era mais bem-vinda lá. Eu sentia que apenas o choque de realidade que ela poderia me dar, me acordaria do transe que eu estava vivendo.

Ela estava sozinha com a enfermeira quando cheguei; Anna e Lucius estavam na rua e eu pedi para ficar com ela por algum tempo.

A mulher me deu algumas orientações sobre os remédios da tarde e sobre o volume da televisão. Desabei sobre a poltrona ao lado da cama e tentei prestar atenção no noticiário. O rosto de Serena estampava todas as matérias dos jornais locais; Londres estava de luto pela vida de uma mulher que havia contribuído muito para a educação de milhares de adolescentes ingleses durante décadas.

Cruzei as pernas sobre o sofá e ajeitei a postura. Minha mente inquieta não me deixava focar em nenhum pensamento por muito tempo.

一 Você conseguiu, não é? 一 Hilda perguntou, aumentando o volume da televisão.

Fiquei em silêncio. Algumas lágrimas queimaram o canto dos meus olhos.

一 Entrou na casa dela e conseguiu o que queria.

Continuei apenas ouvindo; fingi estar ocupada com o celular, mas foi inútil. Os olhos dela me fuzilavam, mesmo que estivesse meio sentada, meio deitada.

一 Você vai se arrepender por isso, Imogen. Nunca deveria ter procurado aquelas pessoas.

Olhei para ela e esperei que dissesse mais alguma coisa. Ela não disse. Estava me torturando por prazer.

一 Eu nunca planejei matá-la 一 foi tudo o que eu consegui dizer.

Ela deu uma risadinha, limpando um fio de saliva que estava prestes a escorrer pelo canto de sua boca.

一 Existe um abismo enorme entre o que você quer e entre o que você faz.

一 Não era isso o que eu queria, Hilda. Eu queria apenas dar uma lição nela, e não fazer com que ela tivesse um infarto e fosse para o hospital.

Ela balançou a cabeça, incrédula.

一 E como pretendia dar uma lição nela sem mandá-la direto para um caixão? Não banque a ingênua, Imogen.

Imogen - Amor e VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora