Capítulo Treze

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Serena ocupou-se em aparar os galhos delicados de um bonsai novo que Charlise havia acabado de colocar à sua frente na mesa de ferro e indicou a cadeira da frente para que eu me sentasse também. Ela me entregou uma tesourinha e pediu que eu a ajudasse com aquilo.

Cheguei bem cedo à mansão naquele dia, disposta a arrancar o máximo de informações que a velha pudesse me dar. Eu não podia prolongar por muito mais tempo a minha presença naquela casa, o aniversário do roubo estava chegando e eu precisava ter uma matéria pronta e boa o suficiente para colocar na mesa de Jonah ainda na próxima semana.

一 Como o Petit Serena entrou em sua família? 一 perguntei, ligando o gravador do celular enquanto a ajudava a podar a pequena árvore diante de nós.

一 Foi um presente do meu avô materno. Nós dois costumávamos ser muito amigos desde que eu era apenas uma garotinha. Eu tinha verdadeira adoração por ele; por tudo o que ele fazia. Ele havia lutado na Primeira Guerra, tinha tido contato com todos os tipos de coisas possíveis, e sempre tinha tanto a ensinar, sempre nos mostrava que tínhamos muito o que aprender com ele e com a religião que ele escolheu para seguir...

Ela deu um gole em sua água e fechou a garrafa novamente, voltando ao trabalho.

一 Meu avô era um homem com muitos amigos, muitas pessoas tinham um carinho inestimável por ele e pelos serviços que ele prestava à comunidade na época. Se temos um nome tão grande hoje em dia é tudo por causa do quanto ele se doou às pessoas e a Deus, sempre sem pedir nada em troca.

"Um dia, quando eu ainda era uma menina, ele foi em casa e disse que tinha um presente para mim. Eu estava acostumada a sempre ganhar coisas simples e pequenas, então foi um choque quando ele tirou de dentro de um saquinho de veludo aquele cubo preenchido com quatro pedras preciosas, lindas e brilhantes! Eu nunca vou saber descrever o que senti ao ouvi-lo dizer que aquele era um presente para mim, que eu era a garotinha dele e deveria cuidar daquilo como se fosse a coisa mais importante do mundo, e foi o que eu tentei fazer, até que tudo aconteceu..."

O olhar dela se perdeu por alguns instantes, e quando o segui, percebi que ela tentava recordar de algo que ia além dos muros de Josephine.

Naquela manhã de segunda-feira, haviam poucos alunos no pátio da escola, o sinal havia tocado a não muito tempo, então tudo parecia bastante calmo do outro lado do muro.

一 O seu avô algum dia disse a você quem foi que deu aquela peça para ele? 一 perguntei.

Ela negou, parecendo perdida.

一 Ele tinha muitos amigos. Pessoas de todo o tipo frequentavam os cultos em que ele pregava semanalmente. A igreja sempre estava cheia, e ele era muito bom com as palavras e com as pessoas, muito mesmo. Nem mesmo a minha mãe sabia de onde o Petit Serena havia saído, e acho que ela nunca perguntou por medo de ser repreendida por ele. Todos dizem que é falta de educação perguntar o valor e a origem de um presente, não é mesmo?

Assenti, me segurando para não levantar a hipótese de que o Petit Serena também havia sido fruto de um roubo e que provavelmente o bom pastor não era tão bom assim.

一 No último dia em que estivemos juntas, tive a sensação de que você e a sua família são muito unidos, apesar de tudo o que me disse em uma outra conversa que tivemos.

一 Sim, e nós somos. Bem, pelo menos, quase todos nós.

一 O que isso quer dizer?

一 Percebeu que na frente de onde você estava sentada havia duas cadeiras vazias?

Confirmei, apenas para que ela confirmasse a minha teoria de que as duas pessoas faltantes naquele almoço eram os pais de Edward e Ruby.

一 Bem, naquelas cadeiras eram para estar a minha filha Victoria e o meu genro, Peter. Eles são os pais do Edward e da Ruby, e atualmente moram na Irlanda do Norte, o que significa que quase nunca estão aqui conosco.

Imogen - Amor e VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora