Imogen - Amor e Vingança

Capítulo Vinte e Cinco

一 Também não conseguiu dormir por conta da chuva? 一 Peter, o pai de Edward perguntou, me encontrando no quintal antes do amanhecer.

A tempestade que havia cessado meia hora antes havia sido assustadora. Eu estava em Belfast a menos de vinte e quatro horas e já queria voltar para Londres.

一 Eu acho que nunca vi tanta água em toda a minha vida! 一 Sorri para ele, enrolando o casaco com força ao redor do corpo.

A verdade é que a chuva não era a culpada pela minha falta de sono, e sim os pesadelos que eu vinha tendo desde a noite em que finalmente entreguei o colar de pérolas a Dan.

A leitura do testamento havia acontecido no início da semana, e como fora dito por Edward, a velha havia mesmo deixado algo para mim. As pérolas que quase recebi diretamente das mãos dela na noite em que teve um piripaque, finalmente eram minhas. Eu não estava em seu testamento, mas ela havia deixado Victoria a par de seu desejo em me presentear com a joia, por isso a minha presença lá naquele dia era importante.

Foi tão incômodo estar entre eles enquanto aquela situação se desenrolava, que lembro de ter vomitado duas vezes no lavabo do corredor quando tudo terminou.

Eis as vontades de Serena Hawk antes de partir desta para a melhor: a mansão havia passado para as mãos de Ruby, pois de todos os netos de Serena, ela ainda era a única que não tinha um endereço para chamar de seu, apesar de morar com a avó já a bastante tempo; a Escola Cristã Josephine Hawk deveria permanecer em pleno funcionamento, mantendo Edward como o Diretor principal até que ele decidisse deixar o cargo, deixando-o livre para outro familiar ou professor de sua escolha e inteira confiança; cada um de seus filhos havia recebido uma propriedade ou empreendimento da família do qual deveriam tomar conta; Michelangelo herdou todos os carros da família, enquanto Ruby seria a dona de todas as joias restantes, e para Edward, ela havia deixado o prédio em Hammersmith, que ele já ocupava a meses, sem o conhecimento de seus familiares.

Todos foram muito pacíficos durante a leitura do testamento, e em momento algum eu vi qualquer um deles reclamar que Serena havia sido injusta ou que aquilo não estava certo; nem mesmo quando Victoria e o advogado citaram o meu nome e o colar de pérolas que com que ela estava me presenteando pelo trabalho que realizei junto a ela nas semanas anteriores à sua morte; não sei se isso deve ao cinismo que cada um deles tinha de sobra, ou se realmente eram desapegados de todos aquelas coisas que teriam de dividir uns com os outros.

Enquanto ouvia, tive a impressão e a quase certeza de que escândalos e brigas por conta de bens e heranças deixadas para trás só aconteciam nas casas de pessoas menos abastadas. Os Hawk, pelo contrário, apenas sorriam e cochichavam baixinho, como se estivessem agradecendo à velha por se lembrar deles antes de partir deste mundo.

Saí de lá direto para o bar de Dan, a fim de cumprir a minha parte em nossa barganha. Entreguei o colar a ele, permitindo que ele encomendasse uma réplica perfeita para que eu pudesse colocar no lugar da verdadeira; e fui embora de lá com a promessa de que quando eu voltasse de Belfast, seria colocada frente a frente com Joshua e enfim saberia a verdade sobre o incêndio.

Os meus pesadelos haviam começado naquela mesma noite, como se o meu corpo soubesse o que estava prestes a acontecer. Eu não conseguia pregar o olho por mais de duas horas desde então. Deixava Edward sozinho na cama e ia para a sala brincar com Eros, ou procurava algo para fazer que preenchesse o meu tempo e me mantivesse de olhos bem abertos.

Embarcamos para Belfast na sexta-feira bem cedo, e para evitar todos os transtornos que deveríamos ter para tentarmos levar Eros conosco, Edward achou que seria uma ótima ideia deixar Amanda como a babá do gato, sob a promessa de que ela receberia por aquilo. Os pais da garota não se opuseram, já que aquilo deixava claro que o diretor da escola a achava responsável o suficiente para realizar aquela tarefa.