Capítulo Quarenta e Quatro

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Depois

一 Quando a Sarah me disse que você estava precisando desabafar com alguém, eu não pensei que seria de uma maneira tão silenciosa 一 Jeremiah Brown, o psiquiatra da clínica disse, sentado na poltrona atrás de mim.

Eu acho que ele estava se referindo aos vinte longos minutos em que fiquei parada em frente à janela, que ficava no segundo andar do prédio principal, uma das poucas que tinha vista para a entrada de cascalhos que nos levava à saída da propriedade.

Fiquei curiosa de repente.

一 Montaram o seu consultório aqui de propósito? 一 perguntei, me virando para falar com ele; as mãos cruzadas atrás do corpo e a postura ereta.

Ele sorriu sugestivamente.

一 Do que está falando?

Voltei para a janela, sabendo que eu estava certa. O caminho até os portões era ladeado por árvores altas e bonitas. Tudo parecia mais verde com a primavera, e de onde eu estava, o único desejo que me ocorria era o de ir até lá e me deitar debaixo de qualquer uma delas.

一 Da vista que você tem aqui. Já percebeu que é uma das poucas que nos permite ter uma visão panorâmica da saída?

Ele cruzou as mãos em frente ao rosto e continuou sorrindo, me deixando interpretar como quisesse.

一 Acha que isso é bom?

Dei de ombros, vendo o carro de Fiona se afastar lentamente até os portões. A grande megera já estava indo embora, despedindo-se finalmente de seu turno cansativo de trabalho na clínica.

一 Se é bom eu não sei, mas que é algo proposital, isso nem você pode negar.

Proposital?

Confirmei, sem olhar para ele.

一 Nos obrigam a vir até aqui uma ou duas vezes por semana, e as cortinas sempre estão abertas, sempre nos deixando bem claro que há um mundo lá fora 一 mantive as mãos no batente da janela e colei a testa no vidro 一, de certa forma vocês não nos deixam esquecer o que ficou para trás.

一 Você gostaria de esquecer?

Você não gostaria? 一 devolvi a pergunta.

一 Por que não encara o caminho à sua frente como uma chance de recomeçar?

一 Quem disse que eu quero recomeçar?

一 O que quer então? Tem que ter algo em que você pense enquanto está sozinha em seu quarto.

一 Ah, eu penso em muitas coisas. 一 Desabei na poltrona do outro lado da sala fiquei observando enquanto ele rabiscava alguma coisa em seu bloco.

一 Cite uma delas.

一 Penso muito no bebê que abandonei quando cheguei aqui.

Ele olhou para mim, como se aquele fosse um assunto sobre o qual nunca conversamos.

一 Acha que fez o que era certo?

Cruzei as mãos sobre a barriga e apoiei a cabeça em uma almofada atrás de mim.

一 Se aquilo não era o certo a se fazer naquele momento, o que era então?

Ele voltou a rabiscar, concentrado.

一 Gostaria de ter ficado com o seu filho?

一 Não. Eu não sei; talvez sim 一 ponderei. 一 Nós dois sabemos que ele não ficaria bem comigo. Depois de todas as coisas que vivi enquanto ainda estava grávida, não acho que o melhor fosse condicionar aquela criança a viver a vida tendo uma mãe como eu.

Imogen - Amor e VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora