Capítulo Trinta e Um

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Quando estávamos liberados para voltar ao trabalho, eu sentia como se Londres já não fosse mais a mesma. Já haviam se passado dois dias desde que a última parte das denúncias haviam sido publicadas, e eu havia passado tanto tempo presa dentro do apartamento de Vitor que podia jurar que todas as cores do mundo estavam ainda menos nítidas e sem graça.

Uma crise sem precedentes havia se instaurado em todas as esferas da vidinha perfeita que os Hawk levavam a anos. De acordo com os noticiários, eles haviam decaído significativamente na opinião pública; seus atos altruístas realizados anteriormente haviam se tornado esquecíveis e sua contribuição para a sociedade londrina estava valendo menos do que nada.

Infelizmente Josephine havia sido afetada também, e a julgar pela expressão de poucos amigos que Edward tinha no rosto quando fora fotografado após uma reunião com um conselho de pais na escola, as coisas não iam nada bem. Eu lamentava por estar atingindo-o com aquele bombardeio de denúncias, mas nada podia ser feito para impedir já que ele carregava aquele maldito sobrenome como os demais.

Não havíamos mais estado juntos desde aquela noite no apartamento de Vitor, e isso só fez com que o estado mental em que eu me encontrava piorasse. Não comia direito e nem dormia o suficiente desde que aquilo tudo havia se iniciado; a sensação de que eu havia metido os pés pelas mãos não fazia a menor questão de me abandonar, e eu me sentia tão deslocada no mundo que até me esquecia qual havia sido a minha motivação principal para começar aquela sequência de bombardeios contra os Hawk.

Uma reunião havia sido convocada logo cedo na editora, e após dar uma passada em meu apartamento para vestir algo decente para a ocasião, tomei um táxi e me dirigi para lá.

Tentei me manter positiva durante todo o caminho, mas era impossível, já que Vitor teve a brilhante ideia de perguntar a Jamie qual era o teor da reunião, e após a sua cara de descontentamento denunciar tudo, eu só pude supor que a minha cabeça estava muito a prêmio.

Quando a porta do elevador foi aberta, eu senti que entraria em colapso antes mesmo de sair dele. Fugir certamente não era uma opção, mas a vontade era enorme de fazer isso. Minha boca estava seca, e eu tinha certeza que estava suando por baixo das roupas, mesmo que o clima não estivesse favorável a isso. Eu precisava me acalmar.

Poucas pessoas me dirigiram a palavra quando entrei, e embora eu soubesse que muito daquilo tinha a ver com a minha mania de me envolver em polêmicas, o que acabava chocando aos demais de maneira desnecessária, eu também tinha a certeza de que os últimos acontecimentos não haviam sido capazes de reverter a antipatia que metade do escritório nutria por mim.

A porta da minha sala estava trancada, inaugurando a sessão de estranhezas daquele dia. Os cumprimentos eram feitos com sorrisos amarelos e ninguém parecia disposto a me contar o que estava acontecendo. Desisti de tentar entender e me dirigi até a sala de reuniões, onde encontrei Jamie e o Sr. Variens já sentados, um na cadeira da ponta e outro à sua direita.

Haviam mais cadeiras dispostas ao redor da mesa de reuniões, o que indicava que teríamos companhia.

一 Bom dia 一 falei, ocupando a cadeira vaga ao lado esquerdo de Jonah.

一 Bom dia, filha 一 ele disse, dando um sorriso gentil. 一 Como você está?

一 Estou bem, e o senhor?

Ele anuiu em resposta, mantendo um sorriso forçado em seus lábios. Olhei para Jamie, que limitou-se a apenas assentir para mim educadamente.

一 Qual o motivo de eu não poder ter acesso à minha sala? 一 indaguei.

一 Você vai saber ao final da reunião. A Cintia está com as chaves.

一 É ridículo que você esteja agindo naturalmente após tudo o que fez nos últimos dias 一 Jamie disse, enquanto deslizava o dedo pela tela de seu tablet.

Imogen - Amor e VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora