Capítulo Cinco

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一 É bom te ter de volta em casa 一 falei, ajeitando os travesseiros nas costas de Hilda.

Lucius havia acabado de buscá-la no hospital, e eu fiquei preparando tudo para o retorno dela; cozinhando comida para a semana, trocando as roupas de cama, lavando as roupas que ela poderia sentir vontade de usar e etc.

Ela permaneceu em silêncio em sua poltrona. O médico disse que ela ainda permaneceria apática por alguns dias, mas que logo deveria começar a reagir, principalmente depois que a terapia de reabilitação fosse iniciada. Lucius e eu tivemos uma longa conversa na noite anterior, decidindo como pagaríamos pelo tratamento dela, e eu achei melhor assumir aquela obrigação pois era o mínimo que eu podia fazer por ela.

No começo ele pareceu um pouco relutante, mas garanti a ele que me sentiria melhor se pudesse pagar pelo tratamento, já que ele fazia todo o resto todos os dias.

Hilda ainda não conseguia mexer o lado esquerdo do corpo, e a todo o momento ela precisava enxugar o canto da boca com um lenço, o que eu percebi que a deixava bastante irritada. Era como se ela tivesse voltado a ser criança novamente, precisava de ajuda e de cuidados constantes.

一 A Anna vai trazer o seu almoço daqui a pouco, está bem? Tem mais alguma coisa que eu possa fazer por você, mãe? 一 perguntei, sentando-me na cama, de frente para ela.

Hilda fechou os olhos, incomodada. Eu havia acabado de pentear os cabelos dela e trocado as roupas cheirando a hospital por roupas frescas e com o cheiro que ela já estava acostumada.

一 O Lucius e eu encontramos uma moça muito legal para cuidar de você todos os dias. É claro que estaremos o tempo todo por aqui, mas ela tem um conhecimento maior sobre o seu estado e sobre como as coisas devem ser feitas agora 一 eu disse, mais para mim mesma que para ela. No fundo eu sentia que estávamos sendo negligentes por contratarmos alguém para fazer um serviço que deveria ser feito por nós dois.

Ela abriu a boca para dizer algo, mas pareceu desistir no minuto seguinte, como se fosse algo sem importância.

一 Você gostaria de dizer algo? 一 indaguei, observando-a com atenção.

Com os lábios entreabertos, ela permitiu que um filete de saliva escorresse pelo canto antes de enxugá-lo com o lenço.

一 Posso trazer um bloco de notas, se você quiser, aí você pode escrever para a gente enquanto não conseguir falar.

Vitor 一 foi tudo o que ela conseguiu dizer.

一 Você gostaria de vê-lo?

Ela assentiu, parecendo perdida.

一 Eu posso trazer ele aqui quando voltar. O que você acha?

Ela não teve tempo de responder, pois Anna entrou no quarto trazendo uma bandeja com o almoço para ela. Deixei as duas sozinhas assim que a difícil tarefa de fazê-la comer pelo menos um pouco foi finalizada, e após combinar com Lucius sobre a chegada da enfermeira, fui para o trabalho.

E agora, antes de continuarmos, se você que está lendo isso me permite explicar algumas coisas, eu gostaria de contar como foi que Ava Hardy se tornou Imogen Northwest, uma ladra de joias que nunca deu a ninguém o prazer de ser pega. Eu espero que você esteja bem acomodado, pode ser que eu demore um pouco para concluir. A história é longa, e eu preciso me defender.

[...]

Eu nasci na Bélgica. Para ser mais precisa, em uma cidade chamada Namur, no Sul do país. A minha mãe se chamava Louisa Hardy, ela era costureira e depressiva o bastante para esquecer de seus próprios filhos por vários dias seguidos. Ela era casada com um homem asqueroso chamado Richard Baldin, dono de uma loja de tecidos no centro da cidade.

Imogen - Amor e VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora