Capítulo Sessenta e Quatro

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一 O Dan pediu que eu te acomodasse aqui até a chegada dele 一 Petros, um dos funcionários mais antigos do bar informou, abrindo a porta do escritório de Dan para que eu entrasse. 一 Ele não deve demorar, fique à vontade.

一 Obrigada, Petros 一 falei, me acomodando na poltrona atrás da mesa.

O homem saiu e me deixou sozinha, apavorada com o que aquele encontro poderia acarretar. O tempo pareceu não passar dentro daquela sala abafada, e diferente de outros momentos em que eu adorava ir até lá, naquele dia eu estava quase colocando tudo para fora.

Trouxe de volta à minha memória o primeiro dia em que estive naquele escritório. Eu estava assustada por ter sido pega no flagra, mas deliciada com a oferta que recebi do dono do carro que tentei roubar no estacionamento. Eu definitivamente não estava esperando sair de lá empregada, mas naquela época a vida parecia estar sorrindo para mim mais do que o normal, e já que eu não tinha nada a perder, sequer cogitei a possibilidade de dizer não para a proposta de Dan.

No começo tudo era fácil. Eu deveria apenas acompanhar os capangas dele em festas onde ele já tinha suas vítimas de roubo estabelecidas. A orientação era que eu deveria apenas observar e aprender, mas com o tempo eu me mostrei muito mais capaz do que isso, e já não estava mais disposta a continuar realizando pequenos roubos por fora se eu podia ser útil em coisas grandes, como aquelas que Dan planejava e executava com maestria.

Foi um pouco difícil provar o meu valor e a minha capacidade para os demais, mas quando demonstrei ser mais ágil e silenciosa que alguns de meus colegas, logo caí nas graças de Dan, que passou a não abrir mão da minha presença nos roubos grandes. Ter crescido como uma ladra tinha suas vantagens, e quando eu me dei conta de que elas costumavam abrir portas para mim, não pensei duas vezes antes de aproveitar.

Trabalhar na Variens e intercalar as minhas matérias com os roubos era a parte mais louca em tudo aquilo. Diversas vezes publiquei notícias sobre roubos dos quais eu mesma havia participado, e só consegui fazer tudo com naturalidade graças ao meu cinismo, que não me abandonava nem mesmo na hora de dormir.

Aquela vida era maravilhosa. O sentimento que um quase flagra causava em mim era sempre contagiante, até não ser mais. Depois que fui descoberta por Vitor, senti como se a minha adrenalina já não atingisse os mesmos picos, e após obrigar a mim mesma a diminuir os trabalhos que vinha realizando, senti que aquilo estava perdendo um pouco a graça também.

一 Você aceita uma bebida? 一 Petros voltou a entrar na sala, com um pano pendurado no ombro direito e me analisou por alguns segundos.

一 Não, eu estou bem. Obrigada.

一 Tem certeza? Você está pálida.

一 Só estou cansada, Petros, não se preocupe.

一 O Dan ligou e disse que está a caminho 一 ele informou, passando o pano sobre a tela do computador que estava um pouco empoeirada.

一 Ótimo 一 sorri 一, eu mal posso esperar para vê-lo.

Petros parecia um pouco sem jeito, e eu podia jurar que estava prestes a me perguntar algo se não tivesse sido interrompido bem a tempo pela chegada de Dan, que nos encarou como se fôssemos insetos ao passar pela porta de seu escritório.

一 Há algum motivo especial para ter abandonado o seu serviço lá na frente para vir bater papo aqui dentro? 一 perguntou a Petros, irritado.

Petros negou, sem esmorecer.

一 Só estava perguntando se ela gostaria de beber alguma coisa.

Dan digitou sua senha no cofre, largou a bolsa de couro que havia acabado de carregar para dentro do escritório lá dentro e finalmente se virou em minha direção, sério.

Imogen - Amor e VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora