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• V I TO R I A  C L A R K E •

Faz dias que eu não o vejo, estou tão irritada com ele, por ter me deixado daquele jeito, ter me provocado e depois ir, como se não tivesse feito nada e ainda me forçando a me tocar depois, eu tive que fazer isso pelo menos dois dias seguidos para conseguir conter a queimação apenas em pensar naquele homem. 

Mas hoje eu pretendo deixar as coisas ainda piores, deixo a irritação tomar conta da pouca inteligencia que me resta e decido ir procurá-lo, eu tentei evitá-lo por dias, até pedi para o motoboy da empresa entregar o contrato com a intenção de não vê-lo, mas é impossível!

Cada parte de mim pede por mais, eu mal consigo me concentrar no trabalho nesses últimos dias e todas às vezes que fecho meus olhos eu o vejo, perto de mim, me encarando e segurando minhas mãos, a sensação, o desejo... seu toque... é como se eu revivesse tudo de novo outra vez. 

Paro meu carro no estacionamento de visitantes da empresa e desço do mesmo, antes de entrar na empresa confiro minha roupa pelo vidro, o vestido amarelo perfeitamente ajustado em meu corpo, alguns cachos soltos no cabelo preso no topo da cabeça totalmente desajeitado, um coque mal feito, mas é esse que dá totalmente o charme e para completar o salto alto no mesmo tom do vestido.

Antes de entrar uma sensação pesada encobre meu peito pressionando todo meu corpo, suspiro e encaro as portas de vidro criando coragem de entrar. 

Engulo em seco e respiro fundo reunindo forças para os olhares intrigantes que vou receber assim que colocar o pé dentro, e então faço, entro na empresa e para a minha surpresa uma das recepcionista abre um lindo sorriso assim que me vê, sorrio de volta educadamente enquanto me aproximo torcendo para que nenhuma delas me reconheça então não tenho exatamente ao que temer.

— Bom dia Senhorita Clarke — diz me deixando confusa, elas me conhecem, mas a pergunta é como. 

— Bom dia, como você sabe quem sou eu?

— Me desculpe — pede sorrindo meio sem jeito — nós ficamos sabendo dos ocorridos do ano passado — fala baixinho dando de ombros e meu peito se aperta, definitivamente, todos aqui sabem quem sou eu.  

E como não saberiam, Yan o filho do dono da empresa traiu a sua noiva com sua melhor amiga, quem em sã consciência deixaria essa fofoca fora, não é mesmo? 

Me lembro de todos os anúncios que saíram na época, meu rosto estampado em várias capas de revistas e sites, foi horrível. 

— Ok — consigo dizer após absorver a informação — poderia avisar Senhor Carson que eu estou aqui por gentileza — peço seriamente já começando a ficar de mau-humor. 

Ela liga para ele e anuncia minha chegada, concorda algumas vezes com a cabeça enquanto Calvin deve estar falando alguma coisa para ela do outro lado da linha e desliga logo em seguida. 

— Senhorita Clarke, pode subir, pelo elevador principal por gentileza — diz sorrindo — ele faz questão.

— Tudo bem, muito obrigada — respondo sorrindo educadamente enquanto caminho até o elevador.

Confesso que é muito estranho entrar aqui e pedir para ser anunciada ao Senhor Carson, nas outras vezes que estive em uma das empresas Carsons não precisava ser anunciada e muito menos eu ia para falar com o Calvin.

Eu simplesmente entrava e ia direto para Yan, que sempre me recebia com um sorriso no rosto independente do que estivesse acontecendo sob a bagunça na sua mesa de trabalho, a lembrança é ruim e faz meu estomago revirar. 

Mas não é por isso que vim aqui, é para acabar de vez com essa merda toda. 

Respiro fundo dentro do elevador com a lembrança dolorida, é estranho como sentimento por ele mudou, não que não precisasse, porque eu realmente precisava esquecê-lo, depois de toda a traição, depois de tudo, já não sei mais distinguir o que foi verdadeiro entre nós dois e o que foi pura mentira. 

Eu simplesmente não consigo mais amar Yan, não que eu amasse mesmo antes de Calvin chegar, mas o que eu sinto pelo Senhor Carson nesse momento está superando qualquer expectativa e sentimentos que eu tinha pelo seu filho, é estranho e bom ao mesmo tempo. 

As portas se abrem no último andar, e tudo parece acontecer tão lento que eu até acho que estou sonhando.

O corpo de Yan surge em meu campo de visão enquanto as portas 

Yan está parado a alguns passos da porta aberta que apita esperando que eu desça, ele usa um terno cinza escuro, está sem a barba, o cabelo bagunçado, meus olhos estão marejados e meu coração dispara de imediato. 

Seus olhos sobem devagar pelo meu corpo e eu sinto a pele queimar por onde ele passa, meu lábios entreabertos com a respiração pesada até que finalmente nossos olhares se encontram, é como uma onda que me atravessa, dolorosamente. 

As lembranças que vivi com ele começam a aparecer em minha cabeça, cada uma delas, rapidamente, o sentimento, a sensação dos seus beijos em minha pele, até chegar na dor, o quanto foi dolorido saber da sua traição, da traição dos dois, mas ainda piora, quando vejo a aliança em seu dedo.

É como uma faca em meu peito, dolorida e eu não posso controlar a lagrima que sai, descendo quente pela minha face.

— Vitoria — Yan sussurra tão surpreso quanto a mim, mas eu não consigo falar, as palavras simplesmente sumiram do meu vocabulário e meu corpo todo parece estar em transe olhando para ele.

DOCE TRAIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora