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— Eu realmente não sei o que te dizer Yan — é a única coisa que consigo dizer, estou tão decepcionado nesse momento que as palavras me faltam.

— Sinto muito por não ser o filho que você sempre quis — fala e soa como uma facada em meu peito, me dó saber que ele se sente dessa maneira, afinal, acima de tudo, ainda é meu filho. 

— Você foi, por um tempo, até toda essa merda acontecer — falo, voltando a me sentar, antes de continuar aponto para a cadeira em minha frente e ele apenas concorda com a cabeça se sentando — em que momento você decidiu isso? Fazer tudo isso? — pergunto, curioso.

— Só aconteceu pai, já faz um ano — lamenta.

Eu o encaro por alguns segundos, seus olhos perdidos, por mais que tenha feito tanta merda ele ainda é meu garoto, e ele parece tão confuso, tão distante dele mesmo, como eu não pude notar isso antes? 

Talvez se eu tivesse percebido nada disso teria acontecido, talvez eu não teria me aproximado de Vitoria dessa maneira, mas isso não é o que eu quero, com toda certeza, eu preciso me aproximar dela, é uma necessidade que me consome. 

— Ela continua machucada — comento, lembrando a ele o quanto Vitoria está ainda machucada, sentindo sozinhas as consequências dos atos desses dois idiotas.

Yan me fita, seus olhos ficando pequenos no rosto, cruzando as mãos sobre a mesa e eu me afasto, encostando o corpo na cadeira deixando a mesma até deitar um pouco para trás. 

— Como você sabe? 

Talvez porque eu tenha me aproximado dela, até demais se vem ao caso... a imagem dela de ontem a noite me vem a mente de imediato, a seus lábios entreabertos, o suspiro pesado o doce som do seu gemido... faz minha pele se arrepiar e pigarro disfarçando a sensação gostosa que sobe. 

— Vitoria mora aqui, em Londres — respondo depois de alguns segundos, me recompondo. 

Yan fica surpreso, encostando na cadeira atrás de si. 

— Aqui? — pergunta ainda confuso, é visível em sua fisionomia.

— Sim.

— Merda — resmunga suspirando e passando as mãos pelos cabelos bagunçando enquanto eu o fito apreensivo. 

Em algum lugar em minha mente está com medo, é um sentimento novo e estranho ao mesmo tempo, eu não sei qual será a reação dela quando souber disso tudo, vai ser sua destruição ou talvez finalmente ela vai cair em si e se reerguer.

Mas o que eu mais desejo mesmo nesse momento é que ele não se aproxime dela novamente, talvez eu não vou ser tão paciente por uma segunda vez. 

— Espero que não tenha vindo aqui atrás dela — começo, deixando o ciúme tomar conta de mim, os olhos de Yan vem para mim e ele deita a cabeça um pouco para o lado, mas nessa altura já não me importo mais, apenas curvo o corpo para frente apoiando as mãos sobre a mesa — eu juro por Deus Yan, eu não vou responder por mim se encostar nela de novo.

— Não pretendo me aproximar dela — responde de imediato, a voz sai tão serena que até desconfio que esteja falando a verdade, afinal, não é a primeira vez que ele mente — o quanto ela ficou machucada? 

Reviro os olhos e bufo.

— Acho que isso não é da sua conta — respondo grosseiro. 

— Eu sinto a falta dela pai — lamenta e eu aperto os dedos entre eles mesmo segurando para não estourar novamente em sua frente. 

— É bom parar de sentir — afirmo convicto e sério — agora você tem uma noiva e um filho vindo aí, precisa ser fiel a eles Yan e não um babaca de novo.

Ele aperta os lábios concordando com a cabeça e desvio os olhos de mim por alguns segundos, quando volta a me encarar tem um sorriso, mas não parece realmente feliz. 

— E então, posso voltar para a empresa? 

— Sim — respondo concordando mas antes que ele possa dizer algo emendo — porém, não aqui, em Nova Orleans, então espero que volte quanto antes.

— Mas eu acabei de chegar — lamenta e eu o encaro, sabendo muito bem qual é a sua intenção de ficar. 

— E já está na hora do voltar, não quero arriscar Vitoria de ver perambulando por aí — aponto voltando a minha atenção ao contrato em minha frente, a sua letra perfeitamente alinhada, suspiro e subo o olhar para Yan novamente quando abre o bico.

— E, por que ela me veria? 

— Tenho negócios com ela aqui — falo apenas o necessário cortando o assunto, ele abre a boca em perfeito espanto. 

— Me deixe ficar mais, volto amanhã, prometo me comportar — o sorriso que ele dá em seguida já me mostra que se comportar é a última das coisas que ele pretende fazer estando aqui em Londres. 

— Não testa a minha paciência de novo filho — peço e desvio os olhos dele já ficando cansado dessa conversa — não sei se uma próxima vez eu vou conseguir me controlar. 

— Tudo bem — fala estalando a língua e se levanta em um baque — prometo ir embora amanhã de manhã, eu preciso descansar, foi uma viagem longa — fala enquanto o encaro por cima dos documentos, apenas fitando a sua cara de pau — prometo ficar muito longe de Vitoria, ela nem vai saber que estive aqui. 

— Ela vai sim, mas não vai te ver — concluo e indico a porta para ele com a mão, que concorda com a cabeça e sai em seguida fechando a mesma atrás de si. 

Como se fosse programado, o telefone em minha mesa toca me fazendo pular no lugar, atendo no segundo toque. 

— Carson.

— Senhor, Vitoria Clarke está aqui para vê-lo — a secretária do andar diz e meu corpo congela, de imediato.

MAS QUE PORRA!!! 


DOCE TRAIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora