14 - LONDRES

559 32 0
                                    

• V I T O R I A C L A R K E •

1 ano depois...

Acordo com o sol batendo forte em meu rosto, abro os olhos devagar até me acostumar com a claridade, o rosto afundado no travesseiro, pisco várias vezes tentando me situar onde exatamente estou, corro os olhos pelo local completamente desconhecido, bonito, mas desconhecido, pelo menos por agora.

O quarto grande e luxuoso até se parece como meu, conforme olho mais vejo alguns emblemas do Grand Hotel Monárquico, onde estou ficando durante minha pequena e dolorosa estadia em Londres, sento na cama macia e sinto a brisa que vem da janela bater em meu corpo, baixo o olhar, estou nua, completamente, puxo o lençol para o corpo rápido demais, que faz minha cabeça girar.

Provavelmente eu deva ter bebido mais do que deveria na noite anterior, não que isso não tenha virado rotina, porque virou, depois de tudo o que aconteceu, fugir daquela cidade, dos meus problemas, da humilhação de sair e acabar esbarrando com o mais novo casal, estava fora de cogitação, e a bebida, noitadas, acabaram sendo minhas aliadas para enfrentar o buraco que se formou em meu peito.

— Ai — reclamo baixo colocando a mão na cabeça que lateja, fechando os olhos quando a dor fica mais aguda, aumentando e fazendo tudo girar de novo.

— Ressaca linda? — voz masculina chama minha atenção e abro os olhos assustada, viro o rosto a ponto de ver um lindo moreno usando apenas uma cueca box preta e um sorriso maravilhoso nos lábios parado no batente da porta para o banheiro, seus olhos sorrindo com os lábios, e continua quando não respondo — você se lembra de alguma coisa? — pergunta, dessa vez ouso responder.

— Não muito — eu realmente não me lembro de nada, apenas que ontem eu sai para uma festa, me lembro de ter realmente bebido, até consigo me lembrar dele, vagamente, dançando comigo entre uma música e outra, nossos corpos suados se esfregando, mas além dele me lembro também de outra pessoa, totalmente diferente, corro os olhos pelo quarto para garantir que seja apenas ele.

— Certo, nós bebemos muito ontem e depois acabamos aqui, pelados — ele sorri de novo e se aproxima enquanto eu me ajeito na cama puxando mais o lençol para mim, a cabeça parece girar e girar — Vitoria, só para deixar claro, tudo o que fizemos aqui foi consensual.

Ele sabe meu nome... então eu deveria saber o dele? Merda, dessa vez eu realmente fui longe demais. Levanto rapidamente da cama, em um pulo estou de pé e me esquivo dos seus braços que vem em minha direção.

— Eu acredito em você — respondo seca rodando pelo quarto enrolada no lençol procurando minhas roupas, até achar a calcinha preta fina próxima à poltrona grande do quarto, me pergunto como ela veio parar tão longe, ou começamos a fazer algo por aqui? Pego a calcinha rapidamente do chão e me viro de costas para ele deixando a toalha cair e a coloco rapidamente.

— Você sabe que vi tudo isso ontem não é? — o engraçadinho comenta tirando sarro da minha cara, escuto a sua risada e reviro os olhos, por que os homens tem piadas tão sem graça?

— Eu sei, mas não significa que tenha que ver de novo — esclareço me virando para ele com um sorriso amarelo após colocar o sutiã, puxo meu vestido de um emaranhado de roupas no chão e o passo rapidamente pela cabeça ajustando ao corpo.

O homem que até agora não me lembro quem é, está sentado na cama, o sorriso ainda em seus lábios, os braços grandes cruzados sobre o peito, ele me olhar de baixo a cima, me faz arrepiar e engolir em seco.

— Vamos nos ver de novo? —  pergunta enquanto volto a minha atenção nas minhas coisas, vasculho pelo local até achar minha bolsa em baixo da cama, apenas com a alça aparecendo.

— Provavelmente não — respondo sincera e paro na sua frente, ele ainda sorri para mim, provavelmente achando graça de tudo o que estou fazendo, ou pode ser também algum problema psicológico já que não para de fazer isso — obrigada pela noite, é uma pena que eu não me lembre de nada — dessa vez quem sorri sou eu e saiu do quarto rapidamente pegando meus sapatos que estão próximos à porta.

Passo pelo corredor extenso do Monárquico, tão bem conhecido por mim, afinal é aqui que eu estou ficando há quase um ano, depois de todo o ocorrido com Yan e Lucia, a única coisa que me passou pela cabeça foi fugir, correr, o mais longe possível e recomeçar.

Mas não foi bem isso que fiz desde que cheguei, deixei a empresa do meu pai e vivo das minhas economias e mordomias por ser filha de Edmundo Clarke, meu pai não pode sonhar a vida que eu ando levando, festas, bebedeiras, noites mal dormidas e sexo, muito sexo, mas nunca mais de uma vez com a mesma pessoa, às vezes com duas pessoas ao mesmo tempo...

Ele não reagiria muito bem a isso, de maneira alguma permitiria que sua filhinha vivesse dessa maneira, se oferecendo e transando com qualquer um que vê pela frente, por isso manter tudo em segredo é a melhor opção.

Não posso dizer muita coisa sobre mim, nesse momento, meu coração é uma pedra, ninguém mais entra, a última pessoa que entrou fez questão de destruí-lo para sempre. Mas isso não me impede de aproveitar a vida e transar bastante, afinal, tem algo melhor do que isso?

Pego o elevador e aperto o botão da cobertura, diretamente para a minha cobertura, minha cabeça continua estranha, mas deve ser devido o tanto que bebi na noite anterior, alguns flashes de tudo o que aconteceu me vem a mente, risos, luzes, beijos, sexo... JONNY, o nome do moreno explode em minha mente com uma pontada dolorida.

A porta se abre diretamente na minha cobertura, saio do mesmo jogando os sapatos no canto com alguns outros e a bolsa em outro lado, vou diretamente para o sofá e jogo meu corpo de uma vez fechando meus olhos.

Mesmo de olhar fechados tudo está girando, os sintomas de uma noite bem aproveitada, suspiro e sorrio me lembrando de Jonny e o quão bom ele é no que faz, talvez eu possa pensar em algum dia repetir a dose, quebrando uma das minhas regras, de não dormir com a mesma pessoa mais de uma vez, a ideia é não se apegar e não deixar que ninguém se apegue em mim.

Escuto a porta sendo aberta e abro os olhos imediatamente me sentando no sofá, escuto a porta se fechando e encaro o corredor apreensiva, deve ser o pessoal da limpeza, mas infelizmente não era.

DOCE TRAIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora