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Após nossa breve conversa na cama e digo que única até então o clima mudou, não parece ser mais uma despedida conforme esperávamos, mas sim, um até breve, estranhamente eu me sinto bem, não estou mais sentindo aquela tristeza de ter que deixá-lo, me sinto mais forte e pronta para enfrentar o que vier pela frente e acredito que ele estará comigo ao meu lado em todos os momentos. 

O caminho para Heathrow não é muito longo, mesmo que eu deseje que demore o quanto puder, mas digamos que em menos de 45 minutos eu já esteja separada de Calvin, mas ele não parece estar com pressa, muitas vezes o pego andando com a velocidade menor do que o permitido.

Viro o rosto para Calvin, saindo da linda paisagem que passa devagar ao meu lado para o homem que está tão concentrado em sua frente, mas aparentemente está mais preocupado em ir devagar do que chegar rápido ao nosso destino, seus dedos estão apertados em minha coxa por cima da calça jeans, coloco minha mão por cima da sua e ele desvia os olhos para mim por alguns segundos. 

— Porque você não vem, comigo? — sugiro essa pequena e simples opção, mesmo sabendo que ele poderá negar.

— Não posso agora — diz baixinho parecendo se irritar com ele mesmo por negar esse tipo de coisa, eu aperto os lábios e apenas espero que ele continue e assim faz — eu gostaria muito, mas ainda tenho coisas para resolver aqui, preciso terminar o que comecei.

— Achei que tinha vindo aqui para cuidar de mim — falo sorrindo lembrando ele das suas palavras, posso ver o sorriso aparecendo em seu rosto o que faz o ambiente se iluminar, ele para no sinal e vira o rosto para mim.

— Sim, e eu fiz isso — comenta sorrindo e apertando mais seus dedos em minha perna.

— Muito bem aliás — sussurro virando o rosto tentando controlar minha língua grande, mas é tarde demais, Calvin ri, sua risada ecoando pelo carro enquanto ele volta a dirigir quando o sinal abre.

— Estarei em Nova Orleans no final de semana — comenta após alguns minutos chamando minha atenção, eu o encaro novamente e ele vira o rosto para mim rapidamente enquanto fala — festa das junções das empresas.

Merda! Eu havia me esquecido, se eu não fosse tão desligada teria me dado conta disso antes e ter adiado essa volta para semana que vem, mas ainda dá tempo...

— Eu havia me esquecido — comento desviando os olhos dele perdida em pensamentos, tentando calcular qual seria o meu prejuízo em ter que cancelar minha ida e voltar para o hotel até que ele comenta:

— Espero que você esteja lá.

Sua colocação chama minha atenção voltando a encará-lo, mas ele parece tão concentrado em parar o carro em uma vaga pequena que eu mesma não teria capacidade para isso, já teria desistido e procurado outra, talvez a quarteirões de distância para poupar a minha saúde mental.

Espero até que ele termine, apertando os lábios pensando se realmente eu iria para lá, não é uma coisa que eu gostaria muito de compactar e ainda por cima arriscar ver Yan e Lucia juntos, não iria me machucar, mas poderia machucar Lucia, com o soco que estou pronta para dar na sua cara.

— Eu não sei se me sinto pronta para encarar tudo — solto finalmente e ele me olha assustado, os olhos grandes em sua face e seu corpo todo virado para mim.

— Achei que era por isso que estava indo embora — fala parecendo estar irritado me encarando.

— Em partes, sim — respondo meio sem jeito e segurando a risada e antes que ele possa dizer alguma coisa ou até mesmo tentar de novo me convencer a ficar e ir embora com ele no final de semana, desço do carro, posso ouvir o seu bufar e sei que está revirando os olhos e passando as mãos pelo cabelo exasperado e assim que ele sai do veiculo faz exatamente o que imaginei, sorrio — o quanto eu irrito você? — questiono dando a volta no veiculo enquanto ele abre o porta malas.

— Em qual escala? — diz pegando duas malas em cada mão e colocando no chão enquanto dou risada do seu jeito, mesmo sem me olhar posso vê-lo sorrindo tirando as última mala do carro.

Calvin sai de perto de mim rapidamente apenas para pegar um carrinho de apoio, e quando volta faz questão de ajeitar todas as minhas coisas ali em cima, ele se ajeita atrás do carrinho e eu sem pensar entrelaço o braço no seu, posso sentir seu olhar preso em mim mas finjo não perceber, mas meus dedos me entregam apertando mais os dedos em seu braço. 

— Se não quiser ir, pode ficar, sabe disso não é? — sussurra enquanto entramos.

— Eu preciso ir sozinha primeiro, enfrentar tudo, mas estarei ansiosa para o final de semana — comento sorrindo olhando para ele que sorri de volta e apenas acena um sim fraco com a cabeça enquanto entramos para o lugar mais agitado que já vi. 

Parece que fomos tirados da nossa bolha em um empurrão brusco, as vozes altas soando ao nosso lado, o som alto dos anúncios do aeroporto, são tantas pessoas correndo para lá e para cá, com malas ou maletas, arrumadas ou não, em vários idiomas, mal consigo me concentrar em uma coisa apenas e eu já começo a sentir a falta do silêncio do meu quarto, onde apenas a minha respiração e a dela podia ser ouvida.

— Vem, vamos fazer tudo já, deixar pronto e apenas aguardar a tortura do seu voo — comenta revirando os olhos e eu rio baixinho apertando mais em seu corpo deitando a cabeça em seu braço, dessa vez ele sorri e nós caminhamos juntos pelo local movimentado aproveitando o momento.

DOCE TRAIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora