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Vitoria sorri para mim parecendo estar satisfeita com a minha reação, o que em deixa ainda mais desconfortável, encaro ela que toma o restante do líquido devagar, ela está me provocando, mas por quê?

Sinto arrepio percorrer pelo meu corpo e respiro fundo tentando ignorá-la, me debruço sobre a mesinha enchendo meu corpo novamente e subo o olhar para ela, indicando a garrafa.

— Mais um copo?

Seus olhos descem para a garrafa em meus dedos e depois voltam para mim, que continuo encarando ela, seus olhos pretos ficam pequenos no rosto e um lindo sorriso em seus lábios aparece.

— Está querendo me embebedar Senhor Carson? — pergunta provocativa, faz meu corpo todo enrijecer, mas que merda está acontecendo com essa garota?

Aperto os lábios encarando ela que ainda sorri para mim provocativa, mas não sorriu de volta apenas levanto o corpo voltando a me sentar adequadamente na poltrona.

— E por que eu faria isso? — questiono e percorro os olhos pelo seu corpo esticado sobre o sofá novamente, cruzo as pernas e levo o copo a boca tomando um gole da minha bebida.

— Eu não sei, talvez para abusar de mim — diz e se estica sobre a mesa enchendo seu copo, sorrio de canto ainda com o copo nos lábios, talvez seja a bebida, ou a sua sanidade já esteja fora de controle, Edmundo disse que ela está estranha e fora de si, para dar em cima de mim assim, só pode estar fora de si, porém, não recuo, jogo o seu jogo.

— Qualquer coisa que eu queira fazer com alguém, prefiro que ela esteja bem lucida, para poder se lembrar de tudo depois — falo devagar, cada palavra cantada, posso ver quando ela se mexe um pouco desconfortável e seus lábios se abrem com um suspiro que escapa, mas seus lindos olhos em nenhum momento saem de mim, dessa vez eu sorrio, descaradamente antes de tomar mais um gole da bebida que desce queimando de novo pela garganta.

— Que tipo de coisas? — questiona curiosa.

— Com você?

— Se o Senhor quiser... — provoca novamente.

— Na verdade, com você eu até tenho uma coisa em mente — assumo, instigando sua vontade, ela sorri de canto e seus olhos brilham em mim, eu a encaro deitando um pouco a cabeça para o lado e passo a ponta do dedo pelo meu lábio prendendo a atenção dela ali.

— E qual? — sai como um sussurro, não parece ter sido planejado, mas ela parece abalada.

Estalo a língua e me ajeito na poltrona rapidamente deixando o copo sobre a mesa de centro enquanto falo:

— Fechar um negócio de grande proporção! — digo animado, tirando toda aquela tensão do flerte, ela pisca algumas vezes parecendo perdida, respira fundo e se ajeita no sofá, ficando de frente comigo dessa vez, suas pernas longas bem na minha cara.

— Comigo? — pergunta confusa, mas eu só consigo olhar seus joelhos, suspiro e sinto o arrepio percorrer por cada parte de mim quando ela abre as pernas um pouco, mostrando mais do que deveria.

— É você que está tomando conta da empresa do seu pai aqui, ou estou enganado? — pergunto desviando os olhos do meio das suas pernas para ela, que tem um sorriso sem vergonha, novamente, me deixando perdido.

— Sim, sou eu — simplesmente diz, como se não estivesse acontecendo nada, como se ela não estivesse se mostrando para mim, aqui, na sala da sua casa a quase três horas da manhã.

— Então é com você mesmo que eu gostaria de conversar, sóbria, obviamente — comento e me levanto, eu preciso de ar, viro de costas para ela e fito as janelas longas, o céu escuro e a cidade brilhosa lá em baixo, passando a mão pela barba e os cabelos.

— Então sinto muito — sibila me forçando a olhar novamente para ela, que agora mantém a perna cruzada, o tecido peludo do roupão subindo novamente pela sua coxa, me pergunto se tem mais alguma coisa de baixo daquele roupão ridículo — terá que ser segunda, porque hoje sóbria é a última coisa que eu quero ficar — fala sorrindo descaradamente me fazendo arrepiar.

Eu a encaro, sem entender como aquela doce garotinha se transformou nisso, uma mulher, provocativa e sensual, sem nenhum escrúpulos ou modos, ela está perturbando minha cabeça!

Como em um ano ela mudou da água para o vinho? O trauma que meu filho causou a ela foi mais do que eu imaginaria, por algum momento até achei que Edmundo estava exagerando a respeito da sua filha, mas vendo ela aqui, assim, agora, sei que estava falado a verdade.

Nunca imaginaria Vitoria dando em cima de mim, se mostrando para mim, realmente, ela precisa de ajuda.

— O que te faz querer beber assim Vitoria? — questiono, encarando ela, seus olhos se apertam em cima de mim e se levanta rapidamente arrumando seu roupão e então consigo ver pedaço do pijama por baixo, há mais tecido por baixo, o que me tranquiliza.

— Problemas — respondo grosseira e indo para a cozinha com seu copo pela metade nas mãos, eu a sigo, devagar, em passos curtos.

— Duas da manhã e você está tendo problemas? — pergunto de novo, insistindo no assunto, ela me olha por cima dos ombros, não parece nada feliz com a minha insistência, joga todo o líquido do seu copo dentro da pia deixando o copo ali em seguida e então se vira para mim cruzando os braços sobre o peito e se apoiando na pedra da pia atrás de si.

— Digamos que seu filho ainda atrapalha meu sono.

É como um balde de água fria em nós dois, no clima, na conversa que antes estava acontecendo normalmente, sua fisionomia muda, não parece brava, mas triste, o seu coração deve estar tão quebrado quanto ao meu.

— Sinto muito por tudo o que ele fez a você — falo com sinceridade.

Seus olhos saem do chão para mim, lacrimejando, meu peito se aperta e preciso respirar fundo para poder tomar ar, a alguns passos dela enquanto, na verdade, uma grande parte de mim suplica para que eu me aproxime e a abrace, mas com a bebida em minhas veias e os flertes anteriores, acredito que seja arriscado tentar algo do tipo.

— Não sinta, não foi culpa sua — diz depois de algum tempo, ela pisca algumas vezes espantando as lagrimas que se aglomeram em seus olhos e se desencosta da pedra da pia — eu acho melhor o Senhor ir embora.

— Eu também acho, nos vemos na segunda-feira?

— Sim, segunda-feira — concorda balançando a cabeça enquanto me afasto dela mesmo sem querer.

Viro de costas para ela e caminho até a saída, com o desejo aflorado e a vontade de poder tocar nela tomando conta de mim, aperto o botão do elevador com mais força que o necessário e entro no mesmo, assim que me viro vejo seu corpo parado no fim do corredor, seus olhos grandes me encarando de longe, ela apenas balança a cabeça e dá um sorriso sincero, mesmo que seja pequeno, ainda é um sorriso, e eu faço o mesmo antes das portas se fecharem entre nós dois.

DOCE TRAIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora