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• C A L V I N C A R S O N •

dias atrás...

— Você só pode estar ficando louco Edmundo! — repreendo meu amigo que está sentado em minha frente pedindo o maior dos absurdos, levanto da sua frente e passo as mãos pelo cabelo inconformado com o seu pedido, mas ele simplesmente não diz mais nada, apenas me encara — você está falando sério? — questiono olhando para ele.

— Sim — simplesmente diz me fazendo rir.

Eu o encaro, sentado atrás da sua mesa, as mãos sobre a mesma, os dedos cruzados, ele parece sério e muito convicto do que está me pedindo, e mesmo assim ainda acho que é loucura.

— Você sabe que foi meu filho que quebrou o coração dela fazendo ela ir para longe, não sabe? — pergunto para ele que continua me encarando, solto uma risada baixa balançando a cabeça inconformado que ele esteja me pedindo para ir para Londres tomar conta da garota que meu próprio filho traiu.

— Eu sei disso Calvin, não seja idiota — responde ríspido e se levanta, dando a volta na mesa enquanto continua — foi o seu filho, não você.

— Da na mesma — respondo com desdém — não acho que Vitoria iria aceitar ver qualquer pessoa que a lembre do que aconteceu — respondo com sinceridade, pelo que conheço ela sei que não vai querer me ver, mesmo que tenhamos uma certa conexão, eu não ia querer vê-la se fosse ao contrário.

— Ela confia em você, sempre confiou — diz.

— Isso foi antes do que aconteceu Edmundo, por favor — resmungo respirando fundo e passando as mãos pela cabelo de novo.

— Calvin, eu não consigo confiar a segurança dela em outra pessoa a não ser você.

Será que ela estaria realmente segura comigo? Isso é tão confuso!

— O que exatamente quer que eu faça? — pergunto me voltando a ele que está parado a pouco passos me encarando, os braços cruzados e o corpo apoiado na mesa atrás de si, ele não me responde, depois de alguns segundos continuo — quer que eu fique observando ela de longe e me aproxime como quem não, quer nada?

— Não acho que isso seria o ideal — finalmente responde e eu reviro os olhos, nada do que ele está me sugerindo parece ideal, essa conversa não parece ser ideal — desafie ele, leve essa proposta de parceria para ela — diz apontando para o amontoado de papéis que eu trouxe a ele, na esperança de um novo projeto juntos, cruzo meus braços e aperto os lábios — deixe ela decidir, Vitoria sempre gostou de desafios — continuou animado, gesticulando com as mãos, mas eu só consigo o observar e ainda achar isso um absurdo.

— Você acha mesmo que isso vai ajudar? — pergunto com sinceridade, porque, no fundo, só acho que vai piorar ainda mais, ela já sofre com uma traição, se descobre que estou indo como um "espião" vai ser pior.

— Ela precisa voltar a viver Calvin — diz, seus olhos transmitem a sua preocupação enquanto me fita, Edmundo respira fundo desviando o olhar por alguns segundos antes de voltar a me encara — ela continua destruída, o dia que fui lá e a vi — engole em seco como se estivesse tendo uma lembrança doloroso, eu apenas espero enquanto o vejo completamente abalado por sua filho — estava em colapso, está bebendo, provavelmente se drogando, transando com qualquer um — fala e meu peito se aperta, aquela garotinha que vi crescer, está chegando a isso, é doloroso e cruel — eu temo por ela Calvin.

Encaro o meu amigo desolado, respiro fundo desvio o olhar, tentando pensar em um lado positivo nisso tudo, eu posso ajudar Vitoria, eu sei que posso, por mais que eu a lembre do meu filho, eu sei que confia em mim e estando do lado dela guiando vai ser de uma grande ajuda para poder voltar a se estabilizar, mas eu sei que o segredo vai machucá-la, de novo, ela vai confiar em mim e eu vou quebrar ela, mais uma vez.

Apesar de tudo a ideia de Edmundo não é ruim, ela só precisa ser reajustada, para isso poder dar certo eu preciso ser sincero com ela.

— Eu só farei isso se for totalmente sincero com ela — comento voltando a olhar para ele que continua me fitando com os braços cruzados sobre o peito.

— Mas estará sendo — comenta como se fosse obvio, mas não é, é uma mentira — está indo para oferecer uma proposta de parceria — diz me fazendo rir baixo e revirando os olhos.

— Ela não é idiota, você sabe.

Edmundo sorri, ciente do que estou falando, ele se levanta do encosto da mesa e descruza os braços dando a volta e voltando a sua cadeira, se senta calmamente enquanto fala.

— Confie em mim, ela não vai desconfiar — diz, apoia as mãos na mesa cruzando os dedos sem tirar o olhar de mim — quando apresentar o desafio a ela, vai prender a sua atenção.

Passo a mão pela barba respirando fundo e dando a volta em meus pés, ando de um lado do outro pela sala tentando pensar se isso realmente é uma boa ideia, a única coisa boa que eu vejo nisso tudo é ir para Londres poder ficar longe da minha ex-mulher pegajosa.

— Você precisa me ajudar, está devendo isso a mim — sua voz chama minha atenção jogando na minha cara a dor que a minha família causou a dele, eu paro no meio da sala encarando ele.

— Está jogando sujo — comento, mas ele apenas sorri de volta, passo a língua pelos lábios mordendo o canto da boca até finalmente concordar com ele — tudo bem, eu vou.

Mas irei, nas minhas condições, só Edmundo não sabe disso.

DOCE TRAIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora