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A porta do quarto abre um solavanco, batendo com tudo do outro lado em um baque, meu pai está dentro segundo depois, o seu rosto completamente assustado, seus olhos percorrem pelo local até me encontrar, mas eu não me importo com sua presença, apenas deixo a raiva e a frustração tomar conta de mim, seguro outro objeto que pego em cima da penteadeira e jogo novamente na direção do Yan que se abaixa de novo.

— MAS QUE PORRA VITORIA — Yan grita em minha direção chamando minha atenção, os braços protegendo o rosto, ele dá passos em minha direção para tentar me segurar de novo.

— VAI EMBORA DAQUI! — grito de novo indo ao seu encontro com a intenção de sentar a mão nele de novo, mas meu pai me segura, rapidamente intervindo entre nós dois, ele segura meu pequeno corpo em seus braços enquanto me debato e choro.

— VITORIA FILHA! — minha mãe aparece na porta, provavelmente escutando o escândalo, eu grito de novo deixando a frustração sair sem escrúpulos, Yan continua parado no lugar, completamente em choque, seu peito subindo e descendo depressa, assustado.

— ME SOLTA —peço ao meu pai ainda me debatendo, minha mãe finalmente passa a porta, entra no quarto tão assustada quanto os outros dois, ela olha para Yan e depois para mim — ESSE FILHO DA PUTA! EU VOU MATAR VOCÊS DOIS! — grito para Yan de novo que dá alguns passos para trás sem dizer uma palavra.

— O QUE ESTA ACONTECENDO? — meu pai grita me puxando para si ainda mais, levando as mãos ao meu rosto me forçando a olhar para ele, e assim faço, meu peito subindo e descendo rápido, a respiração descontrolada, as lagrimas escorrendo depressa — filha, o que aconteceu?

— O que está acontecendo é que o genro perfeito está comendo a minha "melhor amiga" pelas minhas costas!!! — falo, soltando tudo de uma vez, vejo quando a fisionomia do meu pai muda na hora, seu maxilar travado, escuto a lamentação da minha mãe e de canto a vejo colocar as mãos na boca surpresa.

— O quê? — meu pai pergunta, soltando meu rosto aos poucos, dando alguns passos de mim e se voltando a Yan, que parece ainda mais assustado, dando alguns passos para trás, e eu acho que tomar apenas alguns tapas meu será o menor dos seus problemas nesse momento.

— Há quanto tempo Yan? — pergunto, ignorando todos no quarto, dou um passo para frente, mas meu pai me segura, em apenas um braço, sua mão gelada, ele está se controlando, eu sei que está, Yan não responde e então pergunto de novo — A quanto tempo vocês dois vem me traindo? Há QUANTO TEMPO!!!! — grito incrédula com a situação e me sentindo pior a cada segunda, um lixo, humilhada, fui feita de palhaça, talvez por anos.

— Melhor sair daqui Yan — minha mãe finalmente fala, estendendo os braços para ele tentando tirá-lo do quarto.

— Melhor ir mesmo, antes que eu mesmo quebre sua cara — meu pai fala, mas Yan não parece se preocupar, apenas continua me olhando, um soluço escapa pelos seus lábios, choro falso!

— Sinto muito Vitória — pede.

— CALA BOCA SEU NOJENTO! — respondo de imediato, sem dar tempo dele continuar com a ladainha tentando ir para cima dele de novo, mas sou novamente impedida disso, meu pai me segura por trás, pela minha cintura, passando os braços em minha volta enquanto o vejo sair pela porta do quarto, levando consigo o que restava no meu coração, ele sai, sem olhar para trás.

Meu corpo se amolece e o choro sai alto, meu pai me toma em seus braços se abaixando comigo quando minhas pernas falham, eu caiu de joelhos no chão, deixando a dor ser tomada, por cada parte, meu corpo todo tremendo, meu peito dói, meu pobre coração está em pedaços.

— Calma — meu pai pede baixinho atrás de mim me levando para o seu peito, uma das mãos até meu rosto tirando o cabelo da frente e me aninhando em seus braços.

— Ele me traiu pai! Traiu — falo em meio ao choro — como ele pode? — pergunto ainda chorando, mas ninguém me responde, vejo minha mãe entrar no quarto completamente perdida, ela se aproxima de mim e se ajoelha na minha frente estendendo os braços, então vou para ela, afundando o rosto em seu peito.

São tantas coisas passando pela minha cabeça nesse momento, como eles conseguiram, porque fizeram isso comigo, desde quando fazem isso... é tudo doloroso demais, meu peito dói, meu estomago está embrulhado, é como se toda minha vida não fizesse mais sentido, nós iamos nos casar!

Todas as palavras carinhosas que ele me disse um dia, todos o "eu te amo" parecem nada, as palavras rodam pela minha mente, mas não tem mais o mesmo sentido, não são mais quentes, não me fazem mais bem, pelo ao contrário, elas machucam, fazem doer ainda mais, mas é praticamente impossível jogar isso para longe. 

O choro finalmente sessa, meu nariz trancado, a cabeça latejando, ainda de olhos fechados, sentindo a mão de minha mãe passando pelos meus cabelos emaranhados, sinto meu pai se levantando atrás de mim, mas não me movo, nem um centímetro.

— Eu preciso fazer algumas ligações — diz, a voz rouca, apenas pelo seu tom sei que está irritado — você vai ficar bem minha princesa — diz e planta um beijo no topo da minha cabeça e permanece ali por alguns segundos antes de levantar de vez e sair do quarto.  

Eu sei exatamente onde ele vai, cancelar tudo, meu casamento, o acordo das junções da empresa, ele vai terminar o que comecei. Me pupar da humilhação, da pena das pessoas.

— Você vai ficar bem filha, confia em mim, dói agora, mas em breve vai melhorar — mamãe diz ainda acariciando meus cabelos, respiro fundo sentindo o peito ainda dolorido e levanto o rosto do seu colo, sentada na sua frente, ainda no chão. 

— Eu sei que vou, mas ainda dói, dói muito — respondo engolindo em seco o choro que fica preso na garganta de novo — fui humilhada, estou me sentindo um lixo — falo com sinceridade, os olhos marejados, minha mão me olha com ternura e passa as mãos pelo meu rosto enxugando as lagrimas que escorrem. 

— Ele não merece nenhuma lagrima sua, nenhum dos dois — diz, ela segura uma das minhas mãos e aperta os dedos nos seus — tome um banho e fique em casa, deixe que seu pai e eu cuidamos de tudo.

Apenas assento com a cabeça, concordando em um sim fraco, estou sem forças para tentar relutar e resolver sozinha, eu preciso deles, mais do que nunca.

DOCE TRAIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora