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• C A L V I N  C A R S O N •

Minha cabeça está latejando e me eu mesmo me chingo diversas vezes mentalmente por ultrapassar do limite ontem a noite, a bebedeira, mas principalmente pelas duas mulheres em minha cama hoje de manhã. 

Acordei cedo, com a cabeça pulsando, e um emaranhado de pernas sobre as minhas, a dor de cabeça parece ruim, mas nada é pior do que minha ilustríssima futura ex-esposa, que está a pelo menos uma hora matracando na minha cabeça enquanto tentamos em vão fazer os últimos ajustes para hoje.

Maldita hora que ofereci minha casa para o casamento.

Ela derruba alguma coisa no chão que estrala alto, minha cabeça pulsa e reclamo baixinho resmungando levando a mão até a cabeça e fechando os olhos.

— Será que você pode fazer menos barulho? — resmungo e encaro ela, que está com braços cruzados me fitando de longe pelo salão de festa improvisado no meu quintal — de preferência calar a boca, já ajuda. 

— Se não tivesses saído com mais nenhuma puta...

— A boca Martha! — rosno me virando para ela, interrompendo mais um dos seus xingamentos, como em tão poucos segundos ela consegue me tirar do sério!

— Que foi? Estou mentindo? São putas sim — afirma com mais convicção, eu respiro fundo e reviro os olhos disposto a não brigar, e não deixar que ela me irrite, não hoje. 

Volto minha atenção para o painel de assentos, tentando decidir onde eu vou sentar, em qualquer lugar, o mais longe dela possível. 

— Isso não é da sua conta — falo ríspido e escuto o seu bufar atrás de mim.

— Nós ainda não assinamos o divórcio — diz para me provocar e então volto a atenção para ela, me virando sobre os pés, colocando as mãos no bolso da frente da calça social.

— Não porque você não quis — a lembro do pequeno inconveniente que ela está causando para nós dois, desde que pedi o divórcio após descobrir sua traição — por mim já teríamos assinado há semanas, mas é você quem está fazendo jogo duro, não sei por quê.

 — Você não vai me perdoar nunca? — pergunta e é impossível segurar a risada, que sai sem ser planejada, sua fisionomia muda, não parece triste, sim, irritada, mas sinceramente, não me importo, não mais.

— Perdoar você está fora de cogitação — resmungo baixinho e dou alguns passos em sua direção lentamente, enquanto ela se encolhe no lugar, apertando os braços em seu corpo — eu amei você, cuidei de você, do nosso filho, sempre te dei de tudo, e não fala que não tinha atenção porque tinha — relembro ela, antes que possa jogar a culpa disso tudo sobre mim, de novo — e do que serviu? Para ser apunhalado pelas costas.

— Calvin, querido...  

— Não Martha, sem querido — interrompo sua dala, apenas a palavra querido saindo da sua boca se dirigindo a mim me dá enjoos, não consigo mais olhar na cara dela direito sem lembrar daquela maldita noite.

INICIO LEMBRANÇA

Respiro fundo chegando em casa, o corpo dolorido, o dia corrido, bato a porta do carro com mais força do que o necessário, louco para poder abraçar minha esposa e me perder em seus braços. Após perder dois contratos importantes para a concorrência, o que mais preciso nesse momento é dela.

Entro em casa, está tudo quieto, acredito que Yan tenha saído com Vitória, mas onde está minha esposa? Atravesso a casa e chamo por ela, mas nada, nem um vislumbre, um ruido vindo do andar de cima chama minha atenção. 

Subo as escadas devagar e chamo por ela novamente, mas ninguém responde, há alguma coisa errada, meu coração dispara e os instintos me dizem para seguir em frente, minhas mãos estão suando, a sensação é estranha, mas tudo piora quando abro a porta do nosso quarto.

Eu poderia esperar muita coisa de Martha, eu sei que ela nunca foi uma santa, afinal ela dormiu comigo, mesmo eu estando com Ellis, na época, foi o pior erro da minha vida. Mas isso, após anos, jamais poderia passar pela minha cabeça que ela estaria me traindo. 

Meu coração se parte, em diversos pedaços, a dor no peito é imensurável, a boca fica seca e meu corpo todo está tremendo, a irritação sobe em cada pedaço meu de uma vez e é inevitável, quando dou por mim, estou em cima do filho da puta que está deitado pelado com minha esposa em nossa cama. 

Um soco... dois... três... caímos no chão enquanto diversos palavrões escapam pela minha boca, ao fundo consigo ver a vagabunda tentando se esconder com o lençol enquanto grita me pedindo para parar, estou em cima do filho da puta e mal reconheço o seu rosto, agora ensanguentado, só paro quando ele apaga, na minha frente.

— Eu quero você fora da minha casa — falo, a voz tremula, sai baixo, Martha dá alguns passos em minha direção, chorando, mas dou passos para trás, não consigo nem olhar na cara dela, minhas mãos estão tremendo, o sangue do miserável em meus dedos — SOME DA MINHA CASA — grito de uma vez em sua direção, o sangue fervendo em minhas veias...

FIM LEMBRANÇA

— Foi apenas uma noite! — diz exasperada.

— Podia ter sido apenas um beijo Martha! — rosno para ela, quase podendo sentir a mesma irritação daquele fatídico dia, aperto os dedos no bolso da calça e me mexo desconfortável no lugar, respiro fundo tentando me controlar — Traição é traição e você não merece nem um pingo da minha compaixão.

Som de rodas derrapando na garagem e uma freada brusca chama a minha atenção, viro o rosto em direção à porta principal, vejo de canto Martha fazer o mesmo e se virar para a porta, Yan atravessa a mesma batendo a porta atrás de si com muita força, imediatamente sigo em sua direção, mesmo de longe posso ver o quanto está transtornado.

Meus pés seguem em sua direção, atravessando as cadeiras em nosso caminho, escuto ele subindo as escadas depressa e irritado, batendo os pés, Martha me segue, o tilintar dos seus saltos atrás de mim enquanto subimos as escadas, um estrondo me faz pular e Martha soltar um grito assustada, e então entro no quarto dele com o coração nas mãos.

DOCE TRAIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora