08

545 36 1
                                    

Isso foi estranho, estranho até demais, volto minha atenção para os passos calculados até o banheiro, porém o olhar do Senhor Carson ainda rodam em minha mente bêbada, a maneira esquisita que ele me encarava a cada fala, seus olhos claros tão penetrantes em mim, sua mão segurando em meu braço, toco em meu braço exatamente ali onde ele segurou, quase posso sentir seus dedos me apertando de novo, engulo em seco e encaro a mim mesma no espelho, completamente bagunçada, o que está havendo com você garota?

Eu acredito que passei da conta, bebi demais, não deveria ter bebido, minha cabeça gira e posso sentir o vomito preso na garganta, o que é mais nojenta ainda, molho as mãos na água gelada do banheiro e passo em minha nuca, tentando recuperar a lucidez, mas é praticamente em vão.

Aperto os lábios e fecho os olhos, tentando espantar a música que mesmo aqui dentro do banheiro é alta, a cada vez que alguém abre a maldita porta minha cabeça dói, ainda mais. Resmungo baixinho e abro os olhos assim que alguém toca em meu ombro.

— Você está bem? — uma mulher me fita pelo espelho, enquanto a encaro.

— Acho que sim — respondo com sinceridade — só acho que passei um pouco da conta — brinco tentando dar um sorriso sincero.

— Precisa de ajuda? Posso chamar alguém que esteja com você, se quiser — diz apontando para fora do banheiro, mas eu apenas nego com a cabeça, a última coisa que eu quero é Lucia vindo desesperada e arriscando alertar meu sogro do que está havendo.

— Vou ficar bem, obrigada — agradeço ela que assenti com a cabeça e volta sua atenção para o grupo de amigas ao meu lado, me olhando estranho.

Reviro os olhos, vou para a cabine e faço xixi, tentando me equilibrar sobre os saltos e não encostar no vaso sanitário ao mesmo tempo, crio um lembrete mental de nunca mais beber tanta assim, ou se beber, pelo menos sair de tênis.

Saiu do banheiro após lavar as mãos, o mesmo grupo de amigas me encara já do lado de fora e eu me pergunto o que elas tanto estão me encarando, até notar que, a mesma mulher que me ofereceu ajuda no banheiro está agora ao lado do Senhor Carson, uma de suas mãos está no ombro dele rindo descaradamente em sua direção, enquanto ele apenas a encara, seus olhos fixos no decote mostrando até demais, é nojento, reviro os olhos e bufo.

Antes que eu possa volta para a pista de dança seus olhos vem para mim de novo, Senhor Carson ainda grudado com aquela mulher me encara por cima dos ombros, seus olhos pequenos e as sobrancelhas juntas, eu engulo em seco e não tiro o olhar do seu, totalmente presa.

A mulher ao seu lado segue seu olhar e me vê, se aproxima mais dele e sussurra algo em seu ouvido o que o faz sorrir e ela também, ele diz algo, mas não posso ouvir, só vejo seus lábios se movimentando e então ela ri, de novo se jogando para cima dele, que a recebe de bom grado, novamente estou aqui, presa nessa cena que eu particularmente acho ridícula.

Reviro os olhos nitidamente para que ele veja e saiu dali pisando duro, procurando minha amiga na pista de dança. Essa atitude dele é completamente ridícula, pode estar se separando de Martha, mas ainda não é solteiro, isso é uma tremendo desrespeito com ela e consigo mesmo. Me lembro de minha mãe me dizer que ele sempre foi mulherengo, principalmente na época deles, mas isso, é nojento.

Atravesso a pista de dança, empurrando as pessoas em minha volta, procurando por Lucia, mas nada, nem um fio de cabelo, percorro os olhos pelo local girando em meus pés, até ouso chamar por ela, como se fosse possível me ouvir com a música alta. Então vejo, um vislumbre do seu cabelo ao fundo, quase na saída quando a luz bate em sua cabeça, ela se vira e parece estar com alguém no telefone.

Novamente estou eu, empurrando as pessoas ao meu lado até poder chegar até ela. Conforme me aproximo consigo ver a sua fisionomia diferente, ela parece chateada, preocupada, mas não parece notar minha presença enquanto me aproximo, se vira, ficando de costas para onde estou, passo a mão pelos cabelos e quando estou perto o suficiente consigo ouvir melhor.

— Yan você precisa ficar calmo!

Yan? Mas que porra? Por que Yan está falando com ela?

Sinto meu corpo estremecer, o arrepio percorrer pela minha espinha, a sensação de algo ruim vai acontecer me consome, engulo em seco e me aproximo mais, com a intenção de ouvir o que ela tem a dizer, alguma coisa em mim me diz que preciso saber.

— Eu sei meu amor, eu sei, mas ela vai ficar bem, estarei aí em breve, só preciso encontrar Vitoria.

As suas palavras caem como espinhos em meus ouvidos, é doloroso demais de se ouvir, as palavras "meu amor" soam diversas vezes, repetidamente, meu peito dói e sinto o estomago se embrulhar, a situação piora quando ela se vira, dando de cara comigo, seus olhos grandes no rosto, o celular cai com a mão.

— Porque está chamando meu noivo de meu amor? — a voz sai rouca, meus olhos lacrimejados me entregam, minhas mãos tremem assim como meu corpo todo.

— O quê? Não! Você ouviu errado! — ela diz, tentando se explicar, mas eu sei muito bem o que ouvi, Lucia dá um passo em minha direção, mas é em vão, dou alguns passos para trás deixando ela mais assustada ainda.

— Eu não quero saber das suas explicações, não agora — falo rispidamente segurando o choro na garganta, enquanto a dor que machuca meu peito me destrói aos poucos.

Saiu de perto dela, indo em direção à saída, que parece estar mais longe do que eu planejada.

Meu corpo todo dói, cada pedacinho está tremendo e é como se tivesse diversas agulhas perfurando meu coração machucado, engulo diversas vezes o choro que ameaça a sair, enquanto minha visão começa a ficar embaçada, esbarro em algumas pessoas ao meu lado que me empurram com mais força do que o necessário me fazendo cambalear para fora do clube.

Um dos seguranças ri da minha cara, provavelmente achando graça da minha bebedeira, mas quem me dera fosse somente isso que me deixa atordoada, respiro fundo várias vezes tentando manter o controle de mim mesma, apoio minha mão no muro do clube, sentindo vários pares de olhos em cima de mim e então o choro vem, duro e dolorido, as lagrimas escorrendo depressa pelo meu rosto.

É como se um buraco enorme tivesse sido aberto em baixo de mim, como eu pude ser tão idiota? Era uma coisa que estava nitidamente no meu rosto, sendo jogada para cima de mim todos os dias, mas mesmo assim, eu recusei a acreditar que isso estava acontecendo.

Destruída, é assim que me sinto, traída, pelo amor da minha vida, pela minha melhor amiga.

DOCE TRAIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora