DOCE TRAIÇÃO

12

Assim que entro no quarto, sua mesa com computador e o restante das suas coisas está revirada, tudo foi ao chão, mal consigo entrar direito no quarto, escuto o lamentar dela atrás de mim, engulo em seco e aperto os lábios conferindo os estragos até finalmente fitá-lo, seu peito subindo e descendo depressa, os olhos vermelhos de quem esteve chorando, ele passa as mãos pelos cabelos exasperado.

— Yan, o que houve? — pergunto calmamente, mas não me aproximo, apenas o encaro, seus olhos em encaram, ele não parece triste, está irritado, completamente, já o vi desse jeito, o seu maxilar travado, ele respira fundo de novo e coloca as mãos na cintura encarando eu e sua mãe que estamos aqui parados esperando uma resposta.

— Casamento está cancelado — diz por fim.

Eu balanço a cabeça respirando fundo dando a volta no lugar e passando a mão pelo cabelo enquanto escuto Martha se lamentando, ela passa por mim desviando dos objetos no chão e indo até nosso filho.

— O quê? Como assim? — questiona ele se aproximando, mas Yan se recusa a ser tocado, dando alguns passos para trás, Martha se encolhe no lugar.

— Que merda você fez? — questiono, seu olhar saem da sua mãe para mim, sinto o calafrio subir pela minha coluna, isso não é bom, nada bom.

Meu telefone toca no bolso, interrompendo a nossa conversa, pego o aparelho e vejo o nome de Edmundo no visor, meus olhos vão para Yan enquanto levo o aparelho na orelha.

— Oi Ed, o que aconteceu? — pergunto sem enrolação, vejo Yan lamentar no lugar xingando baixinho e dando as costas para mim enquanto Martha se aproxima dele, dessa vez ele deixa, a mãe o abraça por trás acariciando suas costas.

— Calvin, pelo jeito Yan chegou na sua casa — Edmundo diz, mas o nome do meu filho sai diferente na ligação, sua voz é rude e é como se lutasse para dizer o nome dele.

Imediatamente a cena dele beijando Lucia na última viagem me vem a mente, depois daquele dia nunca mais o vi juntos e Yan jurou para mim que tinha decidido a ficar com Vitoria e mais ninguém, torço para que ele não tenha me enganado. 

— Sim — respondo suspirando, passo a mão pelo cabelo apertando os lábios — acabou de chegar, ele disse que o casamento está cancelado Ed, o que houve? — pergunto de novo.

— Ele traiu Vitoria Calvin — é isso, como um baque, eu quero socar a cara do meu filho, como se já não bastasse a sua mãe, agora ele, eu avisei, avisei que era errado, que poderia causar uma tremenda confusão, mas pelo jeito não serviu de nada, respiro fundo e engulo em seco, não consigo responder nada, posso ouvir a respirada funda de Edmundo do outro lado antes de continuar — estou tão irritado com ele Cal, eu poderia matá-lo — suas palavras são duras, mas não tiro sua razão, é sua garotinha que está em jogo.

— Sinto muito Edmundo — peço com sinceridade, a última coisa que eu queria é que isso acontecesse, Vitoria é uma jovem mulher incrível, ela não merecia ter o meu filho de qualquer maneira — vou conversar com ele, talvez eu mesmo possa matá-lo — resmungo baixo e Martha me olha de costas, as sobrancelhas juntas, não parece feliz com meu comentário — como está Vitoria?

Edmundo respira fundo de novo, escuto alguns ruidos... uma porta sendo fechada e cadeira sendo puxada, eu saiu do quarto fechando a porta atrás de mim, mal posso olhar na cara desses dois, não agora.

— Desolada — diz, a voz dolorida faz meu peito se apertar, imagino como ela deva estar, me lembro de como estava na noite de ontem, mesmo um pouco alterada, a sua beleza era incomparável, o brilho vindo dela é de outro mundo, mas isso, essa decepção deve ter a quebrado — nunca a vi desse jeito Calvin — assume.

— Ela não merecia isso Edmundo — falo com sinceridade, engulo em seco e fecho os olhos apertando as têmporas, a cabeça ainda doendo, os olhos ardendo, me pergunto se é de irritação ou se é da bebedeira de ontem — eu sinto muito por isso, me desculpe.

— A culpa não é sua.

— Eu o criei Ed, errado pelo jeito... — suspiro apertando mais as têmporas e respirando fundo, o peito apertado, o silêncio permanece na linha, eu não sei mais o que dizer ao meu amigo, meu filho quebrou o coração da sua garotinha o máximo que posso fazer agora é arcar com as consequências — o que devemos fazer agora? Sobre o casamento.

— Estou cancelando tudo agora, ligando para os convidados, mandando o buffet embora — ele suspira do outro lado — é muita coisa para fazer e ainda aguentar Vitoria desolada no quarto.

— Eu te ajudo, me mande alguns contatos — peço.

— Enviarei. Nos vemos na segunda — diz por fim me lembrando da nossa reunião de junção das empresas, que iria ser feita após o casamentos dos dois, que agora será provavelmente cancelada.

— Segunda-feira conversamos, até mais — desligo a chamada após me despedir dele, respiro fundo algumas vezes encarando a porta fechada em minha frente, tentando controlar a mim mesmo.

Yan fez a pior merda que ele poderia ter feito, se gosta tanto assim da Lucia a ponto de mentir para mim desse jeito porque não terminou com Vitoria e seguiu sua vida com a outra? Esse tipo de atitude não entra na minha cabeça. Até porque eu mesmo cometi o mesmo erro, a mais de 20 anos atrás, eu sei o quanto foi ruim, o quanto machucou Ellis, sei que ela sente isso até hoje, assim como eu sinto, mas eu sei também que não era amor, tudo o que senti por ela, era desejo, amor eu tive pela Martha, que foi com quem eu decidi ficar após cometer apenas um erro, em uma noite, que mudou minha vida para sempre.