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Assim que ele vira na Connaught Street já consigo imaginar ou posso dizer, desejar, que ele esteja me levando na Saint Aymes, aquele lugar é extremamente perfeito e é um dos meus lugares preferidos aqui em Londres, talvez seja as cores claras, mais chamativas, o aconchego que transparece, ou as flores, muitas flores... não sei dizer, é uma das melhores cafeterias que já estive, eu poderia ficar dentro dela por horas.

E como de se esperar, Calvin passa pela cafeteria e imbica o carro para uma das vagas próximas ao lugar, a minha criança interior pula de alegria e ansiedade, mal consigo controlar meu entusiasmo enquanto viro o rosto para ele que está tão concentrado em estacionar o carro.

— Você me trouxe para Saint Aymes? — pergunto animada, porém segurando a risada que tenta escapar, seu rosto se vira para mim e ele parece confuso, ou até mesmo perdido. 

— Sim, qual o problema com esse lugar? — pergunta enquanto manobra o carro voltando a prestar atenção no que está fazendo.

Ah Calvin, nenhum, esse lugar é simplesmente perfeito!

Mas ao invés de deixar meu entusiasmo tomar conta de mim, decido provocá-lo, apenas um pouco mais, esse jogo está ficando cada vez mais divertido e talvez perigoso.

— É um belo lugar para um encontro — respondo ainda segurando o sorriso, mesmo que de canto posso ver ele revirar os olhos e um sorriso fraco brotar no canto dos lábios. 

— Eu já te disse quais são minhas condições para um encontro — resmunga assim que termina de estacionar e se vira para mim, seu torço em minha direção, um braço apoiado sobre o volante e seus olhos presos em mim, estranhamente me faz arrepiar assim que encontram os meus e um sorriso involuntário escapa. 

— Não me lembro de ter falado as condições, apenas a sequência — respondo provocativa dando de ombros, mas antes que Calvin possa responder abro a porta do carro e saiu do mesmo, sentindo a brisa bater em meu rosto com o aroma do café quentinho e alguns pãezinhos frescos que se misturam com o ar, respiro fundo fechando os olhos por alguns segundos e assim que os abro ele está parado na minha frente com um sorriso lindo de baixo da barba densa — que foi? 

— Primeira condição para um encontro, jantar, não almoço, não café da tarde, mas sim um delicioso jantar, em um restaurante, se a mulher for mais ou menos lógico — fala, soltando tudo de uma vez enquanto dá o braço para que eu engate a mão ali, e assim faço rindo baixinho do que fala. 

— E se a mulher foi top? — pergunto e ele vira o rosto em minha direção, as sobrancelhas juntas visivelmente confuso, eu rio baixo e continuo — quer dizer, se a mais ou menos merece um jantar delicioso no restaurante, a top merece o quê? — questiono curiosa virando o rosto para ele, que agora tem os olhos fixos na frente enquanto caminhamos devagar pela calçada muito bem alinhada, meus saltos tilintando de fundo a cada passo. 

— Esse tipo de mulher, se realmente existir, merece muito mais, quem sabe um jantar na minha casa, eu posso cozinhar para ela, dar o melhor que ela merece — responde com sinceridade e estranhamente desejo ser essa mulher, os olhos de Calvin vem para mim me faz arfar, desvio os olhos depressa assim que paramos na frente de Saint Aymes.

— Será uma mulher de sorte, suponho — respondo sem jeito soltando o seu braço devagar e me virado para ele. 

— Não é o que minha ex esposa diria — fala sorrindo, brincando comigo, mas eu só consigo dar um sorriso leve de canto.

Os olhos de Calvin me fitam com cautela, mas há um sorriso ali em seus lábios que me deixa completamente sem jeito, minhas mãos estão suando e meu corpo está um pouco trêmulo, sinto a boca seca e preciso molhar os lábios com a língua para tentar amenizar, desvio os olhos do dele com dificuldade quando indica a entrada para mim com uma das mãos. 

Respiro fundo antes de seguir a sua mão e entrar no lugar, com a fachada rosa mais linda que já vi, coberta de flores roxas caídas em seu entorno, mas é dentro que chama totalmente a minha atenção sempre, não importa quantas vezes eu venha nesse lugar, é sempre uma surpresa nova, uma paixão nova. 

O local mesmo pequeno é tão aconchegante que me traz paz, as paredes rosadas claras, misturadas com flores, as mesas laterais e as cadeiras perfeitamente alinhas e com delicadeza em cada detalhe.

Sigo para dentro do local e a atendente que provavelmente já está acostumada comigo acena, de longe e eu repito o mesmo movimento sorrindo para ela, algo toca em minhas costas, bem abaixo, viro o rosto para trás e me deparo com Calvina traz de mim, completamente colado, sua mão espalmada em minha costas me guiando consigo, engulo em seco e continuo andando até a última mesa próxima à parede de vidro com visão para a rua.

— Você já veio aqui? — pergunta puxando a cadeira livre para mim. 

— Algumas vezes — respondo brevemente me sentando e acompanho ele com o olhar enquanto se ajeita na cadeira em minha frente — é um ótimo lugar. 

— Você parece apaixonada — comenta e sinto meu rosto começar a queimar, uma queimação subindo pelo meu corpo todo o que me faz me mexer desconfortável no lugar, mas antes que eu possa responder continua — pelo lugar Vitoria... o seu olhar, desde que chegamos, está brilhando, a maneira que desceu do carro, com os olhos fechados, parecia estar em paz, não me lembro de ter visto você assim algum dia. 

— Eu gosto muito daqui — assumo baixinho, e aperto os lábios. 

— Então eu acertei em cheio no primeiro encontro? — brinca debruçando os braços sobre a mesa e curvando um pouco o corpo em minha direção, meu estomago se revira, como se tivesse milhares de borboletas lá dentro, um arrepio percorre e engulo em seco.


DOCE TRAIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora