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Novamente estou eu, sozinha em meu apartamento, com o coração tão machucado quanto a primeira vez, posso dizer quantas manchas tem no teto do meu quarto apenas por passar o final da noite aqui, encarando o mesmo enquanto meus pensamentos me torturam e as lagrimas escorrem pelo meu rosto sem parar. 

O travesseiro está molhado, assim como alguns fios dos meus cabelos, meu nariz está tampado e tenho certeza que meu rosto está tão inchado que pode-se dizer que estou irreconhecível, mas não ouso a me olhar no espelho, tive essa leve impressão quando pedi a comida do restaurante do hotel e a pessoa que veio me entregar pareceu tão surpresa e mal conseguia me encarar. 

Meu celular sobre a mesa de cabeceira vibra sem parar, há mensagens e ligações paradas e eu sei exatamente de quem é, mas não quero vê-lo ou falar com ele nesse momento, não preciso de nenhuma desculpa agora, eu só preciso mesmo é ficar sozinha e ainda ouso dizer que o que eu mais gostaria nesse momento é o colo da minha mãe.

Calvin não foi tão ruim comigo nesses últimos dias, pelo ao contrário, foi maravilhoso, mas hoje, depois de tudo como ele pode? Como ele pode me mandar embora daquele jeito depois daquilo que fizemos? Como ele não me contou sobre Yan? 

Fecho meus olhos apertando a lateral da cabeça que está latejando e novamente meu celular começa a vibrar me incomodando demais, resmungo baixinho e abro os olhos esticando a mão para o aparelho, conferindo a tela, novas mensagens de Calvin, respiro fundo e empurro as mensagens para a lixeira sem me dar ao trabalho de ler alguma. 

Volto a abrir as notícias relacionadas a Yan, elas não deveriam me machucar e realmente não me machucam tanto assim, eu fiquei mais chateada com o fato de Calvin saber e não me dizer do que coma noticia realmente, isso me faz entender uma coisa, eu não o amo mais, não como amei. 

Eu consegui superar Yan? 

Uma grande parte minha diz que sim e a outra diz com certeza. Isso não me dói, o que me dó mais é que a traição dos dois é imperdoável e como dois filhos da puta ainda conseguem seguir a vida felizes enquanto eu estou aqui, afastada de tudo e de todos chorando as mágoas que já foram embora há meses.

É isso, o estopim. Eu preciso voltar para minha casa. 

Procuro o primeiro voo para casa até encontrar um que sai logo pela manhã, então pulo da cama e começo a arrumar minhas coisas decidida a voltar para lá e enfrentar finalmente toda essa situação, de cabeça erguida e pronta para qualquer notícia sem sentido, até finalmente estar com tudo pronto e cair na cama. 

...

Acordo com alguns barulhos na porta principal, meus olhos ainda se acostumando com a escuridão, preciso piscar algumas vezes e tatear a mão pela cama procurando pelo meu celular, quando finalmente o encontro confiro as horas, já se passou das duas da manhã, resmungo sentindo meu corpo todo dolorido e cansado, mas as batidas fortes na porta continuam.

— Mas que merda!!! — resmungo baixinho reunindo forças para levantar enquanto a bateção na porta continua, caminho até a porta e as batidas começam a cessar quando meus passos ficam mais nítidos, aproximo da mesma e observo pelo olho mágico, Calvin aparece do outro lado, seu cabelo está bagunçado, um conjunto de moletom cinza e seus olhos perdidos completamente vermelhos, ele está louco? Ele bate novamente na porta me fazendo pular para trás — CALMA!!! — grito em resposta enquanto destranco a mesma e a abro. 

Calvin entra na minha casa como um tiro, eu o encaro e respiro fundo fechando a porta em seguida. 

— O que faz aqui? — questiono cruzando os braços só então me dando conta do pijama curto e ridículo que estou usando, rosa bebê cheio de mini corações vermelhos, ele corre os olhos por mim me deixando sem graça. 

— Como eu posso sentir tesão nisso — resmunga baixo rindo passando as mãos pelos cabelos e eu presumo que esteja tirando sarro de mim.

— Escuta, se for vir aqui para falar merda, é melhor sair — respondo grosseira mas ele apenas ri e continua me fitando, mas ele parece perdido e mal consegue se manter no lugar, cambaleando para lá e para cá — Calvin, você está bêbado? — pergunto incrédula. 

— Você me fez beber — diz e dessa vez que ri sou eu, só pode estar de brincadeira!

Reviro os olhos ainda rindo e abro a porta novamente indicando a saída, a última coisa que eu preciso é de um bêbado.

— Vai embora daqui — falo com desdem mas ele não se mexe, nem um centímetro.

— Você não pode brigar comigo por uma coisa que meu filho fez! — rosna em minha direção, falando mais alto do que o necessário, as palavras sem um pouco enroladas mas mesmo assim consigo entender. 

É isso, eu tenho um bêbado na minha casa, bato a porta com mais força e passo por ele sem paciência. 

— Eu briguei com você por não me contar — esclareço dando a volta no seu corpo e indo para o meu quarto, se ele quer ficar aqui, fique, mas eu não quero ficar discutindo com ele, não agora. 

— Mas eu fiquei sabendo hoje — fala e escuto ele trombando com a parede atrás de mim, respiro fundo e paro no meio do caminho me virando para ele que por sorte para assim que me vê, a alguns centímetros de mim. 

— Até do noivado? — questiono encarando ele, que pode estar um pouco alterado, mas não é idiota. 

— Não — assume me deixando ainda mais irritada com ele. 

— Você é realmente um idiota — resmungo dando a volta nos pés e entrando no quarto, escuto seus passos atrás de mim mas ele não diz nada então continuo — eu confiei em você, esse tempo todo me convenceu que eu poderia fazer isso e vejam só, eu não podia — a voz sai mais alta do que o necessário. 

— Me diz, o que realmente está te incomodando, porque não é isso — fala com tanta convicção que me faz virar para ele, seus olhos estão me encarando de longe, parado no batente da porta, o maxilar travado, e mesmo com a pouca luz que vem do abajur posso ver exatamente para onde seus olhos estão e me faz engolir em seco.

DOCE TRAIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora