CAPÍTULO 7
Na manhã seguinte acordei com alguém chutando meu pé.
-Qual foi a última vez que você comeu?
Não precisei abrir os olhos para saber que era Jackson que falava
-Ontem a noite, antes da explosão.
-Imaginei, - abri os olhos e ele me entregou uma bandeja com café e pão – coma!
-Obrigada? – disse pegando a badeja de sua mão e olhando o relógio que marcava dez da manhã – Nossa, não sabia que tinha dormido tanto. Alguma novidade?
-O analista chegou mais cedo e está trabalhando no vestido desde que chegou, vamos falar com ele em breve, mas antes você precisa comer e depois escovar os dentes e lavar esse rosto. Sério.
-Você é sempre assim tão agradável?
-Tenho escovas de dentes novas no banheiro do meu escritório, - ele apontou para uma sala – tome seu café, escove os dentes e me encontre na sala de interrogatórios quando terminar.
-Nossa, quantas ordens.
-De nada.
Dito isso, ele saiu. Eu teria xingado ele se ele não tivesse me trazido comida. Eu realmente estava morrendo de fome. Comi o café da manhã e fui na direção do escritório de Jackson. Tudo naquele lugar era igualzinho a ele, perfeitamente arrumado e alinhado. Esse cara tinha algum problema, eu juro.
Sua sala era grande e arrumada. Não tinha nenhuma folha fora do lugar. Me dirigi ao banheiro que não era diferente. O armário que ficava em cima da pia tinha de tudo, acho que não era a primeira vez que ele ajudava pessoas na mesma situação que eu. Ele tinha pequenos potes com itens de higiene pessoal separados por tamanhos. Escovas de dentes e pasta de dentes, desodorante, sabonete facial descartável, fio dental, escova de cabelo e até perfume.
-Meu Deus, isso parece um hotel...
Tudo era em tamanho miniatura. Tinha elástico de cabelo, creme corporal e facial, shampoo e condicionador e alguns remédios também.
Fiz minha higiene matinal, escovei os dentes, lavei e hidratei o rosto, passei desodorante e peguei um elástico de cabelo e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto.
Quando terminei, olhei os remédios e para minha sorte ele tinha analgésicos. Tomei dois de uma vez e guardei dois no bolso da calça. Eu tinha certeza de que eu ia precisar daquilo mais tarde.
Sai de seu escritório e fui em direção a sala de interrogatórios. Quando cheguei ele já esperava por mim com alguns papéis na mão e outros na mesa.
-Melina, eu vou ser direto, não podemos concluir nada. A investigação está no início, vamos tentar descobrir o máximo possível com as análises do vestido e do isqueiro. Ainda assim, consigo ver claramente que estes eventos não foram por acaso. Alguém fez isso... Alguém explodiu seu flat, sabendo que você não estava lá, conseguiu entrar antes de nós e por o vestido no seu quarto para ser encontrado intacto. Ainda não sei se o isqueiro também foi deixado de propósito ou se foi um descuido...
Ele falava e as palavras eram absorvidas pelo meu corpo como ecos. Cada centímetro meu se contraiu involuntariamente e mais uma vez eu fui levada as mesmas sensações da noite em que acordei no meio da rua. Eu não tinha certeza se deveria ou não contar isso a polícia. Eu ainda tinha medo de que o tiro acabasse saindo pela culatra e eu fosse uma suspeita de um crime que eu não cometi.
Mas por alguma razão, mesmo com o comportamento prepotente e metido, eu sentia que podia confiar em Jackson.
-Tem uma coisa que eu não contei... – Respirei fundo antes de contar a Jackson o que tinha ocorrido naquela madrugada. Era difícil seguir uma linha de raciocínio e concluir algum pensamento, ainda assim, contei cada detalhe do ocorrido, mesmo que de forma confusa e ele ouviu atentamente enquanto deixava transparecer em seu rosto que tentava montar um quebra-cabeça que ele não tinha visto o desenho completo na capa antes de começar a tentar juntar as peças, o que tornava tudo mais difícil.
-Por que você só está contando isso agora?
-Eu não tinha certeza do que tinha acontecido, Jackson. Eu mal tive tempo de processar o que tinha acontecido naquela noite e meu apartamento tinha ido pelos ares no outro dia.
-Ainda assim, mentiu no seu depoimento ontem à noite...
-Não! – eu disse rapidamente – Cada palavra do que eu disse ontem é verdade. E nada foi me perguntado sobre os eventos que ocorreram antes da explosão, então eu não menti...
-Mas, ocultou.
-Eu estava com medo, Jackson...
-Medo de acabar como suspeita dos assassinatos que ocorreram na mesma noite? – Era obvio que ele ia ligar os pontos.
-Me diga você o que faria...
Ele ficou em silêncio por alguns segundos.
-Tem mais alguma coisa que você não me contou? Algo que possa ser importante para a investigação?
-Bom, não exatamente. Eu não sei se a pessoa que explodiu o meu apartamento foi a mesma que me levou para o meio da rua na madrugada anterior ou o que aconteceu, mas alguém me machucou, - eu disse levantando da cadeira e levantando minha blusa parcialmente, só o suficiente para Jackson ver minhas costelas – eu tenho certeza de que não fiz isso sozinha.
Ele ficou mudo e analisou minhas costelas por um minuto.
Fazia menos de vinte e quatro horas que eu conhecia Jackson, mas eu sabia que não era qualquer coisa que deixava ele sem palavras.
-Está tão ruim assim?
-Algum médico analisou isso?
-Não.
-Melina, o quanto você consegue lembrar do seu dia antes de acordar no meio da rua?
Peguei o papel que estava no meu bolso e mostrei a ele contando tudo que lembrava daquele dia.
-Toda vez que eu tento lembrar como foi meu dia as lembranças ficam mais embaralhadas. Parece que alguém pegou uma parte da minha memória, tirou da minha cabeça, brincou com ela e depois devolveu toda bagunçada e com pedaços faltando...
-Você precisa de um médico. Temos alguém na unidade que pode te atender... – ele hesitou por um momento – Melina, eu já vi isso antes. Eu tenho fortes motivos para acreditar que você foi drogada na noite que acordou no meio da rua. Você lembra das meninas que foram assassinadas nessa mesma noite? – eu concordei com a cabeça e ele continuou – Bom, as duas tinham sido drogadas e estupradas antes de serem assassinadas.
Eu gelei e cai na cadeira. Não é possível. Será que eu era a próxima da lista? Será que eu também fui drogada e estuprada? Não! Não, isso era demais!
-Olha, eu sei que é muita coisa para absorver, mas eu preciso acrescentar isso ao seu depoimento e alguns exames precisam ser feitos. Melina...
-Tudo bem. – Eu o cortei ante dele continuar – Aonde eu tenho que ir?
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Insano
Fiksi Penggemar🔞 O que fazer quando voce perde completamente o controle da sua vida? Malina perdeu seus pais quando ainda era apenas uma criança em um acidente de carro e vagou por diversos lares adotivos até completar a tão sonhada maioridade. Depois de tanto...