Insano

Capítulo 17

CAPÍTULO 17

Abri meus olhos, mas era difícil de ver qualquer coisa além da grande quantidade de luz que me cercava. A claridade era tanta que fazia minha vista doer. Tentei me mover, mas a dor me consumia, mais uma vez. Isso estava virando uma rotina que eu não gostava nem um pouco. Pisquei forte algumas vezes até finalmente começar a enxergar.

Olhei em volta, claramente aquilo era um quarto de hospital, tinham dois policiais armados, um na porta e um na janela. Jackson estava recostado na poltrona que ficava nos pés da cama dormindo. Tentei me mover mais uma vez e soltei um grunhido de dor. Meu ombro estava enfaixado. Eu estava um pouco confusa.

-Ei, - Jackson acordou – eu não tentaria fazer força nesse ombro se fosse você!

Ele estava com uma cara de cansado. A barba estava por fazer, seus olhos estavam fundos e seu cabelo bagunçado. Era a primeira vez que eu o via daquele jeito.

-O que houve?

Jackson se aproximou, ajeitou meu travesseiro e apertou o botão da maca fazendo a cama subir e eu me sentar sem me mover.

-Bom, você levou um tiro...

-Não me diga... – Eu disse rindo falso.

-Incrível que você ainda consiga rir depois de tudo... – Jackson ficou em silêncio por um momento me encarando antes de prosseguir e ali eu pude perceber o quanto aquilo era sério.

-Diga, Jackson!

-Ele deixou outro presente... Naquela manhã, depois que você foi atingida, eu trouxe você para o hospital com a ajuda da equipe de resgate. Infelizmente nós demoramos muito para chegar e você perdeu muito sangue. A bala estava alojada no seu ombro, então você teve que passar por uma cirurgia, sua oxigenação caiu muito durante a cirurgia. Os médicos falaram que devido a grande quantidade de estresse que você vinha passando seu corpo estava muito fraco e nós teríamos que esperar você acordar para ver se teria alguma sequela. Então, eu fiquei aqui nos últimos dias esperando você acordar e...

-ÚLTIMOS DIAS? – Eu estava tentando assimilar tudo – Quanto tempo eu dormi?

-O tiro foi três dias atrás, Melina.

-TRÊS DIAS? EU DORMI POR TRÊS DIAS?

-Bom, - ele fitava o chão agora – os médicos falaram sobre coma, mas... – ele parecia buscar as palavras – Você se movia um pouco enquanto dormia e estava respondendo bem aos medicamentos, no fim eles concordaram que seu corpo estava apenas exausto demais para permitir que você acordasse e que deveríamos esperar...

Aquilo fazia sentido. Eu realmente tinha passado por muita coisa e meu corpo claramente estava pedindo socorro. Jackson pediu para que um dos policiais fosse avisar aos médicos que eu tinha acordado e me deu um copo de água.

-Qual foi o presente? – Jackson me olhou – Você disse que ele deixou outro presente... Como?

-Bom, depois que viemos para o hospital o departamento mandou uma equipe de investigação para lá para tentar descobrir de onde o atirador tinha disparado as balas, mas não encontraram nada nos prédios vizinhos. Nenhuma prova. Mas acharam uma pequena caixa na cama que você dormiu. Eram joias. O laboratório as comparou com as fotos do casamento dos seus pais e concluíram que são as mesmas, mas foram modificadas...

-Deixa eu adivinhar... Mais diamantes?

-Sim. – Ele disse por fim, murchando e voltando para a poltrona. Jackson passou as mãos pelo cabelo e fitou o teto. Eu sabia que tinha algo que o incomodava.

-O que foi?

-É que... – Ele respirou fundo, se ajeitou na poltrona e me encarou – Isso foi minha culpa, Melina. Eu não estava preparado para essa situação...

-E como isso poderia ser sua culpa? Não tinha como você prever isso, Jackson.

-Sim, mas deveria estar prevenido, eu deveria estar atento e não... Não tão distraído e confortável como eu estava. Eu deixei uma distração tomar conta de mim e tudo isso aconteceu...

-Uma distração? Eu espero que você não esteja se referindo a... – Eu não podia terminar aquela frase. Eu não tinha esse direito. Eu nem mesmo tinha o direito de estar chateada com essa frase, no fim das contas ele era o policial que estava lá para me proteger, nada além disso.

Virei a cabeça para o lado e fiquei quieta por um momento.

-Bom, - eu continuei – eu sinto muito que esteja se sentindo dessa forma, mas não acho que tenha sido sua culpa.

-Eu discordo. Eu estava lá com um único propósito e falhei... – Ele voltou a fitar o teto – mais uma vez! Isso é ridículo... Nem mesmo faz sentido. Se ele estava disposto a te dar um tiro que poderia ter te matado por qual motivo ele deixaria outro presente para você? Ele não tinha como saber se você ia sobreviver... Esse não parece um plano feito pela mesma pessoa que fez na última semana... Ele estava sendo cuidadoso demais... Esperto demais. Todos os passos dele estavam sendo bem calculados... A menos... – Ele parou e eu concluí o que eu sabia que ele estava pensando

-A menos que esse tiro não fosse para mim... Você acha que era para você? Mas por qual motivo? Você não tem nenhum tipo de ligação com meus pais ou qualquer outra coisa ligada a esse caso...

-Talvez... – ele me encarou por um momento pensando se deveria continuar a frase – Talvez eu só tenha me tornado inconveniente para os planos dele...

Eu não sei por qual motivo, mas eu senti que aquilo não era o que ele realmente queria falar. Mas antes que eu pudesse protestar dois médicos entraram no quarto e começaram a me avaliar.