CAPÍTULO 47

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CAPÍTULO 47

O poder do álcool é realmente intrigante. Ele pode te levar as alturas e te derrubar no mesmo segundo. Ele pode te proporcionar momentos incríveis, com alta energia, risos e danças ou ele pode de colar lá embaixo, no fundo do poço e te fazendo refletir em cada decisão errada que você tomou na sua vida. Mas, o pior que o álcool pode te proporcionar, assim como qualquer outra droga, é o poder. Porque o poder vicia, quando mais você tem mais você quer. Quando mais coragem você tem, mais inibido você fica, então começa a tomar inúmeras decisões e fazer coisas que jamais faria sóbria, como por exemplo, tirar sua roupa na sala de uma casa que não é a sua, na frente de um homem que não é seu, e para ser mais exata: na frente do policial que está tentando te proteger de um possível assassino em série.

Em um instante você está se achando a mulher mais linda e poderosa e desejada do mundo, a tirar pelo olhar que esse policial te dá assim que você fica apenas de lingerie, e no instante seguinte você está com a cara na privada vomitando tudo que tem no estômago com esse mesmo policial segurando o seu cabelo enquanto eu da sua cara!

-Eu te avisei para parar no segundo shot, Malina! Mas obviamente você não ouviu

-Cala a boca, Jackson! Eu já estou humilhada o suficiente, não precisa me lembrar que a culpa é minha!

Depois do show que eu dei com a Jackson quando descobri que ele não estava, de fato, bebendo álcool, a minha cabeça começou a girar como nunca e eu comecei a ver tudo duplicado. Me lembrava de ter tido sensações como essa na faculdade uma ou duas vezes e agora eu estava lembrando exatamente o motivo de eu ter decidido que não queria mais viver aquilo!

Assim que o poder do álcool some, você é submetido a sensação de ser um saco de lixo sendo jogado na caçamba de um caminhão e sendo sacudido por horas até finalmente ser despejado no destino final. O problema é que depois de tudo isso, ainda vem a ressaca!

Naquele momento eu me encontrava caída no chão do banheiro com a cara apoiada na privada tendo a certeza de que ainda ia vomitar pelo menos umas cinco vezes. Jackson insistia para que eu tomasse um banho, jurando que isso ia me fazer sentir melhor, mas eu não conseguia ficar de pé. Depois de algumas horas nesse dilema, após eu ter lavado o rosto e escovado os dentes pelo menos umas dez vezes, Jackson saiu do meu lado por uns minutos e foi a cozinha, voltando com uma mistura verde gelada dizendo que era pra eu beber de uma vez só sem sentir o cheiro.

Eu juro que, se eu já não tivesse colocado tudo que tinha no estômago para fora, estaria fazendo isso neste exato momento.

-Mas que gororoba é essa que você me deu? - Eu disse devolvendo o copo para Jackson

-Chá gelado de Boldo, eu juro que ajuda! Em menos de 15 minutos você vai se sentir muito melhor!

-Meu Deus, acho que é a coisa mais amarga que eu já provei...

-Sim, mas você vai me agradecer nos próximos minutos, e ao dono dessa casa também, por ter um pequeno pé de boldo plantado na varanda. - Ele riu - Isso é ouro! Acredite quando eu digo, costumava tomar isso quase todo dia!

E foi nesse momento que seu olhar pesou. Jackson se sentou no chão do pequeno banheiro com as costas na porta, de frente pra mim, que continuava apenas com a minha roupa íntima e com a cabeça apoiada na banheira

-Em algum momento você pretende me contar sobre o que quer que isso seja? - Eu disse o encarando - Sobre o que Andy estava falando, Jackson?

Jackson mordeu o lábio inferior por alguns segundos enquanto encarava o teto. Ele aparentava pensar se valia ou não a pena entrar naquele assunto, e então começou:

-Eu não fui cem por cento sincero com você quando contei a história da minha parceira... Lembra quando eu disse que nós discutíamos muito sobre o caso e um dia ela simplesmente saiu dizendo que ia resolver aquilo? -Jackson respirou fundo e me encarou antes de continuar e eu assenti - Bom, a verdade é que, depois de alguns meses de investigação eu estava ficando absurdamente frustrado por não termos nenhum avanço e comecei a frequentar muitos bares em busca de qualquer pista que fosse. O problema é que toda vez que eu chegava em um bar, eu tomava alguma bebida. No início era apenas pelo disfarce, mas em algum momento eu comecei a perder o controle da situação e não me dei conta do quão sério aquilo era

Parte dessa investigação é um borrão pra mim, Melina. Eu bebia tanto que eu simplesmente apagava nos bares e era ela quem me buscava e me levava para onde quer que estivéssemos ficando naquela época. Carol encobriu boa parte do que estava acontecendo, mas nós começamos a brigar muito por causa disso. Ela estava arriscando a carreira e a vida por minha causa e eu simplesmente não conseguia parar de beber!

Eu senti meus olhos marejados por um instante e ele continuou:

- Eu tinha perdido totalmente o controle, vivia completamente bêbado e frustrado por não ter nenhum avanço, estava vendo a minha carreira desmoronar na minha frente e levando junto o que eu tinha de mais precioso

- Ela... - Eu completei

Jackson apenas concordou com a cabeça.

Quando nós discutimos pela última vez, ela me disse que não aguentava mais me ver afundando daquela forma e que eu estava partindo o coração dela tão profundamente que ela jamais se recuperaria se não fizesse nada para parar aquilo

-E foi por isso que ela decidiu se infiltrar na gangue?

-Exatamente! - Jackson molhou os lábios rapidamente com a língua antes de prosseguir - Eu estava já tinha bebido três doses de whiskey naquele dia quando ela chegou e nós começamos a brigar. Carol me disse que não aguentava mais aquela situação e que se eu não desse um basta naquilo, ela daria. Eu debochei dela por um instante, - uma lágrima desceu pelo seu rosto - dá para acreditar nisso?

Depois que ela saiu do apartamento naquele dia, eu terminei uma garrafa de Vodka sozinho e apaguei no sofá - Jackson riu seco e secou a lágrima. - Eu só me dei conta de que ela não tinha voltado no final do outro dia, quando finalmente acordei Já fazia quase vinte horas que ela tinha saído e mais de quinze horas que o corpo dela estava jogado atrás de um bar qualquer E eu estava acordando de mais uma noite de bebedeira

Cobri suavemente minha boca com as mãos enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto.

-Eu não pedi para sair da equipe, eu fui afastado e internado em uma clínica de reabilitação. Foram meses de tratamento médicos, físicos e psicológicos até eu finalmente ter alta e ser contratado pela polícia de Londres.

-Jackson

-Eu não tinha colocado uma única gota de álcool na baça, até

-Até agora - Eu completei e ele assentiu silenciosamente - Mas o suco no bar?!

-Naquela noite em que eu saí para beber, em um pequeno momento de lucidez, pedi ao garçom que não me servisse mais álcool e que se em algum momento futuro eu chegasse ali

-Ele deveria te servir apenas suco...

-Exato.

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