CAPÍTULO 73

18 3 0
                                    



Eu estava cercada por flores.

Morta? Eu estava morta? Não. Viva. Eu estava viva! Andy e Jackson estavam vivos? Eu não sabia. A luzes eram fracas, mas me cegavam com a mesma intensidade que os raios de sol faziam em uma manhã ensolarada de domingo. Onde eu estava? O que tinha acontecido a final? Eu tinha muitas perguntas e ninguém para respondê-las. Eu estava sozinha. Ou pelo menos acreditava que estava...

Eu estava tonta, tinha sede e meu corpo todo doía, mas tudo isso já tinha virado normal para mim, aquele cenário que era a parte mais estranha da minha mais nova realidade.

Eu estava deitada em uma cama de casal, com lençóis tão brancos quanto possível. Meus olhos queimavam, como se fosse um esforço absurdo abri-los, como se eu não fizesse aquilo por um longo tempo... Mas, quanto tempo fazia?

O quarto era digno de um comercial de TV, esperei para ouvir os "bipes" das máquinas que deveriam estar conectadas em meu corpo para monitorar se eu vivia ou morria, mas não era em um quarto de hospital que eu me encontrava... Não. Era um quarto comum, um quarto que eu conhecia como meu. Não aquele em que eu vivia em Londres, não. Aquele tinha ido pelos ares há muito tempo, quase em outra vida... Mas esse quarto também já tinha sido meu um dia. Eu reconheci as cortinas rosadas que balançavam lentamente com a entrada de ar pelas janelas, eu reconheci a porta do closet aonde eu me escondia, eu reconhecia o pequeno porta joias que ficava ao lado da cama com uma bailarina que dançava e rodopiava incansavelmente. Eu reconheci até mesmo a cômoda que ficava aos pés da cama.

Era tudo tão igual e tão diferente. Tudo me parecia tão familiar porque aquele era o mesmo quarto da casa no norte de Michigan. A casa que eu ia todos os anos com os meus pais quando eu era criança.

Mas como era possível que tudo estivesse o mesmo? Me levantei tão rápido quanto o meu corpo permitia e olhei em volta.

Definitivamente era o mesmo quarto. A mesma vista da janela ao lado da cama que dava para o lago nos fundos da casa. A mesma brisa gélida do outono e eu podia jurar que até mesmo os pássaros que cantavam do lado de fora eram os mesmos.

Mas alguns detalhes, que passavam quase que despercebidos eram diferentes, como as microcâmeras escondidas, uma em cada quina da parede do quarto, ou as trancas nas janelas e as grades que tinham sido postas do lado de fora, mas o detalhe que mais me chamava a atenção era a pequena caixa de presente que me aguardava aos pés da cama.

Em cima da caixa tinha um pequeno envelope. Me aproximei rapidamente e abri lendo a frase que me fez ter calafrios pelo corpo:

"Espero que esteja devidamente vestida para o nosso encontro."

Mas que diabos aquilo significava?

Olhei para mim mesma me dando conta de que não vestia mais o macacão da equipe de faxina fajuta que tínhamos usado para invadir o FBI. No lugar, meu corpo se encontrava devidamente limpo e aquecido com uma calça de moletom branca e uma blusa de malha da mesma cor. O que quer que aquele bilhete significasse eu duvidava muito de que aquela roupa era adequada para qualquer ocasião...

Voltei a minha atenção para aquela pequena caixa de presente que ainda me encavara friamente nos pés da cama e tomei coragem para finalmente abri-la. Eu só não esperava que meu corpo iria reagir tão mal ao pequeno diamante que agora me observava tão curioso quanto eu o observava, pois no fundo eu sabia o que ele era e a quem ele pertencera no passado.

Sim, aquele era o anel de noivado da minha mãe. As gravuras das iniciais dos meus pais na parte de dentro do aro do anel me diziam o bastante. Parece que aquele era o "grande finale", no fim das contas, tudo isso sempre girou em torno dos meus pais, era mais que justo que o final dessa história também fosse sobre eles.

Aos poucos tudo foi começando a fazer sentido. Era de se esperar que eu estivesse morta, mas não estava. Era de se esperar que eu estivesse presa, mas não estava. Era de se esperar que eu estivesse no hospital, mas não estava. Não estava, pois eu não tinha conseguido fugir daquele carro no fundo do mar sozinha. Não estava, pois não tinha sido a polícia que tinha me achado e me resgatado. Não estava, pois quem tinha me achado tinha sido ele. O homem que virou a minha vida de cabeça para baixo, o homem que tinha transformado minha realidade em um verdadeiro inferno. O homem que tinha chegado muito perto de acabar de vez com a minha vida. O homem que agora tinha um rosto e um nome: Frencis Holevir.

O formigamento começou nas pontas dos dedos e foi subindo aos poucos para o centro das mãos e braços. Eu precisava sair daquele lugar, eu precisava de ar. Em uma tentativa frustrada, comecei a empurrar as janelas em vão. Cada esforço que eu fazia era como um soco no centro do meu peito. Corri para a porta de saída do quarto e comecei a forçar a maçaneta, obtendo o mesmo resultado que tinha tido com as janelas, um absoluto nada.

Comecei a socar e chutar a porta, mas tudo o que eu consegui foi uma pontada forte no braço, nada além. Corri para o closet sem esperança, sabendo que não conseguiria nenhum resultado positivo, mas para minha surpresa aquela porta se abriu, fazendo o sentimento de arrependimento me percorrer de cima a baixo no mesmo instante. 

InsanoOnde histórias criam vida. Descubra agora