CAPÍTULO 78

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Meu pai agora olhava para mim com olhar triste e carregado de pesar ao invés de encarar Francis que continuava andando de um lado para o outro enquanto falava.

-Ravier e Mônica começaram a trabalhar com os Ingleses ajudando a mandar as crianças de volta para os Estados Unidos. Pelo menos uma vez por ano eles entravam no país trazendo com eles algumas crianças de volta, mas por alguma razão, o FBI nunca conseguia localizá-los... – Ele me olhou por dois segundos antes de voltar sua atenção para meu pai novamente – Até que tiveram a brilhante ideia de me encarregarem disso...

"Como se já não bastasse toda a bagunça que eles tinham causado, a traição que tinham cometido não só comigo, mas com o país... Ainda sobrou para eu limpar toda a sujeira! Eu cacei seus pais por anos! Passei a maior parte da minha carreira atras deles. Não importava o quanto eu corresse e procurasse, eles sempre estavam um passo a frente... Até um dia, não estavam mais."

Eu sabia como era a sensação pois eu tinha passado pela mesma coisa nos últimos meses. Não importava o quanto corrêssemos contra o tempo, Francis sempre estava um passo a frente. Ele sempre sabia de tudo, tinha cada passo planejado. Mas as peças estavam se encaixando agora. As viagens anuais para os EUA, o fato de eu nunca ter conhecido nenhum parente ou de nunca ter tido um amigo se quer, o fato de nunca ter descoberto absolutamente nada sobre a vida dos meus pais ou familiares... Mas algumas perguntas ainda tinham de ser respondidas. Francis deu uma pausa dramática me encarando antes de continuar.

-Quinze de Setembro de 2004, - fechei os olhos sabendo exatamente o que aquela data significava – O dia em que eu finalmente consegui achá-los. Sabíamos que seus pais tinham entrado novamente no país dois dias antes e começamos o trabalho de monitoramento de todos os anos, mas estávamos chegando perto. A cada ano, avançávamos um passo e eles sabiam que o circo estava se fechando em volta deles, então começaram a ficar descuidados... Depois de tantos anos! – Francis deu um passo em minha direção, mas manteve seus olhos fixos em meu pai – Naquele dia, recebemos uma notificação de movimentação no norte de Michigan e seguimos para lá. Seus pais estavam voltando, indo em direção ao aeroporto quando eu os achei.

Eu sabia que ele estava se referindo ao acidente de carro. O dia em que eu achei que meus pais tinham sido mortos. Mas não esperava o que vinha a seguir.

"Houve uma perseguição. O FBI queria seus pais vivos para o interrogatório, mas eu sabia que, se eles saíssem com vida dali, jamais revelariam nada. Então provoquei o acidente. Por um momento achei que tinha funcionado. Reforços foram chamados naquele dia após o acidente, achei que aquele pesadelo finalmente tinha terminado, mas quando fomos verificar o carro, só você estava lá!"

Fechei os olhos por um instante e deixando que pequenas lagrimas rolassem pelo meu rosto.

-Seus pais, sendo os covardes que eram, fugiram e te deixaram para trás, Melina! – Fechei os olhos com mais força me recusando a aceitar toda aquela verdade, ao fundo podia ouvir meu pai grunhindo por debaixo da mordaça – Nós a pegamos e levamos para um centro médico para que recebesse os cuidados necessários, mas assim que chegamos no centro médico do FBI você desapareceu.

Abri os olhos rapidamente encarando Francis.

-Descobrirmos depois que seus pais estavam trabalhando com agentes duplos por anos! Eles mantinham contato com membros da nossa equipe que também tinham traído os EUA enquanto trabalhavam para a Inglaterra.  Um desses agentes te pegou naquela noite, levou para a Inglaterra e te entregou para uma casa de adoção.

"O governo americano decidiu que você não era relevante para o caso, pois não passava de uma criança, e decidiram deixar que ficasse na Inglaterra, o sistema de adoção iria se encarregar de você no fim das contas."

Eu lembrei da senhora que me acompanhou durante o voo para a Inglaterra e de todos os lares temporários que passei até que completasse a maior idade.

-Mas eu sabia que, se um dia quisesse ser capaz de finalmente capturar seus pais, você era a chave... Então esperei! Esperei durante anos e anos. Acompanhei cada passo seu, cada lar temporário, acompanhei a chegada da sua maioridade acompanhada de uma grande quantia de dinheiro, acompanhei sua entrada na universidade, sua formatura, todos os namoros rasos e rápidos, esperando a hora certa... Até o dia que finalmente fiz o primeiro movimento... Eu tinha certeza de que seus pais também acompanhavam cada passo seu, então bastou um encontro nosso, um único encontro, para que eles finalmente resolvessem dar as caras.

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