Insano

CAPÍTULO 77

-Beba! – Francis encarava Jackson com aquele sorriso obscuro no rosto enquanto eu tentava me manter de pé.

Mas porque ele não tinha ido na direção do meu pai? Por que Jackson novamente? Jack virou o copo de bebida apertando os olhos. Fiz o mesmo, permitindo que uma lágrima quente escorresse pelo rosto. Eu tinha mais sete perguntas e precisava selecioná-las bem. Tentei me lembrar de tudo o que eu já sabia. Todas as provas que tínhamos coletados, todas as informações que Sam tinha conseguido para nós. Os arquivos com as informações que coletamos dos meus pais no FBI, arquivos esses que eu não tive tempo de ler. Quais informações eles continham? Quantas perguntas eu já teria respondidas e quantos passos na direção de Francis teriam sido poupados se eu tivesse tido tempo de ler aqueles arquivos?

Mais um passo.

-Quem sou eu? – Fui tudo o que eu consegui pensar para perguntar.

-Agora esse jogo está começando a ficar interessante...  Francis caminhou na direção de Andy, que ficou ofegante, e começou a falar, confirmando minhas suspeitas – Seu registro de nascimento diz que seu nome é Helena Colton, nascida em vinte e dois de Junho de 1996. Filha de Sarah e James Colton, nascida no estado da Florida, Estados Unidos.

Encarei o homem sentado na última cadeira, o home que eu achei ser meu pai durante toda a minha vida. Aquilo respondia a minha pergunta em partes, mas quem eu era de verdade? Ele não seria capaz de responder aquela pergunta, nem mesmo eu era. Absolutamente tudo que eu sabia sobre mim era uma grande mentira, nem mesmo a minha idade estava certa. Meu "pai" encarava Francis com ira, eu podia sentir todo o ódio que transbordava dele e sabia que não chegava nem perto do ódio que eu carregava em meu coração naquele momento.

Andy fechou os olhos com força enquanto Francis arrancava mais uma de suas unhas. Não segurei a bile dessa vez e vomitei, caindo de joelhos mais uma vez enquanto chorava. Nós não sairíamos vivos daquele lugar. Não havia esperanças para nós. De uma forma ou de outra, se não fisicamente, então mental e emocionalmente nós sairíamos mortos naquele dia.

-Você está demorando muito, querida. Vou ser obrigado a deixar esse jogo um pouco mais interessantes assim... – Francis fez menção de pegar maus um dedo de Andy e eu me coloquei de pé rapidamente dando outro passo cambaleante.

-Por que você está fazendo isso? Qual é o propósito de tudo isso a final?

-São duas perguntas... – Francis caminhou na direção de Jackson mais uma vez e eu franzi o cenho em confusão e medo – Mas, tudo bem... Vou deixar passar.

Ele serviu outra dose e me encarou enquanto falava.

"Vou te cotar uma pequena história querida, sugiro que use esse tempo para pensar melhor nas suas próximas perguntas... "

Francis apontou para o copo e encarou Jackson por um segundo antes dele virar o copo e fazer ânsia de vomito logo em seguida abrindo os olhos lentamente. Eu sabia que ele já não estava mais sobreo, eu podia ver como ele apertava os olhos tentando focar e forçava as mãos na mesa em uma tentativa tola de fazer tudo para de girar.

-Vamos voltar para o ano de 1996, quando tudo começou... – Ele começou a andar de um lado para o outro no altar – Eu, Mônica e Ravier tínhamos nos formados juntos na academia de treinamento de FBI. Nós três tínhamos nos destacados na turma em absolutamente todos os módulos e ficamos amigos... Acho que posso chamar assim, não é Ravier? – Ele olhou para meu pai que me fitava com lágrimas nos olhos, eu sabia que toda a verdade viria agora – Assim que nos formamos fomos convocados pelas forças secretas do FBI para uma missão ultrassecreta. Os Estados Unidos estavam em conflito direto com a Inglaterra naquela época, muitas famílias tinham migrado ilegalmente e se recusavam a sair do país. Nossa missão, de início, era bem simples... 

"O governo começou a emitir cartas de extradição para as crianças ao invés dos pais, então tudo que tínhamos que fazer era pegar as crianças e levá-las de volta para a Inglaterra... Nós sabíamos que aquilo não era legal, mas as cartas vinham direto da casa branca assinadas pelo presidente e tínhamos feito um juramento... Tínhamos ordens a seguir!"

Francis parou de andar por um instante e me mirou friamente. Alguma coisa me dizia que ele era capaz de sentir cada tremor que provocava em mim. 

-A missão foi um sucesso nos primeiros meses. Assim que as crianças eram levadas, as famílias faziam as malas e partiam de imediato... Mas então as coisas começaram a mudar. – Ele olhou para o meu pai de soslaio e continuou – Alguns agentes da Inglaterra começaram a mandar as crianças de volta para os Estados Unidos e as famílias não estavam mais saindo. Recebemos uma ordem do governo dizendo que nosso grupo seria divido... Dois de nós iriam para a Inglaterra, disfarçados, uma família normal que tinha acabado de se mudar, mas com a missão de descobrir quem eram os agentes mandando as crianças de volta, e um de nós ficaria aqui para continuar mandando as crianças para lá.

Ele deu dois passos na direção da terceira mesa e encarou o homem ali que o encarava de volta na mesma intensidade. Aproveitei a distração para relaxar um pouco minhas pernas que ainda tremiam.

-Acho que sabemos bem quem foram os escolhidos, não é? – Ele me olhou novamente – Seus queridos pais foram enviados com uma linda menina nos braços para brincar de família feliz e eu fiquei aqui fazendo o trabalho sujo... Mas isso não era bem o que deveria ter acontecido, não é mesmo, Ravier?

"A parte que esqueceram de me contar era que, na verdade, eu deveria ter sido mandado com a sua mãe para a Inglaterra e ele deveria ter ficado... Mas meus queridos colegas de classe estavam apaixonados! Quem não adora uma linda história de amor?"

Francis deu uma gargalhada seca e voltou para o centro do altar.

-Foi assim que seu querido pai conseguiu convencer nossos supervisores a o mandarem no meu lugar... O que ninguém esperava era que eles iriam virar as costas para o governo americano assim que saíssem do país...