CAPÍTULO 1
Era uma madrugada como outra qualquer em Londres, exceto pelo fato de que o frio estava absurdamente congelante, digo, mais que o normal da Inglaterra. Jurava que podia sentir os flocos de neve caírem sob minha pele, o que deveria ser impossível já que eu estava dentro de casa, deitada. Não estava?
O frio tomava conta de mim cada vez mais. Meus pés estavam dormentes e meu nariz também. Me virei na cama, mas senti o colchão muito menos confortável do que eu me lembrava. Tentei achar minhas cobertas e meu travesseiro, mas o que achei foi o gélido asfalto do centro da cidade. Foi então que me dei conta de que não estava na minha cama. Nem no meu quarto. Muito menos em minha casa.
Abri os olhos tentando ver com dificuldades onde eu estava, mas a neblina grossa de Londres me impedia de ver com clareza. Pisquei os olhos brutalmente umas duas vezes e pude ver que estava no centro da cidade, no meio da rua para ser mais exata.
Mas que diabos estava acontecendo?
Eu levantei, mas me senti tonta e caí de joelhos no chão. Pude senti ralar de leve por baixo da calça fina que eu usava. Minha cabeça girava rapidamente. Apoiei minhas mãos no chão e me levantei com calma. Já teve aquela vontade de vomitar enquanto tudo girava ao seu redor? Tinha sangue vindo de alguma parte do meu corpo, primeiramente pensei ser do tombo que tinha acabado de tomar, mas logo percebi que um filete de sangue escorria na minha testa. Limpei o líquido ligeiramente quente que escorria no meu rosto com a barra da blusa e vi uma peça de roupa no chão. Era meu roupão, acredito inicialmente estar deitada nele já que tinha um pouco de sangue. Vesti rapidamente na esperança de que aliviasse o frio que eu estava sentindo. Foi inútil, óbvio!
Olhei em volta procurando meu carro, que obviamente não estava por lá. Comecei a andar pela rua procurando por alguém, qualquer um que pudesse me ajudar ou me dar uma única e simples explicação do que estava acontecendo. Andei em volta do quarteirão onde eu estava e não tinha ninguém. Nada. Era difícil de entender o que estava acontecendo. Eu estava de meia, sem sapatos, de pijama e roupão no centro da cidade sem ter a mínima ideia de como tinha ido pra lá ou do motivo de ter acordado no meio da rua. Olhei para o topo dos prédios procurando pelo "grande relógio" da cidade. Eram 2:45 a.m. Voltei a olhar para frente ainda com as pernas meio bambas e vi uma figura parada do outro lado da rua. Minha visão estava turva e eu não conseguia ver seu rosto novamente. A Sensação que eu tinha era de que minhas condições físicas e mentais não estavam em pleno estado. Mas eu tenho certeza do que vi...
Era um homem bem alto e bem vestido. Usava calças jeans, sapatos de bico quadrado, blusa de gola alta e uma sobreveste preta, típico inglês. Bem mais agasalhado do que eu. Estava parado na calçada do outro lado da rua. Me encarava fixamente sem dizer uma única palavra. Minha visão ficou ainda mais turva e por um momento eu podia jurar que ia cair de cara no chão. Fechei os olhos com força por alguns segundos tentando me concentrar na minha respiração para não cair ou vomitar. Abri os olhos e pisquei forte três vezes antes de voltar minha atenção para o homem novamente e quando finalmente o fiz, ele tinha sumido. Como se nunca tivesse existido. Simples assim.
Eu devia estar ficando doida... Obviamente algo estava errado. Eu não me lembro de ter bebido na noite passada. Ou de ter saído de casa ou qualquer outra coisa. Eu simplesmente não conseguia lembrar de nada... O dia anterior era simplesmente um borrão! Mas que merda estava acontecendo?
O pânico estava começando a vir e uma crise de ansiedade era tudo que eu não precisava no momento. Fechei os olhos novamente e respirei fundo. um, dois, três – inspira – quatro – expira Fiquei repetindo isso na minha cabeça até sentir as batidas do meu coração entrarem em ritmo e meu cérebro voltar a funcionar aos poucos.
-Se concentra, Melina! – falei para mim mesma – Você precisa saber onde você tá... Abri os olhos e olhei em volta. Eu sabia que rua era aquela... Não estava tão longe de casa, mas devido às minhas condições eu sabia que demoraria até conseguir voltar... Em um dia normal e em condições normais eu levaria cerca de vinte minutos andando até meu prédio. Eu só precisava virar à direita, depois esquerda e seguir em frente pelos próximos quatro blocos e estaria em casa.
Arrumei a minha postura e comecei a andar. Os primeiros passos foram absurdamente dolorosos, parecia que eu estava aprendendo a andar de novo. Meus membros simplesmente não me obedeciam... Mas eu já não sabia se a culpa era do meu cérebro que não estava funcionando direito ou se era do frio que estava fazendo meus músculos se atrofiarem aos poucos...
Depois de vinte minutos de caminhada apenas com meias, eu parei de sentir meus pés. Não demorou muito para eu parar de sentir minhas mãos também. A caminhada ficava cada vez mais difícil à medida que as extremidades do meu corpo iam congelando aos poucos. Minha visão começou a ficar mais e mais turva e minhas pernas já não me obedeciam mais. Meus olhos começaram a fechar sozinhos e eu sabia que não era sono, era apenas meu corpo avisando que não tinha mais energia ou força para continuar. Uma dormência percorria as poucas partes do corpo que eu ainda sentia e eu ficava cada vez mais pesada. Estava fraca. Fraca demais para aguentar o próprio peso e ficar de pé.
Encostei em um muro e olhei para o caminho de casa. Faltavam mais três quadras, mas eu não conseguia mais andar. Me encolhi no chão na esperança de passar alguém para me ajudar. Olhei para o grande relógio de Londres novamente que agora marcava 3:15am. Respirei fundo e levantei. Ninguém passaria para me ajudar naquela hora. Eu teria que resistir por mais vinte minutos. Caminhei lentamente, parando por alguns minutos para respirar. Comecei a intercalar, me guiando pelo relógio da cidade, eu caminhava por três minutos e descansava um. Não podia me dar ao luxo de parar mais tempo que isso ou eu poderia simplesmente cair e não levantar mais...
Meu prédio possuía dez andares, sua construção antiga era feita de pequenos tijolos retangulares deitados na cor terra que demonstrava a típica beleza rústica do Reino Unido. Seu interior era na cor marfim, com longas e grossas faixas de vinho por toda sua extensão. O elevador ficava no fim do corredor, com sua grade de ferro formada de pequenos losangos que precisava ser fechada manualmente antes que o elevador pudesse dar seguimento ao seu serviço. Eu costumava gostar muito de todo o charme que aquela arquitetura trazia, mas naquele momento, sem nenhuma força para qualquer movimento que precisasse do mínimo esforço, eu odiei aquela grade! Mesmo estando absurdamente grata por ter conseguido chegar parcialmente ao meu destino e não ter mais o frio da rua sobre minhas costas, eu odiei tudo naquele prédio. Odiei o quão longe o elevador ficava da porta de entrada, odiei o quanto aquelas grossas faixas vinho me deixavam tonta e faziam minha ânsia aumentar. Odiei todo o esforço ridículo que era necessário para fazer aquele elevador funcionar e acima de tudo me odiei por escolher morar no oitavo andar e não no térreo.
Com grande dificuldade, consegui dar partida no elevador, apertando o botão que me deixava no meu andar. Por sorte, minha porta ficava a exatos cinco passos do elevador. Ao chegar, percebi que minha porta estava aberta. Sem ter forças para me preocupar com o perigo que isso representava eu apenas entrei e me joguei no chão.
Me permitir relaxar e percebi o quanto isso foi um erro assim que fiz. Cada centímetro do meu corpo era dor. Eu não sentia nada além de dor. Meus pés e minhas mãos estavam queimadas de frio assim como meu rosto. Minhas extremidades estavam roxas e eu sabia que se eu não aquecesse meu corpo eu poderia simplesmente não recuperar meus dedos... Eles estavam literalmente congelados e sem circulação de sangue.
Eu estava esgotada, eu sabia que não tinha forças para me levantar. Mas eu também sabia que ninguém ia chegar para me ajudar. Fechei os olhos com força e me levantei. Gritei de dor, senti uma lágrima involuntária descer, mas não me permiti parar. Fui em direção ao pequeno cômodo ao lado do quarto, abri o chuveiro o mais quente possível e deixei o vapor da água inundar o banheiro. Chutei a porta com o pouco de força que me restava, puxei todas as toalhas que estavam ao meu alcance e me enrolei nelas deixando que o vapor aquecesse meu corpo aos poucos. Deixei o chuveiro aberto sem me preocupar com qualquer que fosse o valor do gás no próximo mês. Aos poucos pude sentir o movimento dos meus dedos voltando e sem perceber, eu dormi, sentada no chão, encolhida sob todas as toalhas.
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Insano
Fanfiction🔞 O que fazer quando voce perde completamente o controle da sua vida? Malina perdeu seus pais quando ainda era apenas uma criança em um acidente de carro e vagou por diversos lares adotivos até completar a tão sonhada maioridade. Depois de tanto...