É engraçado pensar que desde que eu tinha acordado no meio de Londres de madrugada, tudo que eu tinha feito era fugir da morte. Todas as vezes em que ela quase tinha me alcançado, eu me via desafiando-a novamente um segundo depois. Mas em todas as vezes em que eu me imaginava sendo capturada de vez, nenhuma delas envolvia esse cenário.Água. Água gelada e escura entrava por todas as frestas do carro, que eram muitas, graças a todos os tiros que tinham nos acertado. Meu primeiro instinto foi tentar acordar Andy e Jackson. Me dei conta tarde demais de que esse esforço seria em vão. O carro estava afundando rápido demais. A água já tinha passado da metade quando eu comecei a esmurrar as portas e janelas na tentativa frustrada de sair.
Meu cérebro rodava e rodava, minha respiração estava pesada demais e a pressão que começava a pressionar minha cabeça era absurda. Sangue tomava a água que enchia o carro e eu não conseguia definir de qual de nós ele vinha. Ainda me restava dez centímetros de ar antes que a água invadisse o carro por completo. Eu não sei quanto tempo de vida isso significava que eu tinha. Minutos? Segundos?
Nada parecia o bastante quando me dei conta de que os corpos de Andy e Jackson flutuavam ao meu lado. Tudo que eu tinha conseguido desde aquele fatídico dia era dor e sofrimento e não era diferente agora.
Cinco centímetros era tudo que me restava agora. A pressão devido a profundidade que o carro estava me deixava ainda mais tonta. Então era isso? Era assim que acabava?
Dois centímetros. Mesmo que eu conseguisse sair daquele carro eu jamais teria folego o suficiente para chegar à superfície!
Fundo demais. Estávamos fundo demais.
Um centímetro de ar era o que eu tinha quando um fio de esperança passou diante dos olhos e eu vi a arma que ainda estava carregada no fundo do carro.
Tomei o folego que me restava e mergulhei para o fundo do carro pegando a arma.
Mirei e atirei, mas nada aconteceu. Uma. Duas. Três. Quatro vezes e nada aconteceu. O desespero já era tudo o que me restava quando um milagroso tiro foi dado e a janela estourou.
Primeiro uma pressão ainda maior me consumiu e então eu estava subindo, lutando contra a dor que consumia meus pulmões, mas eu nadava. Nadava e nadava até que tudo o que me restava era a completa escuridão.
Eu nunca pensei em qual seria a sensação de me afogar, mas quando o ar começa a faltar, você sente como se um punho invisível socasse e apertasse seu peito sem dó, esmagando qualquer esperança de respiração. O pânico surge como um trovão, os membros se agitam em desespero tentando buscar um apoio invisivel, enquanto os pulmões queimam, implorando por oxigênio. A água começa a envolver o seu corpo, gélida e pesada, invadindo cada centímetro, forçando a entrada pelos espaços que você tenta tão desesperadamente manter fechados.
A mente se divide: uma metade implora por sobrevivência e a outra afunda em uma sombra fria e paralisante. O som do mundo lá fora vai se apagando aos poucos até que só reste o silêncio ensurdecedor da água. Os pensamentos se embaralham, imagens de memórias perdidas surgem embaçadas, como se a mente soubesse que este poderia ser o fim e clamasse por qualquer lembrança que trouxesse um pouco de paz. O corpo, exausto, começa a ceder, cada milímetro seu, cada célula ainda viva clama para lutar, mas a força some e escorre como areia entre os dedos.
Então, quando seu corpo e mente não conseguem mais lutar, vem a aceitação, uma calma traiçoeira. A sensação de estar sufocada e a queimação no peito são substituídos por uma estranha leveza, como se o corpo estivesse sendo puxado para longe, para um abraço frio e sereno. Por fim, a imensa escuridão fria e ardilosa do oceano, resta apenas a sensação de se desfazer, como se todo o peso da existência estivesse se esvaindo no esquecimento, e então, não resta mais nada.
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Insano
Fanfiction🔞 O que fazer quando voce perde completamente o controle da sua vida? Malina perdeu seus pais quando ainda era apenas uma criança em um acidente de carro e vagou por diversos lares adotivos até completar a tão sonhada maioridade. Depois de tanto...