CAPÍTULO 68O elevador de serviços era mais lerdo do que o esperado. Chegamos no andar seguinte depois do que pareceu uma eternidade. Ainda não tínhamos nenhuma notícia de Sam ou Andy.
Andamos vagarosamente até chegarmos na porta da sala certa e passamos o crachá apara abri-la, mas como o esperado nada além de um apito e uma luz vermelha apareceram. Nós sabíamos que sem a ajuda de Sam aquela porta jamais abriria.
Jackson tentou mais uma vez abrir a porta recebendo outro apito em troca e o desespero em meus olhos também pois um agente engravatado apareceu e começou a andar em nossa direção.
-Algo errado? – Ele perguntou. N
-Não, só esses crachás, sabe como é... – Jackson tentou mais uma vez recebendo outro apito em troca e o suor começou a brotar em sua testa.
-Tem certeza de que tem autorização necessária para entrarem nessa sala? – O agente perguntou chegando ainda mais perto e como que de reflexo eu intervi.
-A claro, - passei na frente de Jackson tomando o crachá da mão dele e o afastando – deixa eu passar o meu... – Comecei a enrolar enquanto rezava mentalmente para Sam dar o ar da graça nos nossos ouvidos – Eu já cansei de te avisar para tomar mais cuidado com isso! – Eu me dirigia a Jackson esperando que ele entrasse na onda – Você vive deixando isso em qualquer lugar. Deixa cair e pisa em cima o tempo todo, é óbvio que isso não vai funcionar!
Um silencio constrangedor pairou antes de Jackson responder.
-Ah mulher, vê se para de encher meu saco! – Ele puxou o cartão da minha mãe e senti um alívio ao ver que ele tinha entendido o meu jogo – Eu já falei que esse empresa que você arranjou ora gente trabalhar não presta! Eles vivem dando material de baixa qualidade para a gente trabalhar e você ainda quer me culpar!
-Claro que eu culpo, ontem mesmo eu achei esse crachá caído no porta-malas da van, junto com todos os materiais de limpeza! Como você espera que ele funcione todo arranhado desse jeito?
-Ora, pare de besteira! Você sabe que não tem nada a ver com a forma como cuido desse crachá, a culpa é toda dessa empresa mixuruca...
-Por que você não tenta logo o seu? – O agente interveio cruzando os braços – Vamos ver quem tem razão!
-Claro! – Eu disse me virando em direção a porta e pegando o crachá enquanto rezava cinquenta ave-marias ao mesmo tempo – Mas quando essa porta abrir e você ver que tenho razão eu espero no mínimo um pedido de desculpas! – Gritei com Jackson mais uma vez e me virei novamente levando o crachá em direção a porta e pedindo a todas as forças do universo que Sam estivesse pronto para ajudar de onde quer que ele estivesse naquele momento.
Primeiro veio um apito, depois uma luz verde seguida do barulho da porta destravando e o alívio sendo liberado dos meus pulmões.
Me virei para Jackson na mesma hora vendo o alívio que também reluzia em seu olhar.
-Estou esperando o pedido de desculpas! – Esbravejei cruzando os braços mais uma vez.
-Você devia ouvir mais a sua mulher! – Foi o que o agente cantarolou antes de seguir seu caminho.
Jackson e eu entramos na sala fechando a porta atrás de nós e relaxando por um momento enquanto ouvíamos Sam finalmente aparecer em nossos ouvidos.
"Desculpe, tive alguns contratempos aqui"
-Não me diga! – Resmunguei baixo.
"Ok, Andy está a caminho. Tive que fechar toda a programação por um instante pois recebi visitas inesperadas na minha sala, agora estou de volta! Vocês têm dez minutos!"
Assim que Sam saiu da escuta começamos a procurar. Sabíamos que ninguém além de Andy teria acesso aquela sala enquanto estivéssemos ali então não nos preocupamos quando ouvimos o barulho da porta se abrir.
A sala era dividida com três armários com cinco gavetas cada. Cada um de nós, com os números em serie que procurávamos gravados na memória, começamos a procurar pelos documentos. Cada gaveta devia ter pelo menos umas vinte pastas diferentes então começamos a folhear cada uma delas até Andy encontrar a primeira delas e retirar da gaveta.
Não tínhamos muito tempo então ele não se deu ao trabalho de abrir a primeira pasta, apenas passou para mim e continuou procurando. Assim que eu achei a segunda pasta, colei debaixo do braço junto da primeira e segui procurando pela terceira. Dois minutos depois Jackson avisou que tinha encontrado.
Com as três pastas reunidas, ainda nos restavam dois minutos antes que Sam destrancasse a porta nos dando a passagem de saída. Então juntei os três processos e levei até a pequena mesa ao lado da porta e os abri ao mesmo tempo.
O primeiro sentimento que tive foi de pavor ao ver aqueles olhos. Mas depois me veio a confusão, o desespero e a aflição pois eu conhecia todos eles. Não os nomes obviamente. A primeira pasta era de um home chamado Ravier Heelvi, a segunda de uma mulher chamada Monica Muller e a terceira de outro homem chamado Frencis Holevir.
A primeira coisa que reconheci na foto do primeiro homem foram os olhos. Depois o queixo quadrado e então memorias começaram a brotar na minha mente: Uma barra de chocolate, uma xícara de café, um homem de sobretudo andando no centro de Londres, os flocos de neve caindo sobre a minha pele fria e pálida...
-É ele, - as palavras saíam da minha boca como se tivessem vontade própria – é ele! – Eu disse mais uma vez sentindo Jackson se aproximas e segurar meus cotovelos – É ele Jackson!
-Ele quem? – Ele suplicou enquanto via as lágrimas se formarem em meus olhos.
-O homem que eu encontrei no café antes de acordar no centro de Londres naquela noite. O homem que me deu a barra de chocolate drogada que me fez apagar. O home que eu vi na rua quando eu acordei quase congelada! – Eu segurei o a pasta e entreguei para Jackson me virando para encarar os outros dois rostos que estavam nas fotos das outras pastas. Os rostos que eu conhecia tão bem quanto a palma da minha mão. Os rostos que estavam presentes em meus sonhos, meus pesadelos, meus desejos mais profundos e os donos dos choros nas caladas da noite quando adolescente. Rostos que eu achei que jamais veria novamente.
Os rostos dos meus pais.
![](https://img.wattpad.com/cover/76030301-144-k660362.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Insano
Fanfiction🔞 O que fazer quando voce perde completamente o controle da sua vida? Malina perdeu seus pais quando ainda era apenas uma criança em um acidente de carro e vagou por diversos lares adotivos até completar a tão sonhada maioridade. Depois de tanto...