CAPÍTULO 53

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Andy e eu andamos por aproximadamente 50 minutos sem pausa. Andy ia na frente, dando passos largos e apressados, mas sempre tendo a certeza de que eu estava acompanhando. Depois de uma hora de caminhada eu estava suada e com os cabelos bagunçados, mas não paramos. Seguimos em frente até que Andy dissesse que tínhamos atingido a metade do caminho e que teríamos 20 minutos de descanso antes de voltarmos a andar.

Andy verificou para ter a certeza de que estávamos bem e seguros antes de se sentar em um tronco de árvore caído e jogar a cabeça para trás. Peguei uma garrafa d'água e dei longos goles antes de ser interrompida:

-Se eu fosse você não tomaria isso tudo de uma vez...

-Por que não? Eu estou seca...

-Bom, não sei se notou, mas não temos banheiro aqui e ainda temos mais de uma hora de caminhada até chegarmos no nosso destino... - Eu olhei em volta me dando conta do que ele dizia - Então a menos que queira se aliviar no meio das moitas...

-Já entendi, Andy!

-Ah não me entenda mal, eu adoraria assistir essa cena!

-Cala a boca! - Me sentei ao seu lado deixando um sorriso frouxo escapar - Você consegue ser um mala sem alça quando quer, sabia?

-Ah eu sei, mas pelo menos consegui arrancar um projeto do sorriso de você...

-Eu não estou sorrindo, Andy!

-Claro que está, olha só esse sorriso estampado na sua cara - Andy disse me cutucando com o dedo.

Empurrei ele para longe com o ombro e fitei o céu enquanto riamos.

-Posso perguntar uma coisa? - Ele disse e eu concordei com a cabeça- Quando foi que tudo isso começou? Digo, você é Jackson...

-Acho que você vai ter que fazer outra pergunta porque eu não tenho uma resposta para essa... - Bufei - As coisas só aconteceram, não sei explicar. Sempre houve uma tensão entre nós dois, desde quando o conheci... Mas eu o detestava! -Ri seco.

-Não é de se espantar... O cara é um egoísta, egocêntrico... sem contar toda aquela agressividade... - Andy disse em tom irônico - Acho que só fiquei curioso para entender como se envolveu com ele no meio de toda essa confusão...

-Não tenho ideia... Quando vi eu já estava lá, tentando ajudar ele a catar os cacos do passado.

-Não me leve a mal, mas você não acha que já tem cacos o suficiente na sua vida para catar? - Andy me encarou e respirei fundo.

-Tem razão... Vai ver eu sou atraída por esse tipo de cara, sei lá...

-Que tipo?

-Os que precisam ser salvos? - Disse como uma piada, mas Andy não riu.

-Sabe Mel, você também merece ser cuidada... - Andy escolheu bem as palavras e continuou enquanto eu o encarava tentando segurar as lágrimas mais uma vez - Eu sei que você nunca teve muito disso, alguém que cuidasse de você e provavelmente acha que para receber amor e carinho você tem que se doar imensamente e sacrificar partes suas para ser merecedora, mas isso não é verdade... - Desviei o olhar e Andy segurou meu queixo para me olhar nos olhos - Você é merecedora de amor e carinho só por ser quem é, Mel. Não pense que precisa pagar algum tipo de penitência para ter isso!

O silencio se instaurou por um segundo enquanto nos encarávamos. Andy coçou a garganta e se afastou. Desviei o olhar mais uma vez enquanto ele se levantava e estendia a mão para mim.

-Vamos, tá na hora... ainda temos uma longa jornada pela frente!

O resto do caminho foi tranquilo, honestamente passou mais rápido do que eu imaginava. Andy fez piadas boa parte do tempo, o que ajudou muito a me distrair e caminhar mais rápido. Eu não sei como ele conseguiu se guiar no meio daquele monte de mato, mas ele sabia exatamente aonde estava indo.

Demorou mais ou menos uma hora até que parássemos mais uma vez com o aviso de que estávamos quase lá. Àquela altura o sol já tinha se posto dando lugar ao início do anoitecer. Andy tinha explicado que encontraríamos o amigo dele na pista de decolagem, pois era um aeroporto particular e relativamente pequeno, assim, ninguém além do amigo dele ia nos ver.

Assim que chegamos Andy se certificou mais uma vez de que estávamos seguros antes de entrarmos no avião. Ele me apresentou ao seu amigo, Marcos, um homem com sotaque espanhol, com um sorriso enorme e que tinha um bigode grande demais e que fez questão de me mostrar todo o avião me garantindo que teríamos um voo seguro e tranquilo até DC. Vinte minutos se passaram dos momentos em que as apresentações foram feitas até o momento em que decolamos. Marcos tinha separado comida e água para que nós dois pudéssemos reabastecer as energias antes de pousarmos e uma cama tinha sido improvisada juntos da carga nos fundos do avião para nós dois descansarmos.

Trinta minutos após nossa partida Andy já estava capotado e eu não demorei a fazer o mesmo. Tínhamos um longo voo pela frente e algo me dizia que essas seriam as últimas horas de paz que eu teria por um bom tempo...

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