Como aquilo era possível? Eu estava lá, estava naquele carro durante o acidente, eu vi os dois morrendo, bem na minha frente. Então como era possível que ele estivesse ali? Os três estavam amordaçados. Meu pai me olhava com lagrimas agonizantes nos olhos, seu desespero era visível para qualquer um que ousasse encará-lo por mais de um segundo. Tentei não me concentrar no fato de que o homem que eu achei que estava morto todos esses anos, estava agora, sentado a alguns metros de distância de mim.
Eu precisava me concentrar no que mais importava agora: conseguir ajuda e rezar por um milagre para que saíssemos com vida dessa situação de merda em que nos encontrávamos. Ele queira jogar um jogo e eu seria uma oponente a altura!
-Esse jogo não me parece muito justo, Francis... – Fui o mais irônica possível, mas o tremor na minha voz era inegável – Por que eu iria macucar eles em troca de algumas respostas? Eu já as consegui, lembra? Você me deu todas as provas...
-Oh eu imaginei que diria isso, - ele voltou para o centro do altar me lançando um olhar sombrio – acho que deverias saber que aquilo era só uma parte da história... Além disso, eu esqueci de te contar a última regra do jogo... – Francis deu um sorriso torto – Se você decidir não caminhar até mim, todos eles morrem!
Frio. Ele era frio e sombrio. A única emoção que eu conseguia emitir era medo, completo pavor, e eu podia ver ele se deleitando diante disso. Troquei o peso do corpo nos pés me certificando de não dar nenhum passo e respirei fundo.
-Mais uma vez, esse jogo não me parece muito justo... – Engoli em seco tentando não olhar em outra direção que não fosse Francis.
-Mas não é para ser... – Ele deu uma risada de canto de boca, a mais assustadora que eu já vi.
-E o que eu ganho com tudo isso?
-Ora, muitas coisas... Eu disse que tenho uma surpresa para você assim que chegar no altar, certo? Além disso você terá toda a verdade e a alternativa é assistir todos eles morrerem bem na sua frente... – Francis apontou para os três atras dele – Me parece eu você ganha muitas coisas...
-Mas...
-Acho que eu já te dei algumas respostas de graça, querida! – Ele me interrompeu – A partir de agora, se quiser alguma pergunta respondida eu diria para começar a andar... E escolha bem as suas perguntas, acho que você só tem uns dez passos até aqui...
Era obvio que ele sabia quantos passos eu teria até chegar naquele altar, todo esse plano tinha sido arquitetado. Mas quanto tempo ele teria passado planejando tudo isso? Dez passos, era tudo que me separava do meu destino. Dez passos era tudo o que eu tinha para bolar um plano para nos tirar daquela situação... Me parecia impossível. Tudo o que me restava era rezar por um milagre...
O primeiro passo foi dado. Minhas pernas formigavam, minhas mãos suavam frio e o tremor em meu corpo passou para minha voz assim que abri a boca.
-Quanto tempo faz que estamos aqui? – Encarei Francis.
-Dezessete dias.
Fiquei esperando pelo resto, mas não veio. Ele seria assim tão direto nas respostas? Aparentemente sim, pois Francis andou na direção de Jackson e abriu a pequena caixa de madeira que estava na sua frente. Pude ver a expressão de Jackson passar de confusa para furiosa enquanto Francis tirava uma garrafa de whisky e um pequeno copo e servia uma dose para Jack.
Senti meus olhos arderem a pequenas lágrimas se formarem enquanto ele tirava a mordaça de Jackson e apontava para p pequeno copo.
-Beba! – Foi tudo o que ele disse.
Aquele seria um jogo de tortura. Jackson me olhou por dois segundos e pegou o pequeno copo virando de uma vez na boca. Assim que o fez, no entanto, ele tossiu e olhou para Francis que ria.
-O que tem aqui? – Jackson sussurrou e meu estomago se revirou.
-Você não está autorizado a fazer perguntas... – Ele me olhou e eu dei outro passo.
-O que tem na bebida? – Eu disse enquanto segurava a ansiedade e o medo de que me cercavam.
-Heroína. – Ele sorriu.
Cruel. Aquele sorriso estava carregado de crueldade e diversão. Meu estomago se revirou mais uma vez e pude sentir o vômito subir lentamente. Eu sabia o que a mistura de heroína com álcool podia causar, algumas doses e Jackson teria uma overdose.
Francis caminhou até Andy abrindo o estojo de veludo na sua frente e eu pude ver que estava certa, o estojo estava carregado de pequenas ferramentas de tortura. Pude ver o pavor nos olhos de Andy quando Francis pegou um pequeno alicate e segurou sua mão.
-Não! – Minha voz saia embargada e involuntária – Não! Por favor! – Eu suplicava enquanto ele posicionava o alicate e fechava na unha do indicador direito de Andy.
Eu gritava sem ousar me mover enquanto ele puxava lentamente, arrancando a unha de Andy, que grunhia e mordia ainda mais forte a mordaça em sua boca. Aquela tortura durou apenas alguns segundos, mas parecia uma eternidade. Quando ele finalmente puxou a unha por completo eu caí de joelhos segurando a bile e fechando os olhos.
Eu era uma covarde. Não era capaz de encarar Andy, não podia fazer isso. Nenhum pedido de desculpas seria o suficiente para o que eu estava fazendo eles passarem. Mas que outra escolha eu tinha?
Outro passo.
-Como conseguiu pegar a gente?
-Bom, não foi tão difícil... Depois que vocês caíram daquela ponte eu sabia que o FBI teria que acionar os mergulhadores para ir atras do vocês e isso me deu algum tempo de vantagem. - Francis me encarou e eu arqueei uma sobrancelha, ele ainda não tinha respondido a minha pergunta, então esperei – Eu estava preparado para todas as possibilidades, então tinha os equipamentos necessários. Quando vi vocês tomando a direção da ponte eu sabia que a possibilidade de vocês cruzarem ela era mínima, então esperei... E quando vocês caíram eu mergulhei. – Francis, para minha surpresa, caminhou na direção de Jackson e serviu outra dose – O mais engraçado é que eu jurava que você tinha me visto quando começou a tentar atirar na janela...
O tiro não tinha sido meu, afinal. Ele tinha atirado na janela daquele carro, por fim. Ele tinha tirado todos nós de lá. E já estávamos ali há mais de duas semanas. Dezessete dias e ninguém tinha nos encontrado. Dezessete dias. Se alguma parte do FBI ainda estivesse atrás de nós, provavelmente estariam procurando apenas por cadáveres... Ninguém deveria esperar que estivéssemos vivos há aquela altura, não depois de termos caído daquela ponte com a quantidade de tiros que tinham sido disparados em nossa direção por aquele helicóptero.
Ninguém viria para nos salvar.
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Insano
Fanfiction🔞 O que fazer quando voce perde completamente o controle da sua vida? Malina perdeu seus pais quando ainda era apenas uma criança em um acidente de carro e vagou por diversos lares adotivos até completar a tão sonhada maioridade. Depois de tanto...