CAPÍTULO 75

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Abrir a porta de saída foi mais difícil do que eu imaginava. Nenhum preparo mental ou físico seria suficiente para aquele momento, mesmo assim, respirei fundo e dei os últimos três passos antes de abrir a porta. Minha mente ainda rodava tentando entender o que o casamento dos maus pais tinha a ver com tudo aquilo... Eu já tinha entendido que, de alguma forma, meus pais faziam parte daquele esquema. Todos os processos das crianças desaparecidas que Sam tinha encontrado estavam ligados aos meus pais e Francis.

Por que montar todo aquele cenário? Porque me obrigar a me vestir com as roupas da minha mãe e montar uma cerimônia se sabíamos que, no final, eu não sairia viva dali? O que aquela cerimonia significava para ele? Eu não fazia ideia, mas sabia que estava prestes a descobrir, sabia que a verdade estava batendo na minha porta, literalmente, e toda aquela loucura estava prestes a terminar... Mas, diferentemente do que eu imaginava, o que me esperava não era um lindo altar para uma cerimonia de casamento. Não. O que me esperava do lado de fora era uma verdadeira e horripilante cena de terror...

-Ora, Ora... – Foram as palavras que me receberam – Olha quem finalmente resolveu se juntar a nós!

Um corredor de flores me levava até ele¸ mas não qualquer flor. Eram lírios brancos, por toda a parte. As mesmas flores do buquê de casamento da minha mãe.
Ele estava em pé, vestido de um terno cinza claro com uma gravata em tons de azul.

Francis era mais alto do que eu me lembrava. Seus cabelos estavam perfeitamente penteados e alinhados com gel para trás, o que deixava seu rosto quadrado ainda mais marcado. Seus olhos eram escuros, mas não um escuro qualquer. Eram como uma imensa floresta a noite, onde apenas o breu reina e tudo que se consegue ver é a imensidão do nada. Seus lábios não passavam de uma linha reta e as maçãs do rosto eram acentuadas. Francis andava de um lado para o outro impaciente, mas graciosamente, como se cada passo fosse milimetricamente calculado, e vindo dele eu não negaria se alguém levantasse essa teoria.

Francis tinha se mostrado um homem frio e calculista, nada acontecia por acaso, nada acontecia sem que ele quisesse! Ao seu lado, três mesas tinham sido postas. As cadeiras que estavam atras estavam ocupadas com três corpos grandes o suficiente para que eu constatasse ser corpos masculinos. Todos estavam amarrados nas cadeiras e com as mãos algemadas em cima da mesa, mas seus rostos estavam cobertos com sacos pretos.

            Fiz menção de dar meu primeiro passo para fora, eu precisava saber de quem eram aqueles corpos, apesar de já suspeita de dois deles, mas fui impedida pela mesma voz fria que tinha se pronunciado antes.

-Oh não tão rápido, querida! – Ele apontou na minha direção – Vamos jogar um pequeno jogo antes. Tenho certeza de que será bem divertido...

A única coisa de que eu tinha certeza naquele momento era que o conceito de diversão de Francis era bem diferente do meu.

-Tenho certeza de que você tem muitas perguntas, não é mesmo? – Permaneci em silêncio analisando aquele cenário mais uma vez – Porque está tão calada, querida? – Ele continuou em um tom sombriamente irônico – Eu achei que você estava ansiosa para me conhecer...

-A última palavra que eu usaria para descrever meus sentimentos seria "ansiosa"! – Eu respondi finalmente.

-Oh, bom saber que você trouxe o seu senso de humor com você, querida! – Ele deu um passo na minha direção deixando o sorriso de lado – Que tal irmos ao que interessa?

Francis caminhou na direção da primeira mesa me desafiando com o olhar. Cada passo que ele dava na direção da pessoa atras daquela mesa me causava um calafrio na espinha. Na primeira mesa, além da pessoa que estava sentada e encapuzada, tinha uma caixa de madeira retangular grande e uma menor ao lado. Na mesa do meio tinha um estojo de veludo enrolado e eu podia jurar que o que tinha ali dentro era capaz de causar dor, muita dor, e na última mesa, a que ficava à esquerda, tinha um aparelho celular antigo.

-Vamos deixar as regras do jogo claras aqui, Melina! – Francis parou atrás da primeira cadeira, a que o homem mais forte estava sentado – Você precisa vir até este altar, um passo de cada vez, sabe como é, como nas cerimonias de casamento, a cada passo que você der em minha direção eu responderei uma pergunta sua, em troca, um deles terá que pagar um pequeno preço a cada resposta que eu te der... – Francis tirou o saco que cobria o rosto do primeiro homem, revelando Jackson com um olhar espantando de quem estava tentando entender o que estava acontecendo – Não se preocupe, eu não vou fazer você escolher quem irá pagar, pode deixar isso comigo... – Ele andou na direção do segundo homem e tirou o saco, revelando dessa vez Andy que parecia ainda mais confuso que Jackson.

Vivos, eles estavam vivos! Mas como? Os dois tinham sido baleados e tinham ficado naquele carro.

-Quando você chegar ao altar, uma escolha terá que ser feita, no entanto.

-Que escolha? – Minha voz mais parecia um sussurro.

-Bom, digamos que eu tenha uma surpresa paravocê... – Francis andou na direção do terceiro homem e retirou o saco, masdessa vez, nem em meus sonhos mais alucinados eu teria imaginado aquilo pois orosto que se revelou foi o rosto do meu pai.

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