PRÓLOGO
Gosto de observar o céu, ele me traz lembranças quando eu era criança... Parques com balanços de correntes douradas, nadar no Lago Serpentine com meus pais no verão, piqueniques na primavera, aniversários sempre comemorados com viagens para os Estados Unidos... Não posso reclamar muito de minha infância, minha família vivia em boas condições, contudo, me recordo vagamente da ocupação dos meus pais. Nunca conheci nenhum parente, ambos eram filhos únicos com pais já falecidos, logo sem tios, primos ou avós... E foi por esse motivo que vaguei por lares adotivos provisórios dos nove aos dezoito anos de idade, quando completei a tão sonhada maioridade.
Meus pais me deixaram no meu nono aniversario. Estávamos voltando de Jacksonville, Florida, como em todos os anos. O acidente foi na divisa com a Geórgia, estávamos a caminho aeroporto para voltar para Londres quando tudo aconteceu, o clima era pesado, eu via preocupação nos olhos de meu pai, por longos anos imaginei se eles sabiam o que estava por vir...
"And can you feel the love tonight? It is where we are - minha mãe cantava no banco da frente enquanto me encarava pelo retrovisor do carro - It's enough for this wide-eyed wanderer that we've got this far...".
Rei Leão era nosso filme favorito. Perdi a conta de quantas vezes nós assistimos esse filme. Minha mãe sempre cantava essa música para mim antes de eu dormir. Nosso dia perfeito era um dia com chuva e frio, uma boa quantidade de pipoca e nós três grudados no sofá da sala com uma coberta bem quentinha assistindo esse filme. Eu me lembro que ela se virou no carro e me olhou por um instante antes de dizer:
-Estou feliz por termos chegado tão longe!
Consigo me lembrar de vagos detalhes do ocorrido, uma luz de farol absurdamente forte refletindo no pequeno espelho acima do volante, meu pai virando a direção abruptamente enquanto acelerava, o carro capotando em câmera lenta, muitas luzes vermelhas e azuis, eu no avião acompanhada de uma senhora velha o suficiente para não se importar com minhas perguntas sobre onde meus pais estavam. Eu sendo entregue a uma família barulhenta demais em Londres e depois outra, e outra, e mais outra... Aparentemente famílias inglesas não gostam muitos de uma criança com tantas perguntas.
Aos dezoito, atingindo a idade limite para ficar com qualquer família que não tenha se interessado o suficiente para formalizar minha adoção, fui encontrada por um agente do governo que me entregou a escritura da casa que vivia com meus pais, além do restante da minha herança, que incluía uma conta bancária bem gorda, o que foi uma grande surpresa já que todos esses dados ficaram muito bem guardados por longos anos.
Sim, eu também acho isso tudo muito estranho, mas com o passar dos anos eu aprendi a não questionar as coisas boas e apenas aceitá-las. Acredite, quando você passa por lares como os que eu passei você começa a não fazer muitas perguntas, já que pouquíssimas vezes alguém se dá ao trabalho de responder...
Quando completei 21 anos, fechei a casa de meus pais, e com a ajuda do mesmo senhor que me entregou toda minha herança, o qual futuramente descobri ser o gerente do Governor and Company of the Bank of England, Banco Central de Londres, comprei um flat no centro da cidade e entrei para a faculdade de Direito. Nunca tive coragem de vender a casa dos meus pais, frequentava a propriedade regularmente para garantir que estava tudo em seu devido lugar, que nenhum arruaceiro tinha decidido apedrejar a pobre coitada ou que ela virasse abrigo de algum animal de rua... Não que eu tivesse algo contra eles, só me era doloroso demais imaginar qualquer ser vivo naquela propriedade sem a alegria de meus pais junto. Tudo permanecia no mesmo lugar, todos os móveis, todos os objetos pessoais, todas as pequenas lembranças. Tudo onde deveria estar!
Eu segui minha vida como qualquer outro cidadão, atividades físicas regulares, yoga pela manhã no parque mais próximo, com a faculdade concluída aos 26, comecei com pequenos casos, não me dei ao trabalho de procurar nenhuma grande empresa, passei tempo demais da minha vida abaixando minha cabeça a ordens de estranhos por não ter onde morar... Apenas atendia meus clientes com encontros em lugares públicos e reservados, como a minha cafeteria favorita Reddoor, um lugar não muito chique, mas que me proporcionava vários ambientes para cada atendimento.
Tudo caminhava bem para mais uma típica vida adulta normal com todas responsabilidades e inseguranças que acompanham a maioridade, mas é claro que uma infância parcialmente caótica não era o suficiente para mim. Claro...
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Insano
Fanfiction🔞 O que fazer quando voce perde completamente o controle da sua vida? Malina perdeu seus pais quando ainda era apenas uma criança em um acidente de carro e vagou por diversos lares adotivos até completar a tão sonhada maioridade. Depois de tanto...