CAPÍTULO 23

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CAPÍTULO 23

Toda aquela calmaria me parecia estranha. Já faziam três dias que estávamos naquele lugar, três dias que eu e Jackson estávamos dividindo o mesmo teto sem uma única briga. Três dias que não tínhamos nenhuma notícia do laboratório. Três dias, que agora pareciam uma eternidade...

Jackson tinha me avisado que a análise do laboratório estava demorando além do previsto, mas que deveríamos ter alguma notícia logo. Ele tinha me ajudado com alguns exercícios para o meu braço, que agora já não doía tanto e eu conseguia fazer movimentos básicos. A cirurgia tinha cicatrizado surpreendente bem e o curativo necessário era bem menor agora. Depois de toda a adrenalina que eu tinha enfrentado na última semana, esses dias quase me pareciam férias, se não fosse pela minha cabeça que não parava um minuto...

Depois da nossa visita a casa dos meus pais minha mente não parava de girar atrás de respostas para uma única pergunta: afinal, com o que meus pais trabalhavam? Coisas que sempre me foram normais, agora eram questões para mim. Meus pais nunca receberam visitas de amigos ou parentes. Eles nem se quer tinham primos. Nenhuma foto em família ou de familiares. Eles não tinham fotos dos próprios pais... Nunca soube nada sobre meus avós além do fato de que já tinham falecido. Eu mal fui inserida na sociedade. Não tinha nem amigo da minha idade e eles nunca tentaram mudar isso... por algum motivo nós estávamos sempre isolados.

-Consigo ouvir seus pensamentos daqui, Gordon! - Jackson disse se sentando no sofá ao meu lado.

Soltei um sorriso forçado e me acomodei ao seu lado. Nesses três dias que passamos juntos nós tínhamos nos aproximado. Jackson conseguia ter uma conversa leve comigo, sem tocar no assunto dos meus pais ou todo o resto que estava acontecendo comigo. Era quase como se nada daquilo fosse verdade, mas era.

-Por que eu nunca soube com o que eles trabalhavam? Quer dizer, eles eram meus pais, eu tinha nove anos quando eles morreram, eu deveria ter pelo menos uma ideia do que o trabalho deles, certo?

-Você me disse que seus pais nunca receberam visitas em casa, certo?

-Sim.

-Então você nunca recebeu amigos da sua idade em casa, certo?!

-Certo. Só na escola, mas eu não tinha muitos amigos, para ser sincera.

-Então você não tinha com o que comparar, Melina. No orfanato todas as crianças estavam na mesma situação que você, sabiam nada ou praticamente nada sobre os pais....

-Mas eu passei por alguns lares adotivos, como nunca me perguntei sobre isso?

-Eu tenho certeza de que você já estava bem ocupada tentando se encaixar em uma família que não era sua para se preocupar com isso...

-Mas...

-Melina, não é sua culpa! Você era só uma criança. Não tinha que se preocupar com isso além de tudo que já tinha passado...

-Bom, isso não me ajuda agora...

Jackson fez menção em responder, mas seu telefone tocou. Ele avisou que era Andy e levantou para atender enquanto eu ia até a cozinha pegar um copo d'água. Não demorou mais de 2 minutos para Jackson voltar dizendo que Andy tinha finalizado todas as análises no laboratório e que viria naquela tarde para me mostrar todos os resultados.

Contando com o tempo que eu fiquei no hospital e os dias que já estava aqui, fazia quase uma semana que não tínhamos nenhum avanço no caso. Andy tinha prometido novas informações ao telefone, mas deixou claro que não falaria nada por ligação. Queria ter certeza de estaríamos em um lugar seguro para passar as informações. O que me soava bem estranho, já que ele trabalha para polícia. Esse não deveria ser um lugar seguro para passar informações? Jackson pareceu não se incomodar com isso. Ou fingia muito bem. Por um momento cogitei a possibilidade de ele não estar me dizendo toda a verdade.

Depois da ligação com Andy, Jackson parecia bem agitado. Ele andou de um lado para o outro por uns 20 minutos até se sentar no sofá, mas não parava de balançar as pernas. Aquilo já estava me deixando louca. Duas horas depois, Andy tinha passado por todo o sistema de segurança e estava batendo na porta. Jackson, que já tinha tomado três xícaras de café, se levantou em um pulo para abrir.

-Deus, - Andy disse ao encarar Jackson - que tipo de droga você andou usando?

-Pelo amor de Deus, fala logo antes que ele decida tomar outra xícara de café ou eu juro por Deus que eu saio por aquela porta e não volto até toda cafeína evaporar dele! - apelei.

Andy concordou com a cabeça rindo e entrou, fechando a porta atrás de si.

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